sábado, 23 de abril de 2011

Orgulho e Preconceito

Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, VII: 1-2)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Orgulho_e_Preconceito

Jane Austin (1775-1817) foi uma autora inglesa de romances, que teve seu trabalho reconhecido e enaltecido nos quase 200 anos de sua morte. Seu primeiro livro é o também conhecido "Razão e Sensibilidade", publicado em 1811. "Orgulho e Preconceito", publicado em 1813, tinha anteriormente o título "Primeiras Impressões".

Além dos filmes baseados diretamente em "Orgulho e Preconceito", as películas "Mensagem para você" (com Tom Hanks e Meg Ryan) e "Diário de Bridget Jones" (com Renee Zellweger e Colin Firth) são releituras confessas do original.

É inacreditável que Jane Austin, que teve uma vida simples, mas com acesso à leituras e voracidade por elas, pudesse ter tido a inspiração para compreender e "roubar" o título do capítulo derradeiro de "Cecília" (de Fanny Burney) e emplacado o novo título de "Primeiras Impressões" como "Orgulho e Preconceito".

A história de amor entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy realmente correlaciona estes dois defeitos, Orgulho e Preconceito. Um parece o arco e o outro a flecha. Ambos personagens tem os dois defeitos, talvez ele mais orgulhoso e ela mais preconceituosa (como ao longo dos dois séculos sempre foram intepretados).

Porém, estes defeitos andam juntos, um alavanca o outro. O orgulho e preconceito nascem de nossa necessidade de "defendermos" o nosso "eu".

O primeiro vem do reino animal: preciso me proteger do que está fora, preciso cadastrar o perigo que vem de fora para não correr risco de sofrer um ataque qualquer (preconceito).

O segundo, também primitivo: só existe uma razão para minha existência, que eu possa ser amado, admirado ou temido pelos outros, sendo que minha vida esteja baseada nisso e se alguém colocar isso em risco, devo me defender (orgulho).

O orgulho é um sentimento que temos há muitos séculos, há muitas existências. Ele nos leva a situações ruins, não é uma virtude, ou meia virtude, é um defeito inteiro e junto do egoísmo formam as duas raízes de todos os defeitos e males que assolam este planeta. Como já dissemos em post anterior, para o "orgulho positivo", favor procurar uma outra palavra mais apropriada.

Negar o orgulho é negar a quem somos, ao que nos trouxe até aqui. Os defeitos do hoje eram virtudes no ontem. Mas depois que o espírito vive uma fase mais madura, aquilo que era uma força, hoje pode ser substituído por outros sentimentos relacionados a humildade.

Ou seja, no mundo hominal nós podemos nos "defender" e "sobreviver" sem o uso do orgulho, mesmo num planeta ainda complicado como este.

O preconceito é uma das melhores armas que o orgulho têm para se defender do que vem de fora.

Muitas vezes pensamos em nós e ficamos deprimidos. E com isso, buscamos falar e cuidar dos outros para esquecermos de nós mesmos. E fofocar é uma forma de preconceituar.

Podemos viver hoje olhando para nós e nos amando como somos? Sim, sim, sim. Sem nos rebaixarmos ou nos enaltecermos. Vivendo a realidade estamos conosco mesmos, lembrando de nós. Este é o caminho da felicidade.

É claro que num filme que dura 2 horas, ou num livro que lemos em 7 ou 15 dias, é didático entendermos que o orgulho e o preconceito sejam problemáticos para uma vida a dois. Se você senta com um casal em desavença, mas conversando em separado, verá cada qual com uma versão, ambas parciais, ambas com verdades e mentiras, coisas explícita e outras ocultas. Quando erramos, mostramos nossas nobres razões e pedimos o perdão de direito. Quando o outro erra, não quero perdoar.

Elizabeth, assim como Mr. Darcy, buscam se melhorar o tempo todo, durante todo o livro. Eles se gostaram desde o primeiro olhar, desde o primeiro dia. Sentiram medo de sofrer, medo diante dos obstáculos gigantescos que imaginavam existir. Medo de não conseguir superá-los, de se decepcionar, de se amarem menos.

Ela, que no início do livro buscava argumentos para odiá-lo, ouvia as histórias e tomava partido. Depois ouvia seus sentimentos e buscava ver um outro lado bom dele. Logo depois caía na mesma armadilha anterior e se defendia. E assim por diante, ia se aproximando e distanciando. A falta de diálogo era desastrosa. É preferível eu achar algo de alguém do que realmente conhecer quem esta pessoa é. Muitas vezes temos coisas a dizer ao outro, mas por orgulho, esperamos que ele descubra por si só. Darcy teve que escrever uma carta para se explicar, mas que mesmo assim ainda não a satisfaz. Ele precisou auxiliar suas irmãs caçula e mais velha para que ela entendesse os seus sentimentos, para que ela compreendesse quem ele é e do que seria capaz. Ele não pediu nada em troca, fez por amor. Mas fez, por que ela lhe abriu os olhos, que o fez vencer o orgulho.

O maior legado da obra é falar destes dois defeitos, de colocar luz sobre eles. E que esta obra se perpetue para que muitos milhões de corações possam ser despertados para isso.

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