sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Linguagem de Ouspensky

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A linguagem foi criada por Grudjieff e complementada por Ouspensky que escreveu este livro chamado The 4th Way que foi de onde tirei os seguintes apontamentos.
Convém lembrar que isto foi escrito em 1924 ou assim. A Psicologia nessa altura era ainda menos evoluída e não existiam muitos dos conceitos que hoje conhecemos.
Um dos Projectos que acho que poderíamos construir a partir daqui (com a Nat à cabeça) seria complementar o que temos aqui com algumas coisas que a psicologia entretanto descobriu.

Seguem-se então alguns conceitos e ensinamentos do senhor (muito resumidos e um bocadito pintados por mim):

Considera-se que:
O Homem Não Está Desenvolvido: A maioria de nós não usa o seu potencial ao máximo, como acontece com a Natureza quando não é cultivada. Isto porque não temos as ferramentas necessárias, não conhecemos as condições que nos rodeiam e porque o intelecto é um processo novo na natureza e por isso não se encontra totalmente implementado. A consciência ainda não foi desenvolvida o suficiente para se usar a si própria como usa o resto.
O Homem Não É Uno: Pensamos que quando dizemos "Eu" estamos sempre a falar da mesma pessoa. Contudo somos muito diferentes de situação para situação. O que queremos hoje muitas vezes é diferente do que queremos amanhã... E depois de amanhã ficamos arrependidos que isso se passe. Isto acontece porque de facto apenas reagimos às situações, que determinam se agora somos este "Eu" ou aquele, em vez de agirmos segundo um plano.
O Homem não tem Vontade nem Consciência: Por sermos incompletos, por não termos noção dos nossos "Eus" e sermos incapazes de seguir com os nossos planos quando de facto os podíamos levar a cabo, provamos não ter vontade própria, mas simplesmente seguir o mundo naquilo que ele nos impõe. Não somos conscientes por que não nos lembramos do que queremos, fazemos e somos e assim não sabemos como chegámos a onde estamos nem como chegar aonde queremos estar.
Existem Pessoas Realmente Conscientes: Existem homens que são realmente completos, que usam uma linguagem realmente objectiva, que vêem a verdade no mundo e que concretizam os seus planos. Existem homens que fizeram obras realmente incríveis (como quem escreveu algumas partes da Bíblia, como Ghandi, como uma grande parte dos que se vêm sacrificando pelos outros) enquanto a maioria nem é consciente. (Ele diz isto de outra forma, mas eu não gosto.)


Conceitos:

The Study of the World
Lei dos 3: Tudo neste mundo é influenciado por três forças: positiva (activa), negativa (reactiva/passiva) e neutralizante. A consciência é uma força do primeiro tipo, como é a criação e manutenção da vida; forças criativas que requerem esforço e provocam beneficio a um sistema holístico. A perversidade, as calamidades naturais, o oportunismo cego em detrimento dos outros, etc. são forças reactivas, geradas por algo que responde a certos estímulos sem inovação ou esforço. O Tempo, a tendência para os opostos se atraírem, etc. são forças neutralizantes.
Lei dos 7: No Universo existe tendência para desvios. Chama-se lei dos 7 porque as 7 notas musicais não têm a mesma distância de frequência em duas instâncias. Para se fazer uma música não podemos apenas descer e subir as 7 notas. Exige um esforço para compensar esses desvios, explorar e utilizar notas que condigam.
Lei do Acidente: Os eventos acontecem sobre a Lei do Acidente quando se passam sem conexão à linha de eventos que temos observado. Muitos acidentes podem não ser observados.
Lei da Causa e Efeito: Uma lei intermédia entre a lei anterior e a seguinte. Quando o que somos é que causa um efeito naquilo que nos acontece. Muitos acidentes (no sentido estrito da palavra) acontecem dentro desta lei.
Lei do Destino: O destino para Ouspensky está ligado àquilo com que nascemos: família, dinheiro, saúde, capacidade física, etc. Esta lei raramente influência a capacidade do ser humano se desenvolver, embora raras vezes o destino possa ter um impacto muito importante numa vida.
Lei da Vontade: Existem duas vertentes desta lei: a Vontade dos outros, e a nossa. De momento já vimos que a própria não existe de facto e pouco podemos dizer à cerca das dos outros. Podemos falar do que correntemente chamamos de vontade como "disposição." (Isto difere do que o Ouspensky apregoa, mas eu não gosto de como ele o diz.)

The Study of Man
Centros: É o nome que se dão ás secções do comportamento humano. Não têm propriamente ligação com características biológicas, ou psicológicas; é puramente um sistema de encaixar comportamentos humanos em categorias.
Centro Instintivo: Para o Ouspensky os instintos são coisas puramente básicas, que não são aprendidas: fome, sentidos, funções, desejo sexual, sono, etc.
Centro de Mobilidade: Controla tudo o que aprendemos a fazer, mas que cujo o processo em si se faz sem ser ponderado: escrever, andar, falar, equilibrar etc.
Centro Emoncional: Trata daquilo que são as emoções: suspeita, amor, querer, medo, solidão, etc. É importante para orientar acções e por ser mais rápido que o Intelectual.
Centro Intelectual: É responsável por todas as acções racionais e analíticas como: analise de dados, formação de teorias, comparação de resultados, etc.
Centro Magnético: Este acumula pensamentos que sobrevivem vidas e que contrariam a desordem normal do mundo: relacionado com a espiritualidade.
Centro de Gravidade: "É um objectivo mais ou menos permanente e a consciência da importância relativa das coisas em relação a esse objectivo." Este centro é normalmente pouco desenvolvido.
Timing dos Centros: Os centros têm velocidades de funcionamento diferentes. O mais rápido é o primeiro e depois vai ficando mais lento. Esta é uma das formas de os distinguir. É também importante ter em conta o tempo que temos quando usamos um Centro. Quanto mais Centros tentarmos usar, melhor serão os resultados, mas raras e importantes vezes não há tempo suficiente para isto acontecer.
Funções: O Ouspensky chama àquilo que os centros controlam de "Funções." Convém termos em conta que muitas vezes nós usamos centros errados para executar certas funções (como usar o Centro Emocional para analisar uma situação da nossa vida). A maior parte das funções são executadas por vários centros (por exemplo criar arte pode usar todos os centros, ou apenas 4, ou apenas 3). Isto varia de pessoa para pessoa, por isso não se inserem funções em Centros. Na seguinte lista encontram-se funções úteis e prejudiciais:
Identificação: Acontece quando nos deixamos levar por um fenómeno qualquer e nos esquecemos de nós próprios. Por exemplo, se tens que ir para um lugar mas em vez disso encontras algo que te atrai e esqueces o teu objectivo. Se acontecer em relação a uma pessoa chama-se consideração.
Imaginação: É todo o pensamento que não tem utilidade. "O que estará ele a pensar?", "Eu dava-lhe três socos caia para o chão." "Um dia gostava de pegar num unicórnio e ir a cavalgar pela floresta." Não inclui imaginação no sentido de pensamento criativo.
Emoções Negativas: São emoções que não têm utilidade. O ódio e o medo, por exemplo, apenas fazem com que se aplique um preconceito a uma pessoa ou situação, quando o pensamento racional é muito mais eficaz. As Emoções Negativas vêm provavelmente de uma imponderada aplicação do sistema "Prazer-Dor" do Centro Instintivo ao Emocional e da tendência de utilizar este último (por ser mais rápido) para resolver situações que muitas vezes podem ser delegadas ao Centro Intelectual.
Mentir: Mentir é uma função que usamos muito e é sobretudo prejudicial quando a usamos contra nós. As mentiras estão na base da imaginação, dos limiares, etc.
Auto-Observação: A auto-observação é uma forma de observar uma função ou o funcionamento de um dos centros. Um exemplo é quando nos observamos (durante ou depois) a exprimir um sentimento.
Auto-Reconhecimento: O auto-reconhecimento tem a ver com a observação do todo que somos nós. Por exemplo, de começo podemos reconhecer que temos vários "Eus" e que a nossa consciência permite um controlo débil daquilo que somos.
Formação/Formulação de pensamentos: Existem dois processos de criar ideias. Um utiliza pacotes de ideias pré-concebidos e forma quase automaticamente uma ideia para a ocasião. O outro depende de um processo mais lento por depender da análise e tratamento de informação e formula ideias mais complexas e bem adaptadas.
Papeis: São grupos de "Eus" que se manifestam dependendo de certas condições. Esta manifestação pode não ser observada por outras pessoas e raramente é observada pelo próprio, sendo nesses casos justificada por limiares (ver a baixo.)
Limiares: São "desculpas" que usamos para justificar a existência de vários "Eus" e os seus conflitos (por exemplo "Isto aconteceu porque quando eu fico chateado tem que sair tudo da minha frente.")
Outras Divisões:
Personalidade / Essência: A personalidade é constituída por aquilo que vamos retendo; informações, frases, etc. Protege a nossa essência do mundo. Pertence à essência tudo aquilo com que nascemos: físico, saúde, predisposições, tendências, etc.
Conhecimento / Ser: O conhecimento é o que conseguimos assimilar (de forma a poder ser utilizado pela nossa capacidade de raciocínio e de abstracção) de uma certa informação. O ser é aquilo que somos neste momento. É a soma de tudo o que nos compõe: o nosso conhecimento, a nossa experiência, a nossa essência, personalidade, etc. Segundo Ouspensky, a distância que temos que percorrer neste "quarto caminho" é igual à diferença entre aquilo que somos e aquilo que pensamos que somos. (É bom reter que o conhecimento não é facilmente transmitido, porque a mesma informação vai ser assimilada ou não por pessoas dependende do ser destas.)
Aparelho de Formação:

Técnicas:
Usar Auto-Observação/Reconhecimento frequentemente: Temos que aprender o que somos, como funcionamos. Como as condições mudam a nossa forma de pensar, agir, sentir.
Esforço: Para podermos observar bem o que fazemos devemos esforçar-nos, porque nos lembramos dos nossos esforços e porque nos dá uma certa disciplina. Devemos contrariar aquilo que vemos que é mecânico, de forma a compreender como funciona. Devemos tentar contrariar o prazer de estarmos estáticos, para aproveitarmos o proveito de sermos activos.
Abolição das Emoções Negativas: Lendo Ouspensky parece-me que as emoções negativas são uma forma reduzida de interpretar os nossos instintos e de achar que o nosso centro emocional há de beneficiar de dor e desagrado.
Abolição da Identificação e Imaginação.
Entrar na Lei da Vontade: Ao respeitarmos estas outras técnicas e ao criarmos um Centro de Gravidade bem desenvolvido, nós fazemos com que os eventos que se passam na nossa vida saiam das Leis do Acidente, Causa e Efeito e Destino e façam parte da Lei da Vontade.

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