domingo, 24 de abril de 2011

A Ressurreição de Jesus

Só para constar.

Naquela semana havia sido a Páscoa judaica, talvez no terceiro e quarto dias (3a e 4a) ou quarto e quinto dias. Por isso a cidade estava cheia e o sinédrio queriam evitar que Jesus ali pudesse atrair a atenção de todos.

Jesus morre no sexto dia (sexta feira) na hora nona (14-15h). É sepultado no mesmo dia antes do sol se por e começar o shabat (que se iniciava às 18h da sexta e ia até 18h do sábado).

Passa o sábado, que era o dia que os Judeus guardavam para sua espiritualização. Além dos guardas que se postavam junto ao local do sepultamento de Jesus, ninguém ali se aproximou naquele dia.

Na primeira hora (6-7h) da manhã do primeiro dia (que hoje chamamos de Domingo, mas que seria a nossa "primeira feira", por isso alguns calendários iniciam a semana no domingo, o que está corretíssimo), Maria de Magdala vai até o local do sepultamento e vê os guardas no chão, a pedra do túmulo aberta e lá dentro a mesa vazia sem o corpo de Jesus.

Os anjos que ali estavam perguntavam a ela o que ela procurava, se procurava entre os mortos aquele que está vivo... E ela viu Jesus, vivo, que a orienta e ela vai até os outros contar.

Jesus apareceu a ela em espírito. Não foi de carne e osso. Jesus veio nos mostrar com sua própria morte do corpo que a vida segue após o túmulo.

Ele que após ter ensinado uma doutrina totalmente espiritual não poderia ressurgir num corpo de carne e osso.

Seria a vitória do material, o que seria um absurdo. Mas Jesus mostra a todos que eles poderiam matar o corpo, mas que espiritualmente o espírito vence e supera o túmulo.

A ressurreição de Cristo é espiritual. E isso muda o nosso modo de pensar. Muda nossas decisões, pois nós também iremos sobreviver à morte e não adianta ir jogando a nossa vida fora, temos que aproveitá-la. Este é um ensinamento importante, somos imortais. Isso muda tudo em nossa vida, não vamos pensar mais tão materialmente, mas sim em conseguir angariar coisas eternas para a nossa vida futura.

Quem assistiu o filme O Corpo, com Antonio Banderas, sabe bem o que estou dizendo. Uma doutrina baseada na ressurreição física de coloca uma pedra sem firmeza para pisarmos.

Mas e Tomé? Ele e nós também duvidamos. Nossa fé precisa de provas. E queremos colocar as mãos em suas chagas para termos certeza que aquele é o Messias. E isso é possível em materializações vulgares, muito mais seria possível na materialização do espírito do governador planetário.

Como Jesus aparecia mais intensamente aos seus discípulos nos primeiros dias, durante os 40 dias seguintes, este dia recebeu o nome de Domingo, ou dia de (estar com) Deus.

Que na páscoa cristã possamos sempre lembrar que somos imortais, que nossa alma vai seguir e que isso deve ser ensinados ao nossos descendentes.

sábado, 23 de abril de 2011

Orgulho e Preconceito

Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, VII: 1-2)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Orgulho_e_Preconceito

Jane Austin (1775-1817) foi uma autora inglesa de romances, que teve seu trabalho reconhecido e enaltecido nos quase 200 anos de sua morte. Seu primeiro livro é o também conhecido "Razão e Sensibilidade", publicado em 1811. "Orgulho e Preconceito", publicado em 1813, tinha anteriormente o título "Primeiras Impressões".

Além dos filmes baseados diretamente em "Orgulho e Preconceito", as películas "Mensagem para você" (com Tom Hanks e Meg Ryan) e "Diário de Bridget Jones" (com Renee Zellweger e Colin Firth) são releituras confessas do original.

É inacreditável que Jane Austin, que teve uma vida simples, mas com acesso à leituras e voracidade por elas, pudesse ter tido a inspiração para compreender e "roubar" o título do capítulo derradeiro de "Cecília" (de Fanny Burney) e emplacado o novo título de "Primeiras Impressões" como "Orgulho e Preconceito".

A história de amor entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy realmente correlaciona estes dois defeitos, Orgulho e Preconceito. Um parece o arco e o outro a flecha. Ambos personagens tem os dois defeitos, talvez ele mais orgulhoso e ela mais preconceituosa (como ao longo dos dois séculos sempre foram intepretados).

Porém, estes defeitos andam juntos, um alavanca o outro. O orgulho e preconceito nascem de nossa necessidade de "defendermos" o nosso "eu".

O primeiro vem do reino animal: preciso me proteger do que está fora, preciso cadastrar o perigo que vem de fora para não correr risco de sofrer um ataque qualquer (preconceito).

O segundo, também primitivo: só existe uma razão para minha existência, que eu possa ser amado, admirado ou temido pelos outros, sendo que minha vida esteja baseada nisso e se alguém colocar isso em risco, devo me defender (orgulho).

O orgulho é um sentimento que temos há muitos séculos, há muitas existências. Ele nos leva a situações ruins, não é uma virtude, ou meia virtude, é um defeito inteiro e junto do egoísmo formam as duas raízes de todos os defeitos e males que assolam este planeta. Como já dissemos em post anterior, para o "orgulho positivo", favor procurar uma outra palavra mais apropriada.

Negar o orgulho é negar a quem somos, ao que nos trouxe até aqui. Os defeitos do hoje eram virtudes no ontem. Mas depois que o espírito vive uma fase mais madura, aquilo que era uma força, hoje pode ser substituído por outros sentimentos relacionados a humildade.

Ou seja, no mundo hominal nós podemos nos "defender" e "sobreviver" sem o uso do orgulho, mesmo num planeta ainda complicado como este.

O preconceito é uma das melhores armas que o orgulho têm para se defender do que vem de fora.

Muitas vezes pensamos em nós e ficamos deprimidos. E com isso, buscamos falar e cuidar dos outros para esquecermos de nós mesmos. E fofocar é uma forma de preconceituar.

Podemos viver hoje olhando para nós e nos amando como somos? Sim, sim, sim. Sem nos rebaixarmos ou nos enaltecermos. Vivendo a realidade estamos conosco mesmos, lembrando de nós. Este é o caminho da felicidade.

É claro que num filme que dura 2 horas, ou num livro que lemos em 7 ou 15 dias, é didático entendermos que o orgulho e o preconceito sejam problemáticos para uma vida a dois. Se você senta com um casal em desavença, mas conversando em separado, verá cada qual com uma versão, ambas parciais, ambas com verdades e mentiras, coisas explícita e outras ocultas. Quando erramos, mostramos nossas nobres razões e pedimos o perdão de direito. Quando o outro erra, não quero perdoar.

Elizabeth, assim como Mr. Darcy, buscam se melhorar o tempo todo, durante todo o livro. Eles se gostaram desde o primeiro olhar, desde o primeiro dia. Sentiram medo de sofrer, medo diante dos obstáculos gigantescos que imaginavam existir. Medo de não conseguir superá-los, de se decepcionar, de se amarem menos.

Ela, que no início do livro buscava argumentos para odiá-lo, ouvia as histórias e tomava partido. Depois ouvia seus sentimentos e buscava ver um outro lado bom dele. Logo depois caía na mesma armadilha anterior e se defendia. E assim por diante, ia se aproximando e distanciando. A falta de diálogo era desastrosa. É preferível eu achar algo de alguém do que realmente conhecer quem esta pessoa é. Muitas vezes temos coisas a dizer ao outro, mas por orgulho, esperamos que ele descubra por si só. Darcy teve que escrever uma carta para se explicar, mas que mesmo assim ainda não a satisfaz. Ele precisou auxiliar suas irmãs caçula e mais velha para que ela entendesse os seus sentimentos, para que ela compreendesse quem ele é e do que seria capaz. Ele não pediu nada em troca, fez por amor. Mas fez, por que ela lhe abriu os olhos, que o fez vencer o orgulho.

O maior legado da obra é falar destes dois defeitos, de colocar luz sobre eles. E que esta obra se perpetue para que muitos milhões de corações possam ser despertados para isso.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A Mente: o espelho da vida - Emmanuel

A mente é o espelho da vida em toda parte.

Ergue-se na Terra para Deus, sob a égide do Cristo, à feição do diamante bruto, que, arrancado ao ventre obscuro do solo, avança, com a orientação do lapidário, para a magnificência da
luz.

Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas almas humanas surge entre as ilusões que salteiam a inteligência, e revela-se nos Espíritos Aperfeiçoados por brilhante precioso a
retratar a Glória Divina.

Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos achamos entre a animalidade e a angelitude, somos impelidos a interpretá-la como sendo o campo de nossa consciência desperta,
na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.

Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a força do pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar.

Em todos os domínios do Universo vibra, pois, a influência recíproca. Tudo se desloca e renova sob os princípios de interdependência e repercussão. O reflexo esboça a emotividade. A emotividade plasma a idéia.

A idéia determina a atitude e a palavra que comandam as ações.

Em semelhantes manifestações alongam-se os fios geradores das causas de que nascem as circunstâncias, válvulas obliterativas ou alavancas libertadoras da existência.

Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria mente, muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa relativa capacidade de assimilação.

Ninguém permanece fora do movimento de permuta incessante. Respiramos no mundo das imagens que projetamos e recebemos. Por elas, estacionamos sob a fascinação dos elementos que
provisoriamente nos escravizam e, através delas, incorporamos o
influxo renovador dos poderes que nos induzem à purificação e ao
progresso.

O reflexo mental mora no alicerce da vida. Refletem-se as criaturas, reciprocamente, na Criação que reflete os objetivos do Criador.

Vontade
Comparemos a mente humana – espelho vivo da consciência lúcida – a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço.

Aí possuímos o Departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações, acalentando o estimulo ao trabalho; o Departamento da Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da cultura; o Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade; o Departamento da Memória, arquivando as súmulas da experiência, e outros, ainda, que definem os investimentos da alma.

Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade.

A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental.

A Divina Providência concedeu-a por auréola luminosa à razão, depois da laboriosa e multimilenária viagem do ser pelas províncias obscuras do instinto.

Para considerar-lhe a importância, basta lembrar que ela é o leme de todos os tipos de força incorporados ao nosso conhecimento.

A eletricidade é energia dinâmica. O magnetismo é energia estática. O pensamento é força eletromagnética. Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em todas as manifestações da Vida Universal, criando gravitação e afinidade, assimilação e desassimilação, nos campos múltiplos da forma que servem à romagem do espírito para as Metas Supremas,
traçadas pelo Plano Divino.

A Vontade, contudo, é o impacto determinante. Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina. O cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a
capacidade de reflexão que lhe é própria; no entanto, na Vontade temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino.

Sem ela, o Desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação e sofrimento, a Inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a Imaginação pode gerar perigosos
monstros na sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a Natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.

Só a Vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do espírito. Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental, quando se trate da conexão entre os semelhantes, porque a sintonia constitui lei inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que administra, de modo a mantê-los coesos na corrente do bem.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

No ambiente de trabalho II

6. Ter espírito de servir. Lembrar que o maior de todos na terra, lavou os pés de seus discípulos. Devemos sempre estar abertos a colaborar com os companheiros que estão ao nosso lado. Se todos estiverem nesta toada, o grupo é como um barco a remo em que todos remam para o mesmo sentido, unem as forças, se protegem, se amparam.

7. Respeito. Respeitar o trabalho que Deus lhe deu, respeitar os companheiros, os clientes, as determinações. Respeitar a si próprio. Pense no que você diria de si próprio daqui há 20 anos.

8. Paciência e Tolerância. Aceitar como as pessoas são, saber que cada uma tem o seu tempo, pois também temos o nosso tempo.

9. Líder e Liderado. São relações que devem ser cuidadas com muito carinho. Quando estamos nos dois papéis, precisamos respeitar a ambos. Criar um clima de paz, confiança, de poder ouvir e ser ouvido. Todo líder deve cuidar de seus liderados com muito carinho, respeito, amor, cuidados gerais. Deve pensar e criar um clima de crescimento, de evolução da carreira. Se quiser ter boa equipe trabalhando para ti, cuide dela. Eu já perdi boas equipes e fiquei anos sem ter ao menos uma. E pensava: o que eu fiz de errado para perder tudo? E pensando no que fiz, fui mudando minha atitude com os liderados. E o contrário vale também. Podemos nos perguntar o por que de termos um chefe tão cruel ou ruim, mas será que merecemos um chefe melhor? Façamos por merecer, sendo fiéis ao atual e preservando-o de problemas desnecessários.

10. Não falar mal, não pensar mal de ninguém (difícil, né? mas não custa tentarmos todos os dias). Buscar eliminar qualquer tipo de fofoca.

Lendo isso, algumas pessoas podem pensar que eu seja um exemplo, que não sou. As coisas que escrevo aqui valem para mim, são reflexões que eu preciso me fortalecer. Sou como você que está lendo, precisando de água fresca para cruzar este deserto. Um grande abraço.

terça-feira, 12 de abril de 2011

No ambiente de trabalho

1. Buscar pela manhã, antes de seguir para o ambiente de trabalho, ainda em casa (se possível), sentar-se e abrir um livro edificante, ler um pouco e depois fechar os olhos, buscar a sintonia com o plano superior, encher o coração de boas energias, limpar a mente dos maus pensamentos e visualizar o ambiente de trabalho, vibrando amor e paz para todas pessoas que ali estarão, enchendo de luz todos os corações, principalmente daquelas pessoas que muitas vezes não nos damos bem. Vibrar amor por aqueles que trabalham conosco, muitas vezes sob nossa tutela. Todos vêm de casa com seus desafios, que possamos ser pacientes e conscienciosos. Repetir isso todas as manhãs, não negligenciando ou desdenhando da força do Bem, mas ao mesmo tempo não menosprezando a força do mal.

2. Manter a sintonia durante o dia, não se envolvendo emocionalmente com as coisas, confiando em Deus, exercitando a Fé.

3. Poder ajudar as pessoas, sendo Cristão nas pequenas coisas, nas mínimas atitudes. Ouvir o próximo, dar apoio quando algo acontece na vida deles, estar à disposição. Se preparar para ajudar, pois o trabalho de auxílio virá. Fazer isso sem que prejudique sua responsabilidade, mas tenha em mente que sempre é possível ajudar aos outros.

4. Ética e Moral são atributos do Cristão no ambiente de trabalho. E ninguém normalmente critica uma atitude correta, respeitam, mesmo que pensem e ajam diferente. Fica a força do exemplo novamente.

5. Conversar com os mais humildes, faxineiros, vigias, copeiros. Normalmente acordaram bem mais cedo, moram bem mais longe, ganham bem menos, mas vibram um amor às vezes maior que aquele que tem mais condições. Sorria e seja gentil com estes pequeninos todos os dias, estarás sorrindo diretamente a Jesus.

Depois vem mais. Bom trabalho a todos.

domingo, 10 de abril de 2011

Pais e Filhos

"Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar" (Renato Russo em Pais e Filhos).

Histórias fictícias, pois a visão de cada um não reflete a realidade como um todo.

"Um casal que não está totalmente equilibrado resolve adotar uma criança, um menino de poucos meses de nascimento. O pai, com um sério alcoolismo "social", resolve que irá educar o filho com rigidez, pois "assim é que se faz", "de pequeno é que se torce o pepino". O garoto vai crescendo embaixo de críticas e perseguições do pai. Quando está com alguns poucos anos de idade, faz de tudo para atrair a atenção do pai, portanto faz as coisas erradas e fica olhando, aguardando a reação, a bronca, as palmadas. Quando está somente com a mãe, ele é um menino doce, tranqüilo, alegre. Quando está com o pai, é levado, choraminga, chora mesmo, está revoltado. Quando um terceiro dialoga com ele, longe dos pais, lhe passa as coisas com amor, procurando ver o lado da criança, o menino reage bem, sente-se amado e não precisa criar problemas, pois se sente seguro. Os pais estão agora em crise, podem se separar. Como será o dia a dia desta criança? O que pode provocar no futuro deste menino uma imagem de pai como esta?"

"Uma menina, filha de pais separados, tem uma mãe ausente e desatenta e um pai atencioso. Porém a mãe mantém a guarda e recebe a pensão. Desde pequena a garota tem problemas por falta de atenção da mãe, teve todas as dificuldades para falar, para se expressar, para se desenvolver. A mãe culpa a separação, mas os problemas já existiam antes disso ocorrer. A menina inicia uma terapia e melhora, mas logo a mãe interrompe o tratamento. A garota tem problemas sérios de aprendizagem, mas que podem ser superados caso entre numa terapia. E o pai terá que entrar na justiça uma vez mais para tentar resolver este assunto. O que será desta menina e o que ela vai pensar dos pais, o quanto eles lutaram por ela?"

"Um outro casal, que mora com as duas filhas, os quatro dormindo num quarto sem janela, pois vivem humildemente num porão de uma casa. A filha de 5 anos e meio ajuda a mãe a cuidar da irmãzinha recém nascida. Segura no colo, troca a fralda, arruma o quarto. Muita harmonia e luz neste simples lar. As duas meninas crescerão se respeitando e se amando, descobrindo o verdadeiro papel de família e de serem irmãs".

"Um menino 4 anos mais novo que o seu irmão busca ser como ele, não vive sua vida, tenta viver a do irmão, ser como o irmão. Vive com poucos amigos da sua idade, vive revoltado, vai mal na escola etc. A mãe e o pai trabalham muito e os dois vivem com uma empregada e uma babá. Até que a mãe perde o emprego e fica em casa por um ano. Neste período ela cuida muito dos filhos, está presente em todos os pontos, organiza a vida deles, acompanha as lições de casa, dá segurança a ambos. O mais novo se sente bem, seguro, tem agora seus amigos, vai bem na escola, é mais amoroso e calmo".

"Uma mãe que trabalha muito também perde o emprego. Pode ficar mais perto dos filhos e com isso ajuda no desenvolvimento de ambos, tanto na parte psicológica, quanto na saúde. Depois de quase um ano desempregada, os filhos estão bem e se sentem mais amados".

Ter filhos de fato é um processo natural, mas nos dias de hoje no qual as pessoas buscam tomar suas decisões independente dos conceitos e preconceitos sociais. Ou seja, hoje tem filho quem deseja (ou quem não se cuidou).

Ter filhos, naturais ou adotivos, é uma opção, um ato de caridade, pois dá trabalho, é uma baita responsabilidade. O que nossos pais fizeram por nós nesta vida, nos ajudando a aprender e crescer - devemos realizar o mesmo aos nossos filhos, dando amor e paz a eles. Vale uma vida, literalmente.

Muitas vezes pensamos no nosso trabalho profissional, pensamos em nossas vidas, mas quando nos dedicamos a estes pequeninos que Deus nos confiou, a nossa alegria é tamanha, nada mais vai nos dar alegria maior que esta. É assim a Lei de Deus, a Lei do Amor, Lei do Universo.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Caderneta Pessoal e Reforma Íntima

Muito já se disse sobre a Caderneta Pessoal dentro do movimento espírita. E por isso, mesmo os movimentos que não a utilizam, falam dela como se a conhecessem. Mesmo que você participe de um centro que a utilize, encontrará pessoas que ali não a compreendem e não gostem dela.

Quem escreve na caderneta e trabalha ali seus sentimentos, conseguem efetivamente entrar num estado de compreensão de si próprio que, continuamente, vai levá-lo ao auto-conhecimento de si próprio.

Não existe uma só maneira de se fazer a reforma íntima ou de ter auto conhecimento. Como muitos preferem, a reflexão ou meditação são outras vias. Eu diria que não devemos deixar uma pela outra, pois todas elas são complementares e assim como todas tem seus benefícios, vou colocar aqui os da Caderneta Pessoal:

- Escrever e ler faz parte da evolução da sociedade e do nosso crescimento individual. É um salto que demos, coletivamente e individualmente.

- Conhecer os sentimentos que realmente temos em diversas situações traz um estado de compreensão sobre nós que permite ao mesmo tempo nos perdoar, nos tirar da sintonia que muitas vezes entramos e nos dá o entendimento do caminho que devemos percorrer.

- A caderneta é um caderninho com folhas em branco. Não há uma regra para fazê-la, cada um escreverá do seu jeito. Se fosse uma coisa pronta, um formulário, aí sim seria uma formalização, uma normalização. Mas não há forma ou norma. Existem dicas que os Discípulos podem trocar entre si, dentro de suas vivências. São maneiras de se incentivar uns aos outros sobre caminhos que descobriram em suas investidas de reforma íntima.

- Planejar sem escrever é um absurdo. Se reformar sem se planejar é ineficiente, é como viajar sem se saber o caminho, sem mapa, sem contar com os mantimentos necessários... Planejamento, qualquer que seja, requer que tracemos um plano e que regularmente possamos nos avaliar e nos replanejar. É assim que deve ser uma caderneta, um planejamento dinâmico de nossa reforma íntima. Como fazer isso é de cada um, é pessoal.

- Colocar data é uma coisa importante para que se avalie o planejamento, ajuda. É uma dica. Com o tempo se vê que caderneta sem datas não dão ao seu dono a sensação de tempo que é importante em todos os aspéctos desta encarnação, não só na reforma íntima. O tempo é uma referência vital da humanidade.

- Identificar o sentimento que se tem na anotação não é uma regra, mas é a razão de existir a caderneta. Sem conhecermos os sentimentos que estão por trás das atitudes e dos pensamentos e das emoções, não nos reformaremos.

Depois falaremos mais.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A reciclagem dos erros

É importante que saibamos nos situar no momento histórico que vivemos. Mas se ampliarmos mais um pouco a nossa mente e nosso raciocínio, podemos nos situar em nosso momento evolutivo em relação ao momento evolutivo do nosso planeta - nossa aldeia global.

Com isso, é possível se pensar, compreender e entender que não estamos muito abaixo ou muito acima em nossa escala evolutiva. Algumas coisas sabemos e outras pensamos saber. Alguma sabemos que não sabemos e outras nem sabemos que não sabemos.

Mas precisamos viver e entendemos que precisamos saber de tudo. E não precisamos. Mas insistimos e teimamos em nos colocar como quem sabe de tudo. Temos opinião para tudo. Principalmente sobre os outros.

Não estou falando somente da fofoca. Mas pior. Estou falando daquilo que carregamos dentro de nosso coração e que tomamos como verdade. E está longe de ser a verdade. Tomamos como verdade pois achamos que precisamos ser conclusivos sobre muitas coisas, que precisamos ter certeza de muitas coisas, que precisamos ter julgamento sobre tudo. Não precisamos.

Do princípio dos tempos até hoje, saindo do reino animal para o hominal, nós precisamos nos sentir seguros, pois havíamos ganho o livre arbítrio e a consciência, que misturados com o medo provindo do reino anterior, nos gerou a preconceituação sobre quem são os outros.

Nos colocar de mente aberta sem conceituar quem é o outro, mesmo que seja o nosso conjuge (que pensamos que conhecemos) é difícil. É bem mais fácil passar a régua e cadastrar a pessoa dentro de nosso coração da maneira que entendemos. Quem são as pessoas, por conta deste nosso comportamento, é algo que passamos longe de compreender. E jogamos fora diariamente a chance de conhecê-las milímetro a milímetro, pois desejamos julgá-las de quilômetro a quilômetro.

E por isso, todos nós pensamos bobagens dos outros. E vamos morrer com isso. Desde assuntos importantes até banais vão nos acompanhar ao caixão. Os que ficarão aqui mais um pouco do que nós, vítimas de nossos preconceito pensarão: "Chegando lá em cima ele vai ver que não sou assim como ele pensa. Chegando lá, ele vai saber a verdade".

A esperança na justiça divina, pois o reino dos céus não é deste mundo, é correta. Porém, na prática, nem tudo pode ser de imediato. Chegar lá no plano espiritual depois de 80 anos julgando incorretamente a tudo e a todos e de uma só vez cair todas as fichas... é impossível. As coisas precisam de tempo. E nossa mente também se esquece de muitos detalhes. Com o tempo viramos a página, nem pensamos mais naquilo que nos preocupávamos faz 30 anos.

O que muda em nós do lado de lá é a maneira de pensarmos. Como ali temos certeza que não vamos morrer, partimos do pressuposto que não sabemos quem são os outros, pois não sabemos quem somos. E conforme vão nos aparecendo as situações é que vamos nos reciclando daquilo que pensávamos na terra. Podemos acelerar isso, se trabalharmos bastante, se formos disciplinados para tal, estudando, refletindo, orando e nos alinhando com o evangelho.

Nos livros de André Luiz é comum ver este tipo de reencontro e de reflexões sobre quem éramos. Mas muitas vezes nós não somos estimulados e uma parte do que pensamos de errado vai para um fosso que precisa ser queimado pela luz divina. Quando acendemos uma luz em nossa mente, vários pontos se iluminam por tabela. É uma teia de luz que temos em nossa mente. Puxa-se um nós e os outros também se influenciam. E com isso, vamos remodelando o nosso pensamento.

Precisamos ir para o outro lado para cair estas fichas ou podemos realizar estas reciclagens já?

Passo por coisas aqui na terra, por um lado e pelo outro, julgador e julgado. O de julgado dói mais. E vejo que não quero fazer isso com outra pessoa, pois isso não se faz... Mas eu faço. É bom sofrer os espinhos para lembrar sou falível e faço isso com os outros.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O quanto você vale

"Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes!" (Parábola dos Talentos)

"Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado". (S. LUCAS, cap. XII)


Olhando no espelho, escuto:

Já pensou no que o plano espiritual pensa de você?

Já pensou no quanto você vale para eles?

Estar aqui encarnado, tendo feito um curso de formação espiritual, um curso de médiuns etc.

Estar aqui neste vale de lágrimas que está se formando o nosso planeta, tendo um preparo para ajudar o próximo a secar os seus olhos umidos.

Quanto custou aos espíritos este preparo que te deram? Quantas horas, quantos anos, quanta proteção...

Quantas vezes pensou em desistir de tudo por bobagens? Tem noção de como tudo isso aqui te salvou?

Quantos dos amigos do plano espiritual gostariam de estar no seu lugar para ajudar ao próximo? Dariam a "morte" por isso...

Ao seu lado temos casais em desavenças, traições, obsessões, pessoas com depressão, pessoas que desenvolveram câncer por não perdoar. Choro e ranger de dentes.

Quanta sede de orientação quando estamos perdidos.

Tem noção do quanto você pode fazer por eles? Este é um momento único desta humanidade, é a hora da divisão do joio e do trigo. Quantas almas podemos ajudar para que se salvem?

Quantos anjos guardiões estão junto com estes sofredores, verdadeiros sofredores, aconselhando em seus ouvidos que ainda permanecem surdos às boas palavras. Se eles pudessem estar no seu lugar, encarnado, com preparo para falar, eles falariam e trabalhariam arduamente pelo próximo.

Quanto vale a sua presença para este anjo da guarda da pessoa que realmente sofre?

Você sofre, mas é tanto assim? Dá para aguentar, né? Percebe o seu preparo? Entende por que os espíritos ajudam muito as pessoas que freqüentam as escolas de todas as religiões?

Uma pessoa que passa por uma escola é uma pessoa que vale muito para eles, uma pessoa que pode fazer muito. Uma pessoa que faz escola ainda é muito raro, são poucas neste planeta em que o materialismo predomina.

Quanto mais séria é a instituição religiosa, quanto mais dedicação têm as pessoas que ali freqüentam, mais espíritos bondosos estão ali para auxiliar.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Ação, Reação e Conciliação

"Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Mas eu vos digo, que não resistais ao mal. A quem te bater na face direita, apresenta também a outra. A quem quiser fazer demanda contigo para tomar a tua túnica, deixa levar também o manto. E se alguém te forçar a dar mil passos, anda com ele dois mil. A quem quer de ti um empréstimo, não lhe dês as costas. Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem; deste modo vos mostrareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque faz raiar o sol sobre os bons e os maus, e chover sobre os justos e os injustos. Pois, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Acaso os desprezados cobradores de impostos não fazem também assim e, se cumprimentardes somente a vossos irmãos, que fareis de especial? Acaso os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mateus 5:38-48).

"Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário". (Terceira lei de Newton)

Livro dos Espíritos, questão número 4;
Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?
– Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e a vossa razão vos responderá.

Vale sempre esclarecer, para que possamos corretamente refletir, que a Lei de "Ação e Reação" e a Lei de "Causa e Efeito" são leis diferentes, harmonizadas e complementares (como todas as leis divinas), mas regem coisas distintas.

A terceira lei de Newton vale para a matéria, mas nós humanos não somos somente matéria, somos espíritos, criados à semelhança de Deus. Se somente existisse a Lei de Ação e Reação, nós não evoluiríamos, pois seriamos como a matéria, que aguarda uma ação externa para se transformar. A guerra entre Judeus e Palestinos segue bem a Ação e Reação e com isso nós vemos o alongar desta, muitas vezes desafiando a nossa esperança disso tudo se finalizar. Um joga a bombinha para o outro lado do muro e jogam outra de volta num "indo e vindo infinito".

O ser humano tem o poder da conciliação, que interrompe o processo de ação e reação. A Conciliação é a ação espiritual, ação inteligente, sobre as coisas. É através desta terceira parte que nós paramos o processo doloroso de ação e reação sobre nossas vidas e fazemos a diferença. É pela conciliação que o ser humano descobriu como pode atuar para se superar, para evoluir, para conseguir reorganizar as suas coisas e colocar a sua inteligência a seu serviço, aos seus propósitos.

Nós devemos atuar sobre o material e dominá-lo, não o contrário. Não podemos ser escravos da matéria, mas seus artesãos.

A democracia, já foi dito, não é o último degrau de nossa evolução social. Hoje já existe a conciliação, que procura atender às minorias, atender a todos. Só o voto das maiorias não atende a justiça divina, devemos olhar o nosso próximo com mais amor de dar-lhes direito de ser como são. Um exemplo disso é que, agora em vários países, a liberdade religiosa é permitida e respeitada.

O cuidado com as nossas ações é imprescindível pois sempre iremos sofrer suas reações. Que saibamos entender que podemos agir diferente a cada vez, melhorando nossas atitudes, pensamentos e sentimentos.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Mão no Remo (Mete a Vela)

"Nesta vida, nesta vida cada qual tem um barco em que navega.
E o azar é natural, nem há nada mais fatal, e a justiça é cega.
Mas se os ventos sopram contra, ou se vem a tempestade
Nunca mais o barco encontra o porto da felicidade

Mão no remo, mão no remo, com toda a coragem
Pra levar vantagem no mar desta vida
Pois se queres ser feliz no amor, tens que remar com vigor

Mete a vela, mete a vela
Quando for a hora, irei no mar afora, em busca da sorte
Aproveitando a maré a favor, terás pra sempre valor" (Noel Rosa, Mão no Remo)


"Mão no Remo" é uma das mais sublimes poesias de Noel Rosa sobre o amor. É quase uma obra póstuma, quase uma obra como espírito.

A expressão mão no remo reflete sobre o verdadeiro significado do amor: esforço, suor, constância, energia que colocamos. Normalmente remamos de costas para onde estamos indo, não sabemos de nosso futuro, mas seguimos um planejamento prévio.

Mete a vela, a segunda parte da música, reflete que devemos usar os sopros dos ventos da vida para nos impulsionar. Ou seja, quando o vento sopra a favor, melhor usar a vela do que somente persistir no remo.

Para Noel Rosa, viver e amar é saber usar o remo e a vela ao mesmo tempo, às vezes só um, às vezes outro.

Ontem coloquei as mãos nos remos e remei. Só que os ventos estavam à favor. Meti a vela e o barco fluiu como nunca. Dei a minha primeira preleção desde março de 2004 com imensa alegria no coração. Depois nos passes, tudo correu bem. E na vida plena, surge a causa dos bons ventos: a reconciliação.

Reconciliação, nome feminino (Do lat. reconciliatióne).
Restabelecimento das relações entre pessoas que andavam desavindas

Lutei muito pela reconciliação, muitas vezes lutei errado e aprendi algumas coisas:
- Precisava respeitar o tempo do meu próximo.
- Necessitava de um tempo para que eu pudesse refletir nos meus erros, conhecê-los e reconhecê-los.
- Buscar a sintonia com o meu mentor ao invés de discussões mentais comezinhas.
- Refleti sobre qual é o verdadeiro valor desta amizade.
- Aprendi muitas coisas sobre meus sentimentos (vale um post só sobre isso), alguns eram ruins de arrepiar, outros eram de dor, de falta, de perda. Turbilhão. Tive até dores reais em meu coração, achei que iria enfartar (o que preocupou todo mundo). Doía de verdade e aliviava quando eu colocava a mão direita sobre ele.
- Tive que aprender a me respeitar, respeitar o meu limite, lutar pelo que eu desejava, me colocar, pensar pela minha própria cabeça, não me preocupar com o que os outros pesam, ser mais autêntico. Colocar a minha vontade também. Respeitar quem eu sou.
- Me colocar no lugar do próximo.
- Vibrar amor pelo próximo, perdoar, superar, esquecer o passado, virar a página, aceitação da perda.
- Não precisamos rebaixar para decidir: não é por que tomamos uma decisão entre a e b, que a outra alternativa era ruim. Ao contrário, era tão boa quanto a escolhida. Foi bom reconhecer isso para entender o porque de ter sido tão doloroso.
- Reconhecimento do valor do meu próximo, que provocou a onda de admiração e respeito.

Bacana, né? Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e depois apresenta a tua oferta! (Jesus)

Imagina sair desta tempestade espiritual e ontem navegar com vento a favor, em céu estrelado, sendo que com a benção do brilho de uma estrela, que me indica (e impulsiona) o rumo de minha barca. Mão no remo, mete a vela...

terça-feira, 22 de março de 2011

Lei de justiça, amor e caridade - O Livro dos Espíritos

Justiça e direitos naturais

873 O sentimento de justiça é natural ou é resultado de idéias adquiridas?

– É tão natural que vos revoltais com o pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve, sem dúvida, esse sentimento, mas não o dá: Deus o colocou no coração do homem; por isso encontrareis, muitas vezes, nos homens simples e primitivos noções mais exatas de justiça do que naqueles que têm muito conhecimento.

874 Se a justiça é uma lei natural, por que os homens a entendem de maneiras diferentes, e que um considere justo o que parece injusto a outro?

– É que à Lei se misturam freqüentemente paixões que alteram esse sentimento, como acontece com a maior parte dos outros sentimentos naturais, e fazem o homem ver as coisas sob um falso ponto de vista.

875 Como se pode definir a justiça?

– A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.

875 a O que determina esses direitos?

– São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e caráter, essas leis estabeleceram direitos que variaram com o progresso dos conhecimentos. Observai que as vossas leis atuais, sem serem perfeitas, já não consagram os mesmos direitos da Idade Média. No entanto, esses direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito estabelecido pelos homens nem sempre, portanto, está de acordo com a justiça. Regula apenas algumas relações sociais, enquanto, na vida particular, há uma imensidão de atos unicamente inerentes à consciência de cada um.

876 Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da justiça fundada sobre a lei natural?

– O Cristo disse: “Não façais aos outros o que não quereis que vos façam”. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça pelo desejo que cada um tem de ver respeitados os seus direitos.

Na incerteza do que fazer em relação ao semelhante numa determinada circunstância, o homem deve perguntar-se como desejaria que se fizesse com ele na mesma circunstância: Deus não poderia lhe dar um guia mais seguro do que a própria consciência.

☼ O critério da verdadeira justiça é, de fato, desejar aos outros o que se deseja para si mesmo, e não desejar para si o que se desejaria para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural desejar o mal para si, se tomarmos o desejo pessoal como norma e ponto de partida, estaremos sempre certos de apenas desejar o bem para o próximo. Em todos os tempos e todas as crenças, o homem tem sempre procurado fazer prevalecer seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.

877 A necessidade para o homem de viver em sociedade lhe impõe obrigações particulares?

– Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos sempre será justo. Em vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei da justiça, cada um usa de represálias, e isso gera perturbação e confusão em vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

878 Podendo o homem se enganar sobre a extensão de seu direito, quem pode fazê-lo conhecer esse limite?

– O limite do direito será sempre o de dar aos seus semelhantes o mesmo que quer para si, em circunstâncias iguais e reciprocamente.

878 a Mas se cada um conceder a si mesmo os direitos de seu semelhante, em que se torna a subordinação em relação aos superiores? Não causará a anarquia de todos os poderes?

– Os direitos naturais são os mesmos para todos, desde o menor até o maior; Deus não fez uns mais puros que outros, e todos são iguais diante d’Ele. Esses direitos são eternos. Porém, os direitos que o homem estabeleceu desaparecem com suas instituições. Cada um percebe bem sua força ou fraqueza e saberá sempre ter uma certa consideração com aquele que a mereça por sua virtude e sabedoria. É importante destacar isso, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres e mereçam essa consideração. A subordinação não será comprometida quando a autoridade for exercida com sabedoria.

879 Qual deve ser o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

– Do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.

Direito de propriedade. Roubo

880 Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?

– O de viver. Ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante nem fazer o que possa comprometer sua existência física.

881 O direito de viver dá ao homem o direito de juntar o necessário para viver e repousar, quando não puder mais trabalhar?

– Sim, mas deve fazê-lo socialmente, como a abelha, por um trabalho honesto, e não juntar como um egoísta. Até mesmo certos animais lhe dão o exemplo do que é previdência.

882 O homem tem o direito de defender o que juntou pelo seu trabalho?

– A lei de Deus diz: “Não roubarás”; e Jesus: “É preciso dar a César o que é de César”.

☼ O que o homem junta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima que tem o direito de defender, porque a propriedade que é fruto do trabalho e um direito natural tão sagrado quanto o de trabalhar e viver.

883 O desejo de possuir é natural?

– Sim, mas quando é apenas para si e para satisfação pessoal é egoísmo.

883 a Será legítimo o desejo de possuir, para não se tornar peso para ninguém?

– Existem homens insaciáveis que acumulam bens sem proveito para ninguém, só para satisfazer as paixões. Acreditais que isso seja bem visto por Deus? Aquele que, ao contrário, junta por seu trabalho para ajudar seus semelhantes pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus.

884 O que é uma propriedade legítima?

– Só é propriedade legítima a que foi adquirida sem prejudicar ninguém. (Veja a questão 808.)

☼ A lei de amor e de justiça, ao ensinar que devemos fazer aos outros o que quereríamos que nos fizessem, condena, por isso mesmo, todo meio de ganho contrário a essa lei.

885 O direito de propriedade é ilimitado?

– Sem dúvida, tudo o que é adquirido de forma legítima é uma propriedade. Porém, como dissemos, a legislação dos homens, sendo imperfeita, consagra freqüentemente direitos que a justiça natural reprova. É por essa razão que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e compreendem melhor a justiça. O que parece perfeito num século é bárbaro no seguinte. (Veja a questão 795.)

Caridade e amor ao próximo

886 Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus?

– Benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.

☼ O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos que nos fosse feito. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como irmãos”.

A caridade, para Jesus, não se limita à esmola. Ela abrange todas as relações com nossos semelhantes, sejam inferiores, iguais ou superiores. Ensina a indulgência, porque temos necessidade dela, e não nos permite humilhar os outros, ao contrário do que muitas vezes se faz. Se uma pessoa rica nos procura, temos por ela mil atenções, mil amabilidades; se é pobre, parece não haver necessidade de nos incomodar. Porém, quanto mais lastimável sua posição, mais se deve respeitar, sem nunca aumentar sua infelicidade pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.

887 Jesus também disse: “Amai até mesmo os inimigos”. Porém, o amor aos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais? A inimizade não provém da falta de simpatia entre os Espíritos?

– Sem dúvida, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado; não foi o que Jesus quis dizer. Amar aos inimigos é perdoar e pagar o mal com o bem. Agindo assim nos tornamos superiores a eles; pela vingança, nos colocamos abaixo deles.

888 O que pensar da esmola?

– O homem reduzido a pedir esmola se degrada moral e fisicamente: ele se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco sem humilhação e garantir a existência daqueles que não podem trabalhar sem deixar sua vida sujeita ao acaso e à boa vontade.

888 a Vós reprovais a esmola?

– Não; não é a esmola que é reprovável, é muitas vezes a maneira como é dada. O homem de bem que compreende a caridade, como Jesus, vai até o infeliz sem esperar que ele estenda a mão.

A verdadeira caridade é sempre boa e benevolente, tanto no ato quanto na forma. Um serviço que nos é oferecido com delicadeza tem seu valor aumentado; mas se é feito com ostentação, a necessidade pode fazer com que seja aceito, porém o coração não se sente tocado.

Lembrai-vos também que a ostentação tira, aos olhos de Deus, o mérito do benefício. Jesus ensinou: “Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita”, ensinando a não ofuscar a caridade com o orgulho.

É preciso distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado nem sempre é aquele que pede; o temor da humilhação tolhe o verdadeiro pobre, que sofre sem se lamentar; é a esse que o homem verdadeiramente humano deve procurar sem ostentação.

Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei. Lei divina pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

Nunca vos esqueçais de que o Espírito, seja qual for seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou no mundo espiritual, está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior diante do qual tem esses mesmos deveres a cumprir.

Sede caridosos, praticando não apenas a caridade que tira do bolso a esmola que dais friamente àquele que ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos de vossos semelhantes. Em vez de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede doces e benevolentes para todos que são inferiores; sede doces e benevolentes mesmo em relação aos seres mais insignificantes da criação e tereis obedecido à lei de Deus.

São Vicente de Paulo

889 Não existem homens reduzidos a mendigos por sua própria culpa?

– Sem dúvida; mas se uma boa educação moral lhes ensinasse a praticar a lei de Deus, não cairiam nos excessos que causam sua perdição; é daí, especialmente, que depende o melhoramento de vosso globo. (Veja a questão 707.)

Amor maternal e filial

890 O amor materno é uma virtude ou um sentimento instintivo comum aos humanos e animais?

– Tanto um quanto outro. A natureza deu à mãe o amor pelos filhos no interesse de sua conservação; mas no animal esse amor está limitado às necessidades materiais e termina quando os cuidados tornam-se inúteis. No homem, ele persiste por toda a vida e comporta um devotamento e um desinteresse que são virtudes. Sobrevive até mesmo à morte e prossegue no mundo espiritual. Observai bem que há nele outra coisa a mais que no animal. (Veja as questões 205 e 385.)

891 Uma vez que o amor materno está na natureza, por que há mães que odeiam seus filhos desde o nascimento?

– É algumas vezes uma prova escolhida pelo Espírito da criança, ou uma expiação, se ele mesmo foi um mau pai, mãe ou um mau filho em uma outra existência. (Veja a questão 392.) Em todos os casos, a mãe ruim só pode ser animada por um mau Espírito que se empenha em dificultar a existência do filho para que ele fracasse nas provas que aceitou. Mas essa violação das leis da natureza não ficará impune e o Espírito da criança será recompensado pelos obstáculos que tenha superado.

892 Quando os pais têm filhos que causam desgostos, não são perdoáveis por não terem a mesma ternura que teriam em caso contrário?

– Não, porque é um encargo a eles confiado e é sua missão fazer todos os esforços para reconduzi-los ao bem (Veja as questões 582 e 583). Além disso, esses desgostos são freqüentemente o resultado dos maus costumes que foram dados desde o berço: eles então colhem o que semearam.

Lei de Liberdade - O Livro dos Espíritos

Liberdade natural

825 Há posições no mundo em que o homem pode se vangloriar de desfrutar de liberdade absoluta?

– Não, porque todos necessitam uns dos outros, tanto os pequenos quanto os grandes.

826 Em que condição o homem poderia desfrutar de liberdade absoluta?

– Na de eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há direitos a respeitar e nenhum deles tem mais liberdade absoluta.

827 A obrigação de respeitar os direitos dos outros tira do homem o direito de ser senhor de si?

– De jeito nenhum, porque esse é um direito que a natureza lhe concede.

828 Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com a tirania que, muitas vezes, eles mesmos praticam no lar e com os seus subordinados?

– Eles têm da lei natural só a compreensão, porém contrabalançada pelo orgulho e egoísmo. Quando esses princípios não são uma comédia calculadamente representada, o homem tem a perfeita noção de como deveria agir, mas não o faz.

828 a Como serão considerados na vida espiritual os que procederam assim neste mundo?

– Quanto mais inteligência tenha um homem para compreender um princípio, menos é desculpável por não aplicá-lo a si mesmo. Eu vos digo, em verdade, que o homem simples, mas sincero, está mais avançado no caminho de Deus do que aquele que quer parecer o que não é.

Escravidão

829 Há homens que são, por natureza, destinados a ser propriedades de outros homens?

– Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como desaparecerão pouco a pouco todos os abusos.

☼ A lei humana que consagra a escravidão é contra a natureza, uma vez que iguala o homem ao irracional e o degrada moral e fisicamente.

830 Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, os que dela se aproveitam são condenáveis, por agirem seguindo um procedimento que parece natural?

– O mal é sempre o mal e todos os sofismas não farão com que uma má ação se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios de que se dispõe para compreendê-la. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre culpado da violação da lei natural; mas, nisso, como em todas as coisas, a culpa é relativa. A escravidão, tendo se firmado nos costumes de alguns povos, tornou possível ao homem aproveitar-se dela de boa-fé, como de uma coisa que parecia natural; mas a partir do momento que sua razão se mostrou mais desenvolvida e, acima de tudo, esclarecida pelas luzes do Cristianismo, demonstrando que o escravo é um ser igual diante de Deus, não há mais desculpa que justifique a escravidão.

831 A desigualdade natural das aptidões não coloca algumas raças humanas sob a dependência de outras mais inteligentes?

– Sim, mas para erguê-las e não para embrutecê-las ainda mais pela escravidão. Os homens têm considerado durante muito tempo algumas raças humanas como animais de braços e mãos e se julgaram no direito de vendê-los como animais de carga. Eles acreditam possuir um sangue mais puro, insensatos que vêem apenas a matéria! Não é o sangue que é mais ou menos puro, mas o Espírito. (Veja as questões 361 e 803.)

832 Há homens que tratam seus escravos com humanidade, que não lhes deixam faltar nada e pensam que a liberdade até os exporia a piores privações; o que dizeis deles?

– Digo que esses cuidam melhor de seus interesses. Têm também muito cuidado com seus bois e cavalos, para tirar mais proveito deles no mercado. Não são tão culpados quanto os que os maltratam, mas dispõem deles como de uma mercadoria ao impedir o direito de serem livres.

Liberdade de pensar

833 Há no homem alguma coisa livre de qualquer constrangimento e da qual desfruta de uma liberdade absoluta?

– É pelo pensamento que o homem desfruta de uma liberdade sem limites, porque o pensamento desconhece obstáculos. Pode-se deter seu vôo, mas não aniquilá-lo.

834 O homem é responsável por seu pensamento?

– É responsável diante de Deus; somente Deus, podendo conhecê-lo, o condena ou o absolve segundo Sua justiça.

Liberdade de consciência

835 A liberdade de consciência é uma conseqüência da de pensar?

– A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.

836 O homem tem direito de colocar obstáculos à liberdade de consciência?

– Não, nem à liberdade de pensar. Pertence apenas a Deus o direito de julgar a consciência. Se os homens regulam por suas leis as relações de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações do homem com Deus.

837 Qual o resultado dos obstáculos postos à liberdade de consciência?

– Constranger os homens a agir de modo diferente do que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso.

838 Toda crença é respeitável mesmo que seja notoriamente falsa?

– Toda crença é respeitável quando é sincera e conduz à prática do bem. As crenças condenáveis são as que conduzem ao mal.

839 É repreensível escandalizar na sua crença aquele que não pensa como nós?

– É falta de caridade e ofende a liberdade de pensamento.

840 Será atentar contra a liberdade de consciência impor restrições às crenças que provocam problemas à sociedade?

– Podem-se reprimir os atos, mas a crença íntima é inacessível.

☼ Reprimir os atos exteriores de uma crença quando ela ocasiona um prejuízo qualquer aos outros não é atentar contra a liberdade de consciência, porque a repressão não impede a pessoa de manter a crença.

841 Deve-se, em respeito à liberdade de consciência, deixar que se propaguem doutrinas nocivas e pode-se, sem prejudicar essa liberdade, procurar trazer de volta ao caminho da verdade aqueles que se perderam ao admitir falsos princípios?

– Certamente que sim; e até mesmo se deve. Mas ensinai a exemplo de Jesus, pela doçura e persuasão, e não pela força, o que seria pior que a crença daquele a quem se quer convencer. Se há algo que seja permitido impor é o bem e a fraternidade. Mas não acreditamos que o meio de levá-los a admitir seja agindo com violência: a convicção não se impõe.

842 Todas as doutrinas têm a pretensão de ser a única expressão da verdade; como se pode reconhecer a que tem o direito de se posicionar assim?

– Será aquela que faz mais homens de bem e menos hipócritas, ou seja, pela prática da lei de amor e de caridade em sua maior pureza e sua aplicação mais abrangente. A esse sinal reconheceis que uma doutrina é boa, já que toda doutrina que semear a desunião e estabelecer uma demarcação entre os filhos de Deus só pode ser falsa e nociva.

Livre-arbítrio

843 O homem tem sempre o livre-arbítrio?

– Uma vez que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem seria como uma máquina.

844 O homem desfruta de seu livre-arbítrio desde seu nascimento?

– Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; ela vai evoluindo e seus objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.

845 As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?

– As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação; conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Veja a questão 361.)

846 O organismo tem influência sobre os atos da vida? E se tem, ela não acaba anulando o livre-arbítrio?

– O Espírito está certamente influenciado pela matéria que o pode entravar em suas manifestações; eis por que, nos mundos onde os corpos são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade. Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o transmite, e não seus órgãos. Aquele que canaliza o pensamento para a vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez que age assim por sua vontade. (Veja a questão 367 e segs. – “Influência do organismo”.)

847 A anormalidade das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?

– Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental, como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência. Está aí a ação da matéria. (Veja a questão 371 e seguintes)

848 Os desatinos das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez é desculpa para atos condenáveis?

– Não, porque o bêbado voluntariamente se privou de sua razão para satisfazer paixões brutais; em vez de uma falta, comete duas.

849 No homem primitivo, a faculdade dominante é o instinto ou o livre-arbítrio?

– É o instinto, o que não o impede de agir com total liberdade em certas circunstâncias; como a criança, ele aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Porém, como vós, sois mais esclarecidos do que um selvagem e também mais responsáveis pelo que fazeis.

850 A posição social não é, algumas vezes, um obstáculo à total liberdade dos atos?

– O mundo tem, sem dúvida, suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade do pouco esforço que fazeis para superar os obstáculos.

Fatalidade

851 Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio?

– A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.

852 Há pessoas que parecem ser perseguidas por uma fatalidade, independentemente de seu modo de agir; a infelicidade não é um destino?

– São, talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas definitivamente não deveis acusar o destino pelo que, freqüentemente, é apenas a conseqüência de vossas próprias faltas. Nos males que vos afligem, esforçais-vos para que vossa consciência esteja pura, e já vos sentireis bastante consolados.

☼ As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar de acordo com nosso caráter e posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir nossos fracassos à sorte ou ao destino, e não à nossa própria falta. Se a influência dos Espíritos contribui para isso algumas vezes, podemos sempre nos defender dessa influência afastando as idéias que nos sugerem, quando são más.

853 Algumas pessoas mal escapam de um perigo mortal para logo cair em outro; parece que não teriam como escapar à morte. Não há fatalidade nisso?

– A fatalidade só existe, no verdadeiro sentido da palavra, apenas no instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, não o podeis evitar.

853 a Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a hora não é chegada?

– Não, não morrereis, e sobre isso há milhares de exemplos; mas quando a hora chegar, nada poderá impedir. Deus sabe por antecipação qual o gênero de morte que terás na Terra e, muitas vezes, vosso Espírito também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.

854 Por causa da inevitável hora da morte, as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?

– Não. As precauções que tomais são sugeridas para evitar a morte que vos ameaça, são meios para que ela não ocorra.

855 Qual é o objetivo da Providência ao nos fazer correr dos perigos que não têm conseqüências?

– Quando vossa vida é colocada em perigo, é uma advertência que vós mesmo desejastes, a fim de vos desviardes do mal e vos tornardes melhor. Quando escapais desse perigo, ainda sob a influência do risco que passastes, refletis seriamente, conforme a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos sobre vós para vos melhorardes. O mau Espírito, voltando a tentação (digo mau subentendendo o mal que ainda existe nele), pensa que escapará do mesmo modo a outros perigos e novamente deixa se dominar pelas paixões. Pelos perigos que correis, Deus vos lembra de vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinardes a causa e a natureza do perigo, vereis que, muitas vezes, as conseqüências são a punição de uma falta cometida ou de um dever não cumprido. Deus vos adverte assim para vos recolherdes em vós mesmos e vos corrigirdes. (Veja as questões 526 e 532.)

856 O Espírito sabe por antecipação como desencarnará?

– Sabe que o gênero de vida escolhido o expõe a desencarnar mais de uma maneira do que de outra. Sabe igualmente quais as lutas que terá de enfrentar para evitá-la e, se Deus o permitir, não fracassará.

857 Há homens que enfrentam os perigos dos combates com a convicção de que sua hora não chegou; há algum fundamento nessa confiança?

– Freqüentemente, o homem tem o pressentimento de seu fim, como pode ter o de que não morrerá ainda. Esse pressentimento vem por meio dos seus protetores, que querem adverti-lo para estar pronto para partir, ou estimulam sua coragem nos momentos em que é mais necessária. Pode vir ainda pela intuição que tem da existência escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir. (Veja as questões 411 e 522.)

858 Por que os que pressentem a morte a temem menos que os outros?

– É o homem que teme a morte e não o Espírito; aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: ele a compreende como sua libertação e a espera.

859 Se a morte não pode ser evitada, ocorre o mesmo com todos os acidentes que nos atingem no decorrer da vida?

– Freqüentemente esses acidentes são pequenas coisas para as quais podemos vos prevenir e, algumas vezes, fazer com que as eviteis, dirigindo vosso pensamento, porque não gostamos de vos ver sofrer; mas isso é de pouca importância para a vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente, consiste apenas na hora em que deveis nascer e morrer.

859 a Há fatos que, forçosamente, devam acontecer e que a vontade dos Espíritos não podem afastar?

– Sim, mas vós, antes de encarnar, vistes e pressentistes quando fizestes vossa escolha. Entretanto, não acrediteis que tudo o que acontece está escrito, como se diz. Um acontecimento é, muitas vezes, a conseqüência de um ato que praticastes por livre vontade, caso contrário o acontecimento não teria ocorrido. Se queimais o dedo, é conseqüência de vossa imprudência e ação sobre a matéria. Apenas as grandes dores, os acontecimentos importantes que podem influir na evolução moral, são previstos por Deus, já que são úteis para a vossa depuração e instrução.

860 O homem, por sua vontade e ações, pode fazer com que os acontecimentos que deveriam ocorrer não ocorram, e vice-versa?

– Pode, desde que esse desvio aparente caiba na ordem geral da vida que escolheu. Depois, para fazer o bem, como é seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, especialmente aquele que poderia contribuir para um mal maior.

861 O homem que comete um homicídio sabe, ao escolher sua existência, que se tornará um assassino?

– Não. Sabe que, escolhendo uma determinada espécie de vida,poderá ter a possibilidade de matar um de seus semelhantes, mas não sabe se o fará porque há nele, quase sempre, uma decisão antes de cometer qualquer ação; portanto, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre para fazê-la ou não. Se o Espírito soubesse antecipadamente que, como homem, deveria cometer um assassinato, é porque isso estava predestinado. Sabei que ninguém foi predestinado ao crime e todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre-arbítrio.

Além disso, confundis sempre duas coisas bem distintas: os acontecimentos materiais da vida e os atos da vida moral. Se algumas vezes existe fatalidade, é nos acontecimentos materiais cuja causa está fora de vós e são independentes de vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem, que sempre tem, conseqüentemente, a liberdade de escolha. Para esses atos, nunca existe fatalidade.

862 Existem pessoas para as quais nada sai bem e que um mau gênio parece perseguir em todas as suas ações; não está aí o que podemos chamar de fatalidade?

– É uma fatalidade, se quiserdes chamar assim, mas é decorrente da escolha que essa pessoa fez para a presente existência, porque há pessoas que quiseram ser provadas por uma vida de decepção, para exercitar sua paciência e sua resignação. Não acrediteis, entretanto, que essa fatalidade seja absoluta; muitas vezes é o resultado do falso caminho que tomaram e que nada têm a ver com sua inteligência e suas aptidões. Aquele que deseja atravessar um rio a nado sem saber nadar tem grande probabilidade de se afogar; assim é com a maioria dos acontecimentos da vida. Se o homem somente empreendesse coisas compatíveis e de acordo com suas capacidades, quase sempre teria êxito. O que faz com que se perca é seu amor-próprio e sua ambição, que o fazem sair de seu caminho e o induzem a considerar como vocação o desejo de satisfazer certas paixões. Ele fracassa e é por sua culpa; mas, em vez de admiti-la espontaneamente, prefere acusar sua estrela. Seria melhor ter sido um bom trabalhador e ganho honestamente a vida do que ser um mau poeta e morrer de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse se colocar em seu lugar.

863 Os costumes sociais não obrigam o homem a seguir determinado caminho em vez de outro, e ele não está submetido ao controle da opinião geral na escolha de suas ocupações? O que se chama de respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?

– São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus. Se a eles se submetem, é porque lhes convêm, e isso é ainda um ato de seu livre-arbítrio, uma vez que, se quisessem, poderiam libertar-se deles; então, por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar, mas seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a abandoná-lo. Ninguém levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública, enquanto Deus levará em conta o sacrifício que fizerem à sua vaidade. Isso não quer dizer que seja preciso afrontar essa opinião sem necessidade, como fazem algumas pessoas que têm mais originalidade do que verdadeira filosofia. Há tanto desatino em alguém se fazer objeto de crítica ou parecer um animal selvagem quanto existe sabedoria em descer voluntariamente e sem reclamar, quando não se pode permanecer no topo da escala.

864 Existem pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?

– Freqüentemente porque elas sabem orientar-se melhor; mas isso pode ser também um gênero de prova. O sucesso as embriaga; elas confiam em seu destino e freqüentemente acabam pagando mais tarde esses mesmos sucessos com cruéis revezes, que poderiam ter evitado com a prudência.

865 Como explicar a sorte que favorece certas pessoas nas circunstâncias em que nem a vontade nem a inteligência interferem? O jogo, por exemplo?

– Alguns Espíritos escolheram antecipadamente certas espécies de prazer; a sorte que os favorece é uma tentação. Quem ganha como homem perde como Espírito; é uma prova para seu orgulho e sua cobiça.

866 A fatalidade que parece marcar os destinos materiais de nossa vida seria, também, o efeito de nosso livre-arbítrio?

– Vós mesmos escolhestes vossa prova; quanto mais for rude e melhor a suportardes, mais vos elevareis. Aqueles que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que permanecem estacionários. Assim, o número de desafortunados ultrapassa em muito o dos felizes neste mundo, já que os Espíritos procuram, na maior parte, a prova que será mais proveitosa. Eles vêm muito bem a futilidade de vossas grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre inquieta, apesar da ausência da dor. (Veja a questão 525 e seguintes)

867 De onde vem a expressão nascer sob uma boa estrela?

– Velha superstição que ligava as estrelas ao destino de cada homem. É uma simbologia que algumas pessoas fazem a tolice de levar a sério.

Conhecimento do futuro

868 O futuro pode ser revelado ao homem?

– Em princípio, o futuro é desconhecido e apenas em casos raros ou excepcionais Deus permite que seja revelado.

869 Com que objetivo o futuro é oculto ao homem?

– Se conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade, porque seria dominado pelo pensamento de que, se uma coisa deve acontecer, não tem por que se preocupar, ou procuraria dificultar o acontecimento. Deus quis que assim fosse, para que cada um cooperasse no cumprimento das coisas, até mesmo daquelas a que gostaria de se opor. Assim, preparais, vós mesmos, freqüentemente sem desconfiar disso, os acontecimentos que sucederão no curso de vossa vida.

870 Mas se é útil que o futuro seja oculto, por que Deus permite algumas vezes sua revelação?

– Permite, quando esse conhecimento prévio deva facilitar o cumprimento de algo em vez de dificultá-lo, ficando obrigado o homem a agir de modo diferente do que faria sem esse conhecimento. Além disso, é, freqüentemente, uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode despertar pensamentos bons ou maus. Se um homem souber, por exemplo, que receberá uma herança com que não contava, pode ser que essa revelação desperte nele a cobiça, pela expectativa de aumentar seus prazeres terrestres, pelo desejo de se apossar de imediato da herança, desejando, talvez, a morte daquele que lhe deve deixar a fortuna. Ou, então, essa perspectiva pode despertar-lhe bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a predição não se cumpre, sofrerá uma outra prova: a decepção. Mas ele não terá, por isso, mérito ou demérito pelos pensamentos bons ou maus que a expectativa do acontecimento ocasionou.

871 Uma vez que Deus sabe tudo, sabe, igualmente, se um homem deve fracassar ou não numa prova? Nesse caso, qual é a necessidade dessa prova, que nada acrescentará ao que Deus já sabe a respeito desse homem?

– É o mesmo que perguntar por que Deus não criou o homem perfeito e realizado; (Veja a questão 119.) por que o homem passa pela infância antes de atingir a idade adulta. (Veja a questão 379.) A prova não tem a finalidade de esclarecer a Deus sobre o mérito dessa pessoa, visto que sabe perfeitamente para que a prova lhe serve, mas, sim, para a deixar com toda a responsabilidade de sua ação, uma vez que é livre para fazer ou não. Tendo o homem a escolha entre o bem e o mal, a prova tem a finalidade de colocá-lo em luta com a tentação do mal e lhe deixar todo o mérito da resistência. Embora saiba muito bem, antecipadamente, se triunfará ou não, Deus não pode, em Sua justiça, puni-lo nem recompensá-lo por um ato que ainda não foi praticado. (Veja a questão 258.)

☼ Assim acontece entre os homens. Por mais capaz que seja um estudante, qualquer certeza que se tenha de vê-lo triunfar, não se confere a ele nenhum grau sem exame, ou seja, sem prova; do mesmo modo, o juiz não condena um acusado senão por um ato consumado e não por prever que ele possa consumar esse ato.

Quanto mais se examinam as conseqüências que resultariam para o homem se tivesse o conhecimento do futuro, mais se vê quanto a Providência foi sábia em ocultá-lo. A certeza de um acontecimento feliz o mergulharia na inércia; a de um acontecimento infeliz, no desencorajamento; tanto em um quanto em outro, suas forças estariam paralisadas. Por isso o futuro é apenas mostrado ao homem como um objetivo que deve atingir por seus esforços, mas sem conhecer o processo pelo qual deve passar para atingi-lo. O conhecimento de todos os incidentes do caminho lhe diminuiria a iniciativa e o uso de seu livre-arbítrio; ele se deixaria levar pela fatalidade dos acontecimentos, sem exercer suas aptidões. Quando o sucesso de uma coisa é assegurado, ninguém se preocupa mais com ela.

Resumo teórico da motivação das ações do homem

872 A questão de ter a vontade livre, isto é, o livre-arbítrio, pode se resumir assim: a criatura humana não é fatalmente conduzida ao mal; os atos que pratica não estavam antecipadamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, como prova e expiação, escolher uma existência em que terá a sedução para o crime, seja pelo meio em que se encontre ou pelos atos em que tomará parte, mas está constantemente livre para agir ou não. Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas, e no estado corporal, na disposição de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que estamos voluntariamente submetidos. Cabe à educação combater essas más tendências; ela o fará utilmente quando estiver baseada no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral será possível modificá-la, como se modifica a inteligência pela instrução, e como a higiene, que preserva a saúde e previne as doenças, modifica o temperamento. O Espírito livre da matéria, no intervalo das encarnações, faz a escolha de suas existências corporais futuras, de acordo com o grau de perfeição que atingiu, e nisso, como dissemos, consiste principalmente o seu livre-arbítrio. Essa liberdade não é anulada pela encarnação. Se cede à influência da matéria é porque fracassa nas próprias provas que escolheu, e para ajudá-lo a superá-las pode evocar a assistência de Deus e dos bons Espíritos. (Veja a questão 337.)

Sem o livre-arbítrio o homem não teria nem culpa na prática do mal, nem mérito no bem; e isso é igualmente reconhecido no mundo, onde sempre se faz censura ou elogio à intenção, ou seja, à vontade; portanto, quem diz vontade diz liberdade. Eis por que o homem não pode justificar ou desculpar suas faltas atribuindo-as ao seu corpo sem abdicar da razão e da condição de ser humano para se igualar ao irracional. Se o corpo humano fosse responsável pela ação para o mal, o seria igualmente na ação para o bem. Entretanto, quando o homem faz o bem, tem grande cuidado para evidenciar o fato em seu favor, como mérito seu, e não exalta ou gratifica seus órgãos. Isso prova que, instintivamente, ele não renuncia, apesar da opinião de alguns filósofos sistemáticos, ao mais belo dos privilégios de sua espécie: a liberdade de pensar.

A fatalidade, como se entende geralmente, faz supor que todos os acontecimentos da vida estão prévia e irrevogavelmente decididos, e estão na ordem das coisas, seja qual for sua importância. Se assim fosse, o homem seria uma máquina sem vontade. Para que serviria sua inteligência, uma vez que em todos os atos seria invariavelmente dominado pelo poder do destino? Uma doutrina assim, se fosse verdadeira, teria em si a destruição de toda liberdade moral; não haveria mais responsabilidade para o homem e, conseqüentemente, nem bem, nem mal, nem crimes, nem virtudes. Deus, soberanamente justo, não poderia castigar suas criaturas por faltas que não dependeram delas nem recompensá-las pelas virtudes das quais não teriam o mérito. Uma lei assim seria, além disso, a negação da lei do progresso, porque o homem que esperasse tudo do destino nada tentaria para melhorar sua posição, já que não conseguiria mudá-la nem para melhor nem para pior.

A fatalidade não é, entretanto, uma idéia vã; ela existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí cumpre, por conseqüência do gênero de existência que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre, fatalmente, todas as alternâncias dessa existência e todas as tendências, boas ou más, que lhe são próprias; porém, termina aí a fatalidade, porque depende de sua vontade ceder ou não a essas tendências. O detalhe dos acontecimentos depende das circunstâncias que ele mesmo provoca por seus atos e sobre as quais os Espíritos podem influenciar pelos pensamentos que sugerem. (Veja a questão 459.)

A fatalidade está, portanto, para o homem, nos acontecimentos que se apresentam, uma vez que são a conseqüência da escolha da existência que o Espírito fez. Pode deixar de ocorrer a fatalidade no resultado dos acontecimentos, quando o homem, usando de prudência, modifica-lhes o curso. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral.

É na morte que o homem está submetido, de uma maneira absoluta, à implacável lei da fatalidade, porque não pode escapar da sentença que fixa o fim de sua existência, nem do gênero de morte que deve interrompê-la.

De acordo com a opinião geral, o homem possuiria todos os seus instintos em si mesmo; eles procederiam de seu próprio corpo, pelos quais não poderia ser responsável, ou de sua própria natureza, na qual pode encontrar uma desculpa, para si mesmo, dizendo que não é sua culpa, uma vez que foi criado assim.

A Doutrina Espírita é evidentemente muito mais moral: admite no homem o livre-arbítrio em toda sua plenitude e, ao lhe dizer que, se faz o mal, cede a uma má sugestão exterior, deixa-lhe toda a responsabilidade, uma vez que reconhece seu poder de resistir, o que é evidentemente mais fácil do que lutar contra sua própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina

Espírita, não há sedução irresistível: o homem pode sempre fechar os ouvidos à voz oculta do obsessor que o induz ao mal em seu íntimo, assim como pode fechá-los quando alguém lhe fala; pode fazer isso por sua vontade, ao pedir a Deus a força necessária e rogando a assistência dos bons Espíritos. É o que Jesus nos ensina na sublime prece do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

Essa teoria que mostra a causa determinante dos nossos atos ressalta evidentemente de todo o ensinamento dado pelos Espíritos. Não é apenas sublime em moralidade, mas acrescentaremos que eleva o homem a seus próprios olhos. Mostra-o livre para repelir um domínio obsessor, como pode fechar sua casa aos importunos. Não é mais uma máquina que age por um impulso independente de sua vontade; é um ser racional, que escuta, julga e escolhe livremente um entre dois conselhos. Apesar disso, o homem não está impedido de agir por sua iniciativa, por impulso próprio, já que, definitivamente, é apenas um Espírito encarnado que conserva, sob o corpo, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito. As faltas que cometemos têm, portanto, sua origem na imperfeição de nosso próprio Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral que terá um dia, mas que nem por isso tem seu livre-arbítrio limitado. A vida encarnada lhe é dada para se depurar de suas imperfeições pelas provas que passa, e são precisamente essas imperfeições que o tornam mais fraco e acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que aproveitam para se empenhar em fazê-lo fracassar na luta. Se sai vencedor, eleva-se; se desperdiça a oportunidade e fracassa, permanece o que era, nem pior, nem melhor: é uma prova que terá de recomeçar, e isso pode durar muito tempo. Quanto mais se depura, mais seus pontos fracos diminuem e menos se expõe àqueles que procuram incitá-lo ao mal; sua força moral cresce em razão de sua elevação e os maus Espíritos se afastam dele.

A raça humana é constituída tanto de Espíritos bons quanto de maus, que estão encarnados neste planeta, e como a Terra é um dos mundos menos avançados, nela se encontram mais Espíritos maus do que bons; por isso há tanta perversidade aqui.

Façamos, portanto, todos os esforços para não voltarmos aqui após essa existência e merecermos ser admitidos num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina absoluto, e lembraremos de nossa passagem pela Terra apenas como um exílio temporário.

A Lei de Igualdade - O Livro dos Espíritos

Igualdade natural

803 Todos os homens são iguais diante de Deus?

– Sim, todos tendem ao mesmo objetivo e Deus fez suas leis para todos. Muitas vezes, dizeis: “O Sol nasce para todos”e dizeis aí uma verdade maior e mais geral do que pensais.

☼ Todos os homens são submissos às mesmas leis da natureza; todos nascem com a mesma fraqueza, sujeitos às mesmas dores, e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não deu a nenhum homem superioridade natural nem pelo nascimento, nem pela morte: todos são iguais diante de Deus.

Desigualdade das aptidões

804 Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os homens?

– Deus criou todos os Espíritos iguais; mas, como cada um viveu mais ou menos, conseqüentemente, adquiriu maior ou menor experiência; a diferença está na experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio. Daí uns se aperfeiçoarem mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. A variedade dessas aptidões é necessária, para que cada um possa concorrer com os desígnios da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais. O que um não pode ou não sabe fazer o outro faz; é assim que cada um tem o seu papel útil. Depois, todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é natural que habitantes de mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso, venham aqui habitar para dar o exemplo. (Veja a questão 361.)

805 Ao passar de um mundo superior a outro inferior, o Espírito conserva a integridade das faculdades adquiridas?

– Sim, já dissemos, o Espírito que progrediu não regride; pode escolher, no estado de Espírito, um corpo mais grosseiro ou uma posição mais precária do que a anterior, mas tudo isso deve sempre lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir. (Veja a questão 180.)

☼ Assim, a diversidade das aptidões entre os homens não tem relação com a natureza íntima de sua criação, mas do grau de aperfeiçoamento que tenha alcançado como Espírito, durante as várias encarnações. Deus, portanto, não criou a desigualdade das faculdades ou aptidões, mas permitiu que Espíritos de diferentes graus de desenvolvimento mantivessem permanente contato, a fim de que os mais avançados pudessem ajudar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, tendo necessidade uns dos outros, praticassem a lei de caridade que deve uni-los.

Desigualdades sociais

806 A desigualdade das condições sociais é uma lei da natureza?

– Não. É obra do homem e não de Deus.

806 a Essa desigualdade desaparecerá um dia?

– Apenas as Leis de Deus são eternas. Vós não vedes essa desigualdade se apagar pouco a pouco todos os dias? Desaparecerá juntamente com o predomínio do orgulho e do egoísmo, apenas restará a diferença do merecimento. Chegará o dia em que os membros da grande família dos filhos de Deus não se olharão como de sangue mais ou menos puro, porque apenas o Espírito é mais ou menos puro, e isso não depende da posição social.

807 O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito?

– Esses se lamentarão: infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos: renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os outros suportar. (Veja as questões 273 e 684.)

Desigualdade das riquezas

808 A desigualdade das riquezas não tem origem na desigualdade das aptidões, que dá a uns maiores meios de aquisição do que a outros?

– Sim e não; e da astúcia e do roubo, que me dizeis vós?

808 a Mas a riqueza herdada, portanto, não é fruto das más paixões?

– Que sabeis disso? Voltai à origem dela e vereis que nem sempre é pura. Sabeis lá se no princípio não foi fruto de roubo ou de injustiça? Porém, além da origem, que pode não ser boa, acreditais que a cobiça da riqueza, mesmo da bem adquirida, os desejos secretos que se concebem para possuí-la o mais rapidamente possível sejam sentimentos louváveis? É isso que Deus julga e vos asseguro que esse julgamento é mais severo do que o dos homens.

809 Se uma riqueza foi mal adquirida, os que a herdam mais tarde são responsáveis por isso?

– Sem dúvida, eles não são responsáveis pelo mal que outros fizeram, principalmente porque ignoram o fato; mas convém saber que a riqueza, muitas vezes, chega às mãos de um homem apenas para lhe favorecer a ocasião de reparar uma injustiça. Felizes os que compreenderem isso! Ao fazer justiça em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será levada em conta para ambos, porque, muitas vezes, quem cometeu a injustiça é que inspira essa ação aos herdeiros.

810 Sem se afastar da legalidade, qualquer um pode dispor de seus bens de uma maneira mais ou menos justa. É responsável, depois de sua morte, pelas disposições que haja feito?

– Toda ação tem seus frutos; os frutos das boas ações são doces; os outros são sempre amargos. Entendei bem isso, sempre.

811 A igualdade absoluta das riquezas é possível e alguma vez já existiu?

– Não, ela não é possível. A diversidade das faculdades e do caráter entre os homens se opõe a essa igualdade.

811 a Entretanto, há homens que acreditam que aí está o remédio para os males da sociedade; que dizeis disso?

– São posições sistemáticas ou ambições ciumentas; eles não compreendem que a igualdade com que sonham seria logo rompida pela força das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa praga social, e não procureis fantasias.

812 Se a igualdade das riquezas não é possível, ocorre o mesmo com o bem-estar?

– Não, porque o bem-estar é relativo e cada um poderia dele desfrutar, se o entendesse bem, já que o verdadeiro bem-estar é empregar o tempo ao seu gosto e não em trabalhos para os quais não se sente nenhum prazer; e como cada um tem aptidões diferentes, não haveria nenhum trabalho útil por fazer. O equilíbrio existe em tudo, é o homem que quer alterá-lo.

812 a Os homens poderão se entender?

– Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça.

813 Há pessoas que passam privação e miséria por sua culpa; a sociedade pode ser responsável por isso?

– Sim, já o dissemos: ela é muitas vezes a principal causa dessas situações; aliás, não é de sua responsabilidade cuidar da educação moral dos seus membros? É, muitas vezes, a má-educação que os levou a falsear o julgamento em vez de sufocar neles as tendências nocivas. (Veja a questão 685.)

Provas de riqueza e de miséria

814 Por que Deus deu a uns riquezas e poder e a outros a miséria?

– Para experimentar cada um de maneiras diferentes. Aliás, vós já o sabeis, essas provas foram os próprios Espíritos que escolheram e, muitas vezes, nelas fracassam.

815 Qual das duas provas é a mais terrível para o homem, a miséria ou a riqueza?

– Tanto uma como outra; a miséria provoca a lamentação contra a Providência; a riqueza estimula todos os excessos.

816 Se o rico tem mais tentações, não tem também mais meios de fazer o bem?

– É justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Suas necessidades aumentam com a riqueza e ele acredita nunca ter o suficiente.

☼ Neste mundo tanto as posições de destaque quanto a autoridade sobre seus semelhantes são provas tão arriscadas e difíceis para o Espírito quanto a miséria. Quanto mais se é rico e poderoso, mais se tem obrigações a cumprir e maiores são as possibilidades de fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e de seu poder.

A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos ligam à matéria e nos afastam da perfeição espiritual; é por isso que Jesus ensinou: “Em verdade vos digo que é mais fácil um camelo1 passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. (Veja a questão 266.)

Igualdade dos direitos do homem e da mulher

817 O homem e a mulher são iguais diante de Deus e têm os mesmos direitos?

– Sim; Deus deu a ambos a compreensão do bem e do mal e a capacidade de progredir.

818 De onde vem a inferioridade moral da mulher em alguns países?

– Do domínio injusto e cruel que o homem impôs sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Para os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito.

819 Com que objetivo a mulher é mais fraca fisicamente do que o homem?

– Para assinalar suas funções diferenciadas e particulares. Ao homem cabem os trabalhos rudes, por ser mais forte; à mulher, os trabalhos mais leves, e ambos devem se ajudar mutuamente nas provas da vida.

820 A fraqueza física da mulher não a coloca naturalmente sob a dependência do homem?

– Deus deu a uns a força para proteger o fraco, e não para que lhes imponham seu domínio.

☼ Deus apropriou a organização de cada ser às funções que deve realizar. Se deu à mulher menos força física, dotou-a, ao mesmo tempo, de uma maior sensibilidade em relação à delicadeza das funções maternais e a fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados.

821 As funções às quais a mulher é destinada pela natureza têm importância tão grande quanto as do homem?

– Sim, e até maiores; é ela quem dá ao homem as primeiras noções da vida.

822 Ambos, sendo iguais diante da lei de Deus, devem ser também diante da lei dos homens?

– É o primeiro princípio de justiça: não façais aos outros o que não quereis que vos façam.

822 a Assim, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher?

– De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada um esteja no seu devido lugar; que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um de acordo com sua aptidão. A lei humana, para ser justa, deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização, sua subjugação marcha com a barbárie. Os sexos, aliás, existem apenas no corpo físico; uma vez que os Espíritos podem encarnar em um ou outro, não há diferença entre eles nesse aspecto e, conseqüentemente, devem desfrutar dos mesmos direitos.

Igualdade diante do túmulo

823 De onde vem o desejo do homem de perpetuar sua memória com monumentos fúnebres?

– Último ato de orgulho.

823 a Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres, muitas vezes, não é feita pelos parentes que desejam honrar a memória do falecido e não pelo próprio falecido?

– Orgulho dos parentes que desejam glorificar a si mesmos. Nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações: é por amor-próprio, pelo mundo e para ostentar riqueza. Acreditais que a lembrança de um ser querido seja menos durável no coração do pobre, porque só pode colocar uma flor no túmulo do seu parente? Acreditais que o mármore salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra?

824 Reprovais de modo absoluto a pompa dos funerais?

– Não; quando honram a memória de um homem de bem, é justa e um bom exemplo.

☼ O túmulo é o local de encontro de todos os homens; ali terminam definitivamente todas as distinções humanas. É em vão que o rico tenta perpetuar sua memória nos monumentos grandiosos; o tempo os destruirá, como o corpo. Assim quer a natureza. A lembrança de suas boas e más ações será menos duradoura do que seu túmulo; a pompa dos funerais não o limpará de suas torpezas e não o fará subir um só degrau na hierarquia espiritual. (Veja a questão 320 e seguintes)

Camelo: ao tempo de Jesus, as cordas de amarrar navios eram feitas de pêlos de camelo e eram conhecidas como camelo (N. E.).

domingo, 20 de março de 2011

A Conversa

"el que siembra su maiz, que se coma su pilon" (Son)

Quem sou eu para ensinar alguém. Justamente eu, que cometo erros e mais erros em minha vida. Mas vão umas dicas aqui do meu mentor:

1) Tem momentos em que duas pessoas brigam. Isso tem para todo lado. E tem sempre um dos lados que deseja a reconciliação. E pode ter no outro lado quem não deseja ficar de bem.

Aquele que deseja fazer as pazes, uma boa notícia, você está certo e caso a outra pessoa não queira, tenha paciência, mas saiba que ganhou um ponto positivo com o Pai. Quanto mais sincera e evangelizada seja a sua vontade, desinteressadamente, maior seu mérito. Quanto mais você respeitar a decisão do próximo de não se reconciliar, melhor. Falar mal não é respeitar.

Aquele que não deseja a paz, que fecha a porta e ignora o anseio de conciliar, você deve ter suas razões, é possível entendê-lo. Mas esta atitude faz sentido quando o outro lado te ameaça. Se isso ocorrer, ok. Se não, reveja se não há um pouco de vingança em seus sentimentos.

2) Deixar o cônjuge falar é importante. Muitas vezes a falavra vai sendo sufocada durante anos. Uma amiga minha precisa falar, quer falar, mas o marido não a escuta, não quer escutar. Ele prefere "discutir por discutir, só pra ganhar a discussão". Parece minha mãe sofrendo com o meu pai...

Vale sempre a pena ouvir a quem se ama. Se o nosso amor não puder falar conosco, se não pudermos acolhe-lo, se não pudermos ajudá-lo, a quem ele recorrerá?

Muita vez somos aquele que dita as regras do casal. Não ouvimos com o coração nosso par. Imagina ouvir com o coração o que o outro tem a dizer. Temos que estimular o outro a dizer com liberdade, sem repressão. Bloquear, reprimir, limitar só fará com que a pessoa não consiga mais colocar para fora seus sentimentos.

Deixe-a falar, mesmo que fale bobagens. Procure mais do que as palavras que ela disse. Procure os sentimentos que estão por trás delas, a verdadeira reclamação, legítimo apelo. Pode ser que ela esteja querendo dizer algo que vai salvar a relação, não po-la em risco.

3) Quando queremos falar algo a alguém, nós devemos filtrar e realmente dizer aquilo que seja verdadeiro. Devemos sempre pensar bem nas críticas, ver se elas levam a algum lugar. Pode ser que mais de 80% sejam infundadas, mas no fundo do coração, os 20% são justos e são o que resolvem de fato a questão.

Ao invés de irmos nos justificando com oitenta, que trabalhemos os vinte.

Procurar ser claro e breve, carinhoso e acolhedor.

Quem tem filhos, independente de desejarem permanecer casados ou não, os pais têm obrigação de procurarem o diálogo, devem este esforço aos filhos.
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É necessário um casal estabelecer, antes de falar, o ambiente que eles terão para se entenderem. Amor, paz, compreensão, ajuda mútua, ouvir com o coração, ombro...

O outro tem o direito de falar. Vale para ambos. E temos o dever de ouvir e procurar entender bem onde a pessoa quer chegar com aquilo, quais são os seus medos, quais são as suas dúvidas.

Muitas vezes gostamos de exemplificar do que teorizar. E com isso usamos um exemplo prático, achando que isso nos faz entender, mas ao contrário, confunde mais. Dizer "não quero que você saia com suas amigas" é limitado e agressivo, não resolve nada. Dizer "você é linda e tenho medo que suas amigas te estimulem que você me traia, mesmo sabendo que você não faria isso me deixa mal" já é um grande começo. Coloque seus verdadeiros medos para fora, não tenha medo disso.

Partindo destas premissas buscar o diálogo com a finalidade do respeitoso entendimento, dentro da lei do amor.