quarta-feira, 30 de março de 2011

Ação, Reação e Conciliação

"Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Mas eu vos digo, que não resistais ao mal. A quem te bater na face direita, apresenta também a outra. A quem quiser fazer demanda contigo para tomar a tua túnica, deixa levar também o manto. E se alguém te forçar a dar mil passos, anda com ele dois mil. A quem quer de ti um empréstimo, não lhe dês as costas. Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem; deste modo vos mostrareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque faz raiar o sol sobre os bons e os maus, e chover sobre os justos e os injustos. Pois, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Acaso os desprezados cobradores de impostos não fazem também assim e, se cumprimentardes somente a vossos irmãos, que fareis de especial? Acaso os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mateus 5:38-48).

"Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário". (Terceira lei de Newton)

Livro dos Espíritos, questão número 4;
Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?
– Num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e a vossa razão vos responderá.

Vale sempre esclarecer, para que possamos corretamente refletir, que a Lei de "Ação e Reação" e a Lei de "Causa e Efeito" são leis diferentes, harmonizadas e complementares (como todas as leis divinas), mas regem coisas distintas.

A terceira lei de Newton vale para a matéria, mas nós humanos não somos somente matéria, somos espíritos, criados à semelhança de Deus. Se somente existisse a Lei de Ação e Reação, nós não evoluiríamos, pois seriamos como a matéria, que aguarda uma ação externa para se transformar. A guerra entre Judeus e Palestinos segue bem a Ação e Reação e com isso nós vemos o alongar desta, muitas vezes desafiando a nossa esperança disso tudo se finalizar. Um joga a bombinha para o outro lado do muro e jogam outra de volta num "indo e vindo infinito".

O ser humano tem o poder da conciliação, que interrompe o processo de ação e reação. A Conciliação é a ação espiritual, ação inteligente, sobre as coisas. É através desta terceira parte que nós paramos o processo doloroso de ação e reação sobre nossas vidas e fazemos a diferença. É pela conciliação que o ser humano descobriu como pode atuar para se superar, para evoluir, para conseguir reorganizar as suas coisas e colocar a sua inteligência a seu serviço, aos seus propósitos.

Nós devemos atuar sobre o material e dominá-lo, não o contrário. Não podemos ser escravos da matéria, mas seus artesãos.

A democracia, já foi dito, não é o último degrau de nossa evolução social. Hoje já existe a conciliação, que procura atender às minorias, atender a todos. Só o voto das maiorias não atende a justiça divina, devemos olhar o nosso próximo com mais amor de dar-lhes direito de ser como são. Um exemplo disso é que, agora em vários países, a liberdade religiosa é permitida e respeitada.

O cuidado com as nossas ações é imprescindível pois sempre iremos sofrer suas reações. Que saibamos entender que podemos agir diferente a cada vez, melhorando nossas atitudes, pensamentos e sentimentos.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Mão no Remo (Mete a Vela)

"Nesta vida, nesta vida cada qual tem um barco em que navega.
E o azar é natural, nem há nada mais fatal, e a justiça é cega.
Mas se os ventos sopram contra, ou se vem a tempestade
Nunca mais o barco encontra o porto da felicidade

Mão no remo, mão no remo, com toda a coragem
Pra levar vantagem no mar desta vida
Pois se queres ser feliz no amor, tens que remar com vigor

Mete a vela, mete a vela
Quando for a hora, irei no mar afora, em busca da sorte
Aproveitando a maré a favor, terás pra sempre valor" (Noel Rosa, Mão no Remo)


"Mão no Remo" é uma das mais sublimes poesias de Noel Rosa sobre o amor. É quase uma obra póstuma, quase uma obra como espírito.

A expressão mão no remo reflete sobre o verdadeiro significado do amor: esforço, suor, constância, energia que colocamos. Normalmente remamos de costas para onde estamos indo, não sabemos de nosso futuro, mas seguimos um planejamento prévio.

Mete a vela, a segunda parte da música, reflete que devemos usar os sopros dos ventos da vida para nos impulsionar. Ou seja, quando o vento sopra a favor, melhor usar a vela do que somente persistir no remo.

Para Noel Rosa, viver e amar é saber usar o remo e a vela ao mesmo tempo, às vezes só um, às vezes outro.

Ontem coloquei as mãos nos remos e remei. Só que os ventos estavam à favor. Meti a vela e o barco fluiu como nunca. Dei a minha primeira preleção desde março de 2004 com imensa alegria no coração. Depois nos passes, tudo correu bem. E na vida plena, surge a causa dos bons ventos: a reconciliação.

Reconciliação, nome feminino (Do lat. reconciliatióne).
Restabelecimento das relações entre pessoas que andavam desavindas

Lutei muito pela reconciliação, muitas vezes lutei errado e aprendi algumas coisas:
- Precisava respeitar o tempo do meu próximo.
- Necessitava de um tempo para que eu pudesse refletir nos meus erros, conhecê-los e reconhecê-los.
- Buscar a sintonia com o meu mentor ao invés de discussões mentais comezinhas.
- Refleti sobre qual é o verdadeiro valor desta amizade.
- Aprendi muitas coisas sobre meus sentimentos (vale um post só sobre isso), alguns eram ruins de arrepiar, outros eram de dor, de falta, de perda. Turbilhão. Tive até dores reais em meu coração, achei que iria enfartar (o que preocupou todo mundo). Doía de verdade e aliviava quando eu colocava a mão direita sobre ele.
- Tive que aprender a me respeitar, respeitar o meu limite, lutar pelo que eu desejava, me colocar, pensar pela minha própria cabeça, não me preocupar com o que os outros pesam, ser mais autêntico. Colocar a minha vontade também. Respeitar quem eu sou.
- Me colocar no lugar do próximo.
- Vibrar amor pelo próximo, perdoar, superar, esquecer o passado, virar a página, aceitação da perda.
- Não precisamos rebaixar para decidir: não é por que tomamos uma decisão entre a e b, que a outra alternativa era ruim. Ao contrário, era tão boa quanto a escolhida. Foi bom reconhecer isso para entender o porque de ter sido tão doloroso.
- Reconhecimento do valor do meu próximo, que provocou a onda de admiração e respeito.

Bacana, né? Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e depois apresenta a tua oferta! (Jesus)

Imagina sair desta tempestade espiritual e ontem navegar com vento a favor, em céu estrelado, sendo que com a benção do brilho de uma estrela, que me indica (e impulsiona) o rumo de minha barca. Mão no remo, mete a vela...

terça-feira, 22 de março de 2011

Lei de justiça, amor e caridade - O Livro dos Espíritos

Justiça e direitos naturais

873 O sentimento de justiça é natural ou é resultado de idéias adquiridas?

– É tão natural que vos revoltais com o pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve, sem dúvida, esse sentimento, mas não o dá: Deus o colocou no coração do homem; por isso encontrareis, muitas vezes, nos homens simples e primitivos noções mais exatas de justiça do que naqueles que têm muito conhecimento.

874 Se a justiça é uma lei natural, por que os homens a entendem de maneiras diferentes, e que um considere justo o que parece injusto a outro?

– É que à Lei se misturam freqüentemente paixões que alteram esse sentimento, como acontece com a maior parte dos outros sentimentos naturais, e fazem o homem ver as coisas sob um falso ponto de vista.

875 Como se pode definir a justiça?

– A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.

875 a O que determina esses direitos?

– São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e caráter, essas leis estabeleceram direitos que variaram com o progresso dos conhecimentos. Observai que as vossas leis atuais, sem serem perfeitas, já não consagram os mesmos direitos da Idade Média. No entanto, esses direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito estabelecido pelos homens nem sempre, portanto, está de acordo com a justiça. Regula apenas algumas relações sociais, enquanto, na vida particular, há uma imensidão de atos unicamente inerentes à consciência de cada um.

876 Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da justiça fundada sobre a lei natural?

– O Cristo disse: “Não façais aos outros o que não quereis que vos façam”. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça pelo desejo que cada um tem de ver respeitados os seus direitos.

Na incerteza do que fazer em relação ao semelhante numa determinada circunstância, o homem deve perguntar-se como desejaria que se fizesse com ele na mesma circunstância: Deus não poderia lhe dar um guia mais seguro do que a própria consciência.

☼ O critério da verdadeira justiça é, de fato, desejar aos outros o que se deseja para si mesmo, e não desejar para si o que se desejaria para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural desejar o mal para si, se tomarmos o desejo pessoal como norma e ponto de partida, estaremos sempre certos de apenas desejar o bem para o próximo. Em todos os tempos e todas as crenças, o homem tem sempre procurado fazer prevalecer seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.

877 A necessidade para o homem de viver em sociedade lhe impõe obrigações particulares?

– Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos sempre será justo. Em vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei da justiça, cada um usa de represálias, e isso gera perturbação e confusão em vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

878 Podendo o homem se enganar sobre a extensão de seu direito, quem pode fazê-lo conhecer esse limite?

– O limite do direito será sempre o de dar aos seus semelhantes o mesmo que quer para si, em circunstâncias iguais e reciprocamente.

878 a Mas se cada um conceder a si mesmo os direitos de seu semelhante, em que se torna a subordinação em relação aos superiores? Não causará a anarquia de todos os poderes?

– Os direitos naturais são os mesmos para todos, desde o menor até o maior; Deus não fez uns mais puros que outros, e todos são iguais diante d’Ele. Esses direitos são eternos. Porém, os direitos que o homem estabeleceu desaparecem com suas instituições. Cada um percebe bem sua força ou fraqueza e saberá sempre ter uma certa consideração com aquele que a mereça por sua virtude e sabedoria. É importante destacar isso, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres e mereçam essa consideração. A subordinação não será comprometida quando a autoridade for exercida com sabedoria.

879 Qual deve ser o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

– Do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.

Direito de propriedade. Roubo

880 Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?

– O de viver. Ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante nem fazer o que possa comprometer sua existência física.

881 O direito de viver dá ao homem o direito de juntar o necessário para viver e repousar, quando não puder mais trabalhar?

– Sim, mas deve fazê-lo socialmente, como a abelha, por um trabalho honesto, e não juntar como um egoísta. Até mesmo certos animais lhe dão o exemplo do que é previdência.

882 O homem tem o direito de defender o que juntou pelo seu trabalho?

– A lei de Deus diz: “Não roubarás”; e Jesus: “É preciso dar a César o que é de César”.

☼ O que o homem junta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima que tem o direito de defender, porque a propriedade que é fruto do trabalho e um direito natural tão sagrado quanto o de trabalhar e viver.

883 O desejo de possuir é natural?

– Sim, mas quando é apenas para si e para satisfação pessoal é egoísmo.

883 a Será legítimo o desejo de possuir, para não se tornar peso para ninguém?

– Existem homens insaciáveis que acumulam bens sem proveito para ninguém, só para satisfazer as paixões. Acreditais que isso seja bem visto por Deus? Aquele que, ao contrário, junta por seu trabalho para ajudar seus semelhantes pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus.

884 O que é uma propriedade legítima?

– Só é propriedade legítima a que foi adquirida sem prejudicar ninguém. (Veja a questão 808.)

☼ A lei de amor e de justiça, ao ensinar que devemos fazer aos outros o que quereríamos que nos fizessem, condena, por isso mesmo, todo meio de ganho contrário a essa lei.

885 O direito de propriedade é ilimitado?

– Sem dúvida, tudo o que é adquirido de forma legítima é uma propriedade. Porém, como dissemos, a legislação dos homens, sendo imperfeita, consagra freqüentemente direitos que a justiça natural reprova. É por essa razão que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e compreendem melhor a justiça. O que parece perfeito num século é bárbaro no seguinte. (Veja a questão 795.)

Caridade e amor ao próximo

886 Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus?

– Benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.

☼ O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos que nos fosse feito. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como irmãos”.

A caridade, para Jesus, não se limita à esmola. Ela abrange todas as relações com nossos semelhantes, sejam inferiores, iguais ou superiores. Ensina a indulgência, porque temos necessidade dela, e não nos permite humilhar os outros, ao contrário do que muitas vezes se faz. Se uma pessoa rica nos procura, temos por ela mil atenções, mil amabilidades; se é pobre, parece não haver necessidade de nos incomodar. Porém, quanto mais lastimável sua posição, mais se deve respeitar, sem nunca aumentar sua infelicidade pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.

887 Jesus também disse: “Amai até mesmo os inimigos”. Porém, o amor aos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais? A inimizade não provém da falta de simpatia entre os Espíritos?

– Sem dúvida, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado; não foi o que Jesus quis dizer. Amar aos inimigos é perdoar e pagar o mal com o bem. Agindo assim nos tornamos superiores a eles; pela vingança, nos colocamos abaixo deles.

888 O que pensar da esmola?

– O homem reduzido a pedir esmola se degrada moral e fisicamente: ele se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco sem humilhação e garantir a existência daqueles que não podem trabalhar sem deixar sua vida sujeita ao acaso e à boa vontade.

888 a Vós reprovais a esmola?

– Não; não é a esmola que é reprovável, é muitas vezes a maneira como é dada. O homem de bem que compreende a caridade, como Jesus, vai até o infeliz sem esperar que ele estenda a mão.

A verdadeira caridade é sempre boa e benevolente, tanto no ato quanto na forma. Um serviço que nos é oferecido com delicadeza tem seu valor aumentado; mas se é feito com ostentação, a necessidade pode fazer com que seja aceito, porém o coração não se sente tocado.

Lembrai-vos também que a ostentação tira, aos olhos de Deus, o mérito do benefício. Jesus ensinou: “Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita”, ensinando a não ofuscar a caridade com o orgulho.

É preciso distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado nem sempre é aquele que pede; o temor da humilhação tolhe o verdadeiro pobre, que sofre sem se lamentar; é a esse que o homem verdadeiramente humano deve procurar sem ostentação.

Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei. Lei divina pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

Nunca vos esqueçais de que o Espírito, seja qual for seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou no mundo espiritual, está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior diante do qual tem esses mesmos deveres a cumprir.

Sede caridosos, praticando não apenas a caridade que tira do bolso a esmola que dais friamente àquele que ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos de vossos semelhantes. Em vez de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede doces e benevolentes para todos que são inferiores; sede doces e benevolentes mesmo em relação aos seres mais insignificantes da criação e tereis obedecido à lei de Deus.

São Vicente de Paulo

889 Não existem homens reduzidos a mendigos por sua própria culpa?

– Sem dúvida; mas se uma boa educação moral lhes ensinasse a praticar a lei de Deus, não cairiam nos excessos que causam sua perdição; é daí, especialmente, que depende o melhoramento de vosso globo. (Veja a questão 707.)

Amor maternal e filial

890 O amor materno é uma virtude ou um sentimento instintivo comum aos humanos e animais?

– Tanto um quanto outro. A natureza deu à mãe o amor pelos filhos no interesse de sua conservação; mas no animal esse amor está limitado às necessidades materiais e termina quando os cuidados tornam-se inúteis. No homem, ele persiste por toda a vida e comporta um devotamento e um desinteresse que são virtudes. Sobrevive até mesmo à morte e prossegue no mundo espiritual. Observai bem que há nele outra coisa a mais que no animal. (Veja as questões 205 e 385.)

891 Uma vez que o amor materno está na natureza, por que há mães que odeiam seus filhos desde o nascimento?

– É algumas vezes uma prova escolhida pelo Espírito da criança, ou uma expiação, se ele mesmo foi um mau pai, mãe ou um mau filho em uma outra existência. (Veja a questão 392.) Em todos os casos, a mãe ruim só pode ser animada por um mau Espírito que se empenha em dificultar a existência do filho para que ele fracasse nas provas que aceitou. Mas essa violação das leis da natureza não ficará impune e o Espírito da criança será recompensado pelos obstáculos que tenha superado.

892 Quando os pais têm filhos que causam desgostos, não são perdoáveis por não terem a mesma ternura que teriam em caso contrário?

– Não, porque é um encargo a eles confiado e é sua missão fazer todos os esforços para reconduzi-los ao bem (Veja as questões 582 e 583). Além disso, esses desgostos são freqüentemente o resultado dos maus costumes que foram dados desde o berço: eles então colhem o que semearam.

Lei de Liberdade - O Livro dos Espíritos

Liberdade natural

825 Há posições no mundo em que o homem pode se vangloriar de desfrutar de liberdade absoluta?

– Não, porque todos necessitam uns dos outros, tanto os pequenos quanto os grandes.

826 Em que condição o homem poderia desfrutar de liberdade absoluta?

– Na de eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há direitos a respeitar e nenhum deles tem mais liberdade absoluta.

827 A obrigação de respeitar os direitos dos outros tira do homem o direito de ser senhor de si?

– De jeito nenhum, porque esse é um direito que a natureza lhe concede.

828 Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com a tirania que, muitas vezes, eles mesmos praticam no lar e com os seus subordinados?

– Eles têm da lei natural só a compreensão, porém contrabalançada pelo orgulho e egoísmo. Quando esses princípios não são uma comédia calculadamente representada, o homem tem a perfeita noção de como deveria agir, mas não o faz.

828 a Como serão considerados na vida espiritual os que procederam assim neste mundo?

– Quanto mais inteligência tenha um homem para compreender um princípio, menos é desculpável por não aplicá-lo a si mesmo. Eu vos digo, em verdade, que o homem simples, mas sincero, está mais avançado no caminho de Deus do que aquele que quer parecer o que não é.

Escravidão

829 Há homens que são, por natureza, destinados a ser propriedades de outros homens?

– Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como desaparecerão pouco a pouco todos os abusos.

☼ A lei humana que consagra a escravidão é contra a natureza, uma vez que iguala o homem ao irracional e o degrada moral e fisicamente.

830 Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, os que dela se aproveitam são condenáveis, por agirem seguindo um procedimento que parece natural?

– O mal é sempre o mal e todos os sofismas não farão com que uma má ação se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios de que se dispõe para compreendê-la. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre culpado da violação da lei natural; mas, nisso, como em todas as coisas, a culpa é relativa. A escravidão, tendo se firmado nos costumes de alguns povos, tornou possível ao homem aproveitar-se dela de boa-fé, como de uma coisa que parecia natural; mas a partir do momento que sua razão se mostrou mais desenvolvida e, acima de tudo, esclarecida pelas luzes do Cristianismo, demonstrando que o escravo é um ser igual diante de Deus, não há mais desculpa que justifique a escravidão.

831 A desigualdade natural das aptidões não coloca algumas raças humanas sob a dependência de outras mais inteligentes?

– Sim, mas para erguê-las e não para embrutecê-las ainda mais pela escravidão. Os homens têm considerado durante muito tempo algumas raças humanas como animais de braços e mãos e se julgaram no direito de vendê-los como animais de carga. Eles acreditam possuir um sangue mais puro, insensatos que vêem apenas a matéria! Não é o sangue que é mais ou menos puro, mas o Espírito. (Veja as questões 361 e 803.)

832 Há homens que tratam seus escravos com humanidade, que não lhes deixam faltar nada e pensam que a liberdade até os exporia a piores privações; o que dizeis deles?

– Digo que esses cuidam melhor de seus interesses. Têm também muito cuidado com seus bois e cavalos, para tirar mais proveito deles no mercado. Não são tão culpados quanto os que os maltratam, mas dispõem deles como de uma mercadoria ao impedir o direito de serem livres.

Liberdade de pensar

833 Há no homem alguma coisa livre de qualquer constrangimento e da qual desfruta de uma liberdade absoluta?

– É pelo pensamento que o homem desfruta de uma liberdade sem limites, porque o pensamento desconhece obstáculos. Pode-se deter seu vôo, mas não aniquilá-lo.

834 O homem é responsável por seu pensamento?

– É responsável diante de Deus; somente Deus, podendo conhecê-lo, o condena ou o absolve segundo Sua justiça.

Liberdade de consciência

835 A liberdade de consciência é uma conseqüência da de pensar?

– A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.

836 O homem tem direito de colocar obstáculos à liberdade de consciência?

– Não, nem à liberdade de pensar. Pertence apenas a Deus o direito de julgar a consciência. Se os homens regulam por suas leis as relações de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações do homem com Deus.

837 Qual o resultado dos obstáculos postos à liberdade de consciência?

– Constranger os homens a agir de modo diferente do que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso.

838 Toda crença é respeitável mesmo que seja notoriamente falsa?

– Toda crença é respeitável quando é sincera e conduz à prática do bem. As crenças condenáveis são as que conduzem ao mal.

839 É repreensível escandalizar na sua crença aquele que não pensa como nós?

– É falta de caridade e ofende a liberdade de pensamento.

840 Será atentar contra a liberdade de consciência impor restrições às crenças que provocam problemas à sociedade?

– Podem-se reprimir os atos, mas a crença íntima é inacessível.

☼ Reprimir os atos exteriores de uma crença quando ela ocasiona um prejuízo qualquer aos outros não é atentar contra a liberdade de consciência, porque a repressão não impede a pessoa de manter a crença.

841 Deve-se, em respeito à liberdade de consciência, deixar que se propaguem doutrinas nocivas e pode-se, sem prejudicar essa liberdade, procurar trazer de volta ao caminho da verdade aqueles que se perderam ao admitir falsos princípios?

– Certamente que sim; e até mesmo se deve. Mas ensinai a exemplo de Jesus, pela doçura e persuasão, e não pela força, o que seria pior que a crença daquele a quem se quer convencer. Se há algo que seja permitido impor é o bem e a fraternidade. Mas não acreditamos que o meio de levá-los a admitir seja agindo com violência: a convicção não se impõe.

842 Todas as doutrinas têm a pretensão de ser a única expressão da verdade; como se pode reconhecer a que tem o direito de se posicionar assim?

– Será aquela que faz mais homens de bem e menos hipócritas, ou seja, pela prática da lei de amor e de caridade em sua maior pureza e sua aplicação mais abrangente. A esse sinal reconheceis que uma doutrina é boa, já que toda doutrina que semear a desunião e estabelecer uma demarcação entre os filhos de Deus só pode ser falsa e nociva.

Livre-arbítrio

843 O homem tem sempre o livre-arbítrio?

– Uma vez que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem seria como uma máquina.

844 O homem desfruta de seu livre-arbítrio desde seu nascimento?

– Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; ela vai evoluindo e seus objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.

845 As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?

– As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação; conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Veja a questão 361.)

846 O organismo tem influência sobre os atos da vida? E se tem, ela não acaba anulando o livre-arbítrio?

– O Espírito está certamente influenciado pela matéria que o pode entravar em suas manifestações; eis por que, nos mundos onde os corpos são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade. Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o transmite, e não seus órgãos. Aquele que canaliza o pensamento para a vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez que age assim por sua vontade. (Veja a questão 367 e segs. – “Influência do organismo”.)

847 A anormalidade das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?

– Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental, como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência. Está aí a ação da matéria. (Veja a questão 371 e seguintes)

848 Os desatinos das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez é desculpa para atos condenáveis?

– Não, porque o bêbado voluntariamente se privou de sua razão para satisfazer paixões brutais; em vez de uma falta, comete duas.

849 No homem primitivo, a faculdade dominante é o instinto ou o livre-arbítrio?

– É o instinto, o que não o impede de agir com total liberdade em certas circunstâncias; como a criança, ele aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Porém, como vós, sois mais esclarecidos do que um selvagem e também mais responsáveis pelo que fazeis.

850 A posição social não é, algumas vezes, um obstáculo à total liberdade dos atos?

– O mundo tem, sem dúvida, suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade do pouco esforço que fazeis para superar os obstáculos.

Fatalidade

851 Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio?

– A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.

852 Há pessoas que parecem ser perseguidas por uma fatalidade, independentemente de seu modo de agir; a infelicidade não é um destino?

– São, talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas definitivamente não deveis acusar o destino pelo que, freqüentemente, é apenas a conseqüência de vossas próprias faltas. Nos males que vos afligem, esforçais-vos para que vossa consciência esteja pura, e já vos sentireis bastante consolados.

☼ As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar de acordo com nosso caráter e posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir nossos fracassos à sorte ou ao destino, e não à nossa própria falta. Se a influência dos Espíritos contribui para isso algumas vezes, podemos sempre nos defender dessa influência afastando as idéias que nos sugerem, quando são más.

853 Algumas pessoas mal escapam de um perigo mortal para logo cair em outro; parece que não teriam como escapar à morte. Não há fatalidade nisso?

– A fatalidade só existe, no verdadeiro sentido da palavra, apenas no instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, não o podeis evitar.

853 a Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a hora não é chegada?

– Não, não morrereis, e sobre isso há milhares de exemplos; mas quando a hora chegar, nada poderá impedir. Deus sabe por antecipação qual o gênero de morte que terás na Terra e, muitas vezes, vosso Espírito também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.

854 Por causa da inevitável hora da morte, as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?

– Não. As precauções que tomais são sugeridas para evitar a morte que vos ameaça, são meios para que ela não ocorra.

855 Qual é o objetivo da Providência ao nos fazer correr dos perigos que não têm conseqüências?

– Quando vossa vida é colocada em perigo, é uma advertência que vós mesmo desejastes, a fim de vos desviardes do mal e vos tornardes melhor. Quando escapais desse perigo, ainda sob a influência do risco que passastes, refletis seriamente, conforme a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos sobre vós para vos melhorardes. O mau Espírito, voltando a tentação (digo mau subentendendo o mal que ainda existe nele), pensa que escapará do mesmo modo a outros perigos e novamente deixa se dominar pelas paixões. Pelos perigos que correis, Deus vos lembra de vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinardes a causa e a natureza do perigo, vereis que, muitas vezes, as conseqüências são a punição de uma falta cometida ou de um dever não cumprido. Deus vos adverte assim para vos recolherdes em vós mesmos e vos corrigirdes. (Veja as questões 526 e 532.)

856 O Espírito sabe por antecipação como desencarnará?

– Sabe que o gênero de vida escolhido o expõe a desencarnar mais de uma maneira do que de outra. Sabe igualmente quais as lutas que terá de enfrentar para evitá-la e, se Deus o permitir, não fracassará.

857 Há homens que enfrentam os perigos dos combates com a convicção de que sua hora não chegou; há algum fundamento nessa confiança?

– Freqüentemente, o homem tem o pressentimento de seu fim, como pode ter o de que não morrerá ainda. Esse pressentimento vem por meio dos seus protetores, que querem adverti-lo para estar pronto para partir, ou estimulam sua coragem nos momentos em que é mais necessária. Pode vir ainda pela intuição que tem da existência escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir. (Veja as questões 411 e 522.)

858 Por que os que pressentem a morte a temem menos que os outros?

– É o homem que teme a morte e não o Espírito; aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: ele a compreende como sua libertação e a espera.

859 Se a morte não pode ser evitada, ocorre o mesmo com todos os acidentes que nos atingem no decorrer da vida?

– Freqüentemente esses acidentes são pequenas coisas para as quais podemos vos prevenir e, algumas vezes, fazer com que as eviteis, dirigindo vosso pensamento, porque não gostamos de vos ver sofrer; mas isso é de pouca importância para a vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente, consiste apenas na hora em que deveis nascer e morrer.

859 a Há fatos que, forçosamente, devam acontecer e que a vontade dos Espíritos não podem afastar?

– Sim, mas vós, antes de encarnar, vistes e pressentistes quando fizestes vossa escolha. Entretanto, não acrediteis que tudo o que acontece está escrito, como se diz. Um acontecimento é, muitas vezes, a conseqüência de um ato que praticastes por livre vontade, caso contrário o acontecimento não teria ocorrido. Se queimais o dedo, é conseqüência de vossa imprudência e ação sobre a matéria. Apenas as grandes dores, os acontecimentos importantes que podem influir na evolução moral, são previstos por Deus, já que são úteis para a vossa depuração e instrução.

860 O homem, por sua vontade e ações, pode fazer com que os acontecimentos que deveriam ocorrer não ocorram, e vice-versa?

– Pode, desde que esse desvio aparente caiba na ordem geral da vida que escolheu. Depois, para fazer o bem, como é seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, especialmente aquele que poderia contribuir para um mal maior.

861 O homem que comete um homicídio sabe, ao escolher sua existência, que se tornará um assassino?

– Não. Sabe que, escolhendo uma determinada espécie de vida,poderá ter a possibilidade de matar um de seus semelhantes, mas não sabe se o fará porque há nele, quase sempre, uma decisão antes de cometer qualquer ação; portanto, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre para fazê-la ou não. Se o Espírito soubesse antecipadamente que, como homem, deveria cometer um assassinato, é porque isso estava predestinado. Sabei que ninguém foi predestinado ao crime e todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre-arbítrio.

Além disso, confundis sempre duas coisas bem distintas: os acontecimentos materiais da vida e os atos da vida moral. Se algumas vezes existe fatalidade, é nos acontecimentos materiais cuja causa está fora de vós e são independentes de vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem, que sempre tem, conseqüentemente, a liberdade de escolha. Para esses atos, nunca existe fatalidade.

862 Existem pessoas para as quais nada sai bem e que um mau gênio parece perseguir em todas as suas ações; não está aí o que podemos chamar de fatalidade?

– É uma fatalidade, se quiserdes chamar assim, mas é decorrente da escolha que essa pessoa fez para a presente existência, porque há pessoas que quiseram ser provadas por uma vida de decepção, para exercitar sua paciência e sua resignação. Não acrediteis, entretanto, que essa fatalidade seja absoluta; muitas vezes é o resultado do falso caminho que tomaram e que nada têm a ver com sua inteligência e suas aptidões. Aquele que deseja atravessar um rio a nado sem saber nadar tem grande probabilidade de se afogar; assim é com a maioria dos acontecimentos da vida. Se o homem somente empreendesse coisas compatíveis e de acordo com suas capacidades, quase sempre teria êxito. O que faz com que se perca é seu amor-próprio e sua ambição, que o fazem sair de seu caminho e o induzem a considerar como vocação o desejo de satisfazer certas paixões. Ele fracassa e é por sua culpa; mas, em vez de admiti-la espontaneamente, prefere acusar sua estrela. Seria melhor ter sido um bom trabalhador e ganho honestamente a vida do que ser um mau poeta e morrer de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse se colocar em seu lugar.

863 Os costumes sociais não obrigam o homem a seguir determinado caminho em vez de outro, e ele não está submetido ao controle da opinião geral na escolha de suas ocupações? O que se chama de respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?

– São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus. Se a eles se submetem, é porque lhes convêm, e isso é ainda um ato de seu livre-arbítrio, uma vez que, se quisessem, poderiam libertar-se deles; então, por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar, mas seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a abandoná-lo. Ninguém levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública, enquanto Deus levará em conta o sacrifício que fizerem à sua vaidade. Isso não quer dizer que seja preciso afrontar essa opinião sem necessidade, como fazem algumas pessoas que têm mais originalidade do que verdadeira filosofia. Há tanto desatino em alguém se fazer objeto de crítica ou parecer um animal selvagem quanto existe sabedoria em descer voluntariamente e sem reclamar, quando não se pode permanecer no topo da escala.

864 Existem pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?

– Freqüentemente porque elas sabem orientar-se melhor; mas isso pode ser também um gênero de prova. O sucesso as embriaga; elas confiam em seu destino e freqüentemente acabam pagando mais tarde esses mesmos sucessos com cruéis revezes, que poderiam ter evitado com a prudência.

865 Como explicar a sorte que favorece certas pessoas nas circunstâncias em que nem a vontade nem a inteligência interferem? O jogo, por exemplo?

– Alguns Espíritos escolheram antecipadamente certas espécies de prazer; a sorte que os favorece é uma tentação. Quem ganha como homem perde como Espírito; é uma prova para seu orgulho e sua cobiça.

866 A fatalidade que parece marcar os destinos materiais de nossa vida seria, também, o efeito de nosso livre-arbítrio?

– Vós mesmos escolhestes vossa prova; quanto mais for rude e melhor a suportardes, mais vos elevareis. Aqueles que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que permanecem estacionários. Assim, o número de desafortunados ultrapassa em muito o dos felizes neste mundo, já que os Espíritos procuram, na maior parte, a prova que será mais proveitosa. Eles vêm muito bem a futilidade de vossas grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre inquieta, apesar da ausência da dor. (Veja a questão 525 e seguintes)

867 De onde vem a expressão nascer sob uma boa estrela?

– Velha superstição que ligava as estrelas ao destino de cada homem. É uma simbologia que algumas pessoas fazem a tolice de levar a sério.

Conhecimento do futuro

868 O futuro pode ser revelado ao homem?

– Em princípio, o futuro é desconhecido e apenas em casos raros ou excepcionais Deus permite que seja revelado.

869 Com que objetivo o futuro é oculto ao homem?

– Se conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade, porque seria dominado pelo pensamento de que, se uma coisa deve acontecer, não tem por que se preocupar, ou procuraria dificultar o acontecimento. Deus quis que assim fosse, para que cada um cooperasse no cumprimento das coisas, até mesmo daquelas a que gostaria de se opor. Assim, preparais, vós mesmos, freqüentemente sem desconfiar disso, os acontecimentos que sucederão no curso de vossa vida.

870 Mas se é útil que o futuro seja oculto, por que Deus permite algumas vezes sua revelação?

– Permite, quando esse conhecimento prévio deva facilitar o cumprimento de algo em vez de dificultá-lo, ficando obrigado o homem a agir de modo diferente do que faria sem esse conhecimento. Além disso, é, freqüentemente, uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode despertar pensamentos bons ou maus. Se um homem souber, por exemplo, que receberá uma herança com que não contava, pode ser que essa revelação desperte nele a cobiça, pela expectativa de aumentar seus prazeres terrestres, pelo desejo de se apossar de imediato da herança, desejando, talvez, a morte daquele que lhe deve deixar a fortuna. Ou, então, essa perspectiva pode despertar-lhe bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a predição não se cumpre, sofrerá uma outra prova: a decepção. Mas ele não terá, por isso, mérito ou demérito pelos pensamentos bons ou maus que a expectativa do acontecimento ocasionou.

871 Uma vez que Deus sabe tudo, sabe, igualmente, se um homem deve fracassar ou não numa prova? Nesse caso, qual é a necessidade dessa prova, que nada acrescentará ao que Deus já sabe a respeito desse homem?

– É o mesmo que perguntar por que Deus não criou o homem perfeito e realizado; (Veja a questão 119.) por que o homem passa pela infância antes de atingir a idade adulta. (Veja a questão 379.) A prova não tem a finalidade de esclarecer a Deus sobre o mérito dessa pessoa, visto que sabe perfeitamente para que a prova lhe serve, mas, sim, para a deixar com toda a responsabilidade de sua ação, uma vez que é livre para fazer ou não. Tendo o homem a escolha entre o bem e o mal, a prova tem a finalidade de colocá-lo em luta com a tentação do mal e lhe deixar todo o mérito da resistência. Embora saiba muito bem, antecipadamente, se triunfará ou não, Deus não pode, em Sua justiça, puni-lo nem recompensá-lo por um ato que ainda não foi praticado. (Veja a questão 258.)

☼ Assim acontece entre os homens. Por mais capaz que seja um estudante, qualquer certeza que se tenha de vê-lo triunfar, não se confere a ele nenhum grau sem exame, ou seja, sem prova; do mesmo modo, o juiz não condena um acusado senão por um ato consumado e não por prever que ele possa consumar esse ato.

Quanto mais se examinam as conseqüências que resultariam para o homem se tivesse o conhecimento do futuro, mais se vê quanto a Providência foi sábia em ocultá-lo. A certeza de um acontecimento feliz o mergulharia na inércia; a de um acontecimento infeliz, no desencorajamento; tanto em um quanto em outro, suas forças estariam paralisadas. Por isso o futuro é apenas mostrado ao homem como um objetivo que deve atingir por seus esforços, mas sem conhecer o processo pelo qual deve passar para atingi-lo. O conhecimento de todos os incidentes do caminho lhe diminuiria a iniciativa e o uso de seu livre-arbítrio; ele se deixaria levar pela fatalidade dos acontecimentos, sem exercer suas aptidões. Quando o sucesso de uma coisa é assegurado, ninguém se preocupa mais com ela.

Resumo teórico da motivação das ações do homem

872 A questão de ter a vontade livre, isto é, o livre-arbítrio, pode se resumir assim: a criatura humana não é fatalmente conduzida ao mal; os atos que pratica não estavam antecipadamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, como prova e expiação, escolher uma existência em que terá a sedução para o crime, seja pelo meio em que se encontre ou pelos atos em que tomará parte, mas está constantemente livre para agir ou não. Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas, e no estado corporal, na disposição de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que estamos voluntariamente submetidos. Cabe à educação combater essas más tendências; ela o fará utilmente quando estiver baseada no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral será possível modificá-la, como se modifica a inteligência pela instrução, e como a higiene, que preserva a saúde e previne as doenças, modifica o temperamento. O Espírito livre da matéria, no intervalo das encarnações, faz a escolha de suas existências corporais futuras, de acordo com o grau de perfeição que atingiu, e nisso, como dissemos, consiste principalmente o seu livre-arbítrio. Essa liberdade não é anulada pela encarnação. Se cede à influência da matéria é porque fracassa nas próprias provas que escolheu, e para ajudá-lo a superá-las pode evocar a assistência de Deus e dos bons Espíritos. (Veja a questão 337.)

Sem o livre-arbítrio o homem não teria nem culpa na prática do mal, nem mérito no bem; e isso é igualmente reconhecido no mundo, onde sempre se faz censura ou elogio à intenção, ou seja, à vontade; portanto, quem diz vontade diz liberdade. Eis por que o homem não pode justificar ou desculpar suas faltas atribuindo-as ao seu corpo sem abdicar da razão e da condição de ser humano para se igualar ao irracional. Se o corpo humano fosse responsável pela ação para o mal, o seria igualmente na ação para o bem. Entretanto, quando o homem faz o bem, tem grande cuidado para evidenciar o fato em seu favor, como mérito seu, e não exalta ou gratifica seus órgãos. Isso prova que, instintivamente, ele não renuncia, apesar da opinião de alguns filósofos sistemáticos, ao mais belo dos privilégios de sua espécie: a liberdade de pensar.

A fatalidade, como se entende geralmente, faz supor que todos os acontecimentos da vida estão prévia e irrevogavelmente decididos, e estão na ordem das coisas, seja qual for sua importância. Se assim fosse, o homem seria uma máquina sem vontade. Para que serviria sua inteligência, uma vez que em todos os atos seria invariavelmente dominado pelo poder do destino? Uma doutrina assim, se fosse verdadeira, teria em si a destruição de toda liberdade moral; não haveria mais responsabilidade para o homem e, conseqüentemente, nem bem, nem mal, nem crimes, nem virtudes. Deus, soberanamente justo, não poderia castigar suas criaturas por faltas que não dependeram delas nem recompensá-las pelas virtudes das quais não teriam o mérito. Uma lei assim seria, além disso, a negação da lei do progresso, porque o homem que esperasse tudo do destino nada tentaria para melhorar sua posição, já que não conseguiria mudá-la nem para melhor nem para pior.

A fatalidade não é, entretanto, uma idéia vã; ela existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí cumpre, por conseqüência do gênero de existência que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre, fatalmente, todas as alternâncias dessa existência e todas as tendências, boas ou más, que lhe são próprias; porém, termina aí a fatalidade, porque depende de sua vontade ceder ou não a essas tendências. O detalhe dos acontecimentos depende das circunstâncias que ele mesmo provoca por seus atos e sobre as quais os Espíritos podem influenciar pelos pensamentos que sugerem. (Veja a questão 459.)

A fatalidade está, portanto, para o homem, nos acontecimentos que se apresentam, uma vez que são a conseqüência da escolha da existência que o Espírito fez. Pode deixar de ocorrer a fatalidade no resultado dos acontecimentos, quando o homem, usando de prudência, modifica-lhes o curso. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral.

É na morte que o homem está submetido, de uma maneira absoluta, à implacável lei da fatalidade, porque não pode escapar da sentença que fixa o fim de sua existência, nem do gênero de morte que deve interrompê-la.

De acordo com a opinião geral, o homem possuiria todos os seus instintos em si mesmo; eles procederiam de seu próprio corpo, pelos quais não poderia ser responsável, ou de sua própria natureza, na qual pode encontrar uma desculpa, para si mesmo, dizendo que não é sua culpa, uma vez que foi criado assim.

A Doutrina Espírita é evidentemente muito mais moral: admite no homem o livre-arbítrio em toda sua plenitude e, ao lhe dizer que, se faz o mal, cede a uma má sugestão exterior, deixa-lhe toda a responsabilidade, uma vez que reconhece seu poder de resistir, o que é evidentemente mais fácil do que lutar contra sua própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina

Espírita, não há sedução irresistível: o homem pode sempre fechar os ouvidos à voz oculta do obsessor que o induz ao mal em seu íntimo, assim como pode fechá-los quando alguém lhe fala; pode fazer isso por sua vontade, ao pedir a Deus a força necessária e rogando a assistência dos bons Espíritos. É o que Jesus nos ensina na sublime prece do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

Essa teoria que mostra a causa determinante dos nossos atos ressalta evidentemente de todo o ensinamento dado pelos Espíritos. Não é apenas sublime em moralidade, mas acrescentaremos que eleva o homem a seus próprios olhos. Mostra-o livre para repelir um domínio obsessor, como pode fechar sua casa aos importunos. Não é mais uma máquina que age por um impulso independente de sua vontade; é um ser racional, que escuta, julga e escolhe livremente um entre dois conselhos. Apesar disso, o homem não está impedido de agir por sua iniciativa, por impulso próprio, já que, definitivamente, é apenas um Espírito encarnado que conserva, sob o corpo, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito. As faltas que cometemos têm, portanto, sua origem na imperfeição de nosso próprio Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral que terá um dia, mas que nem por isso tem seu livre-arbítrio limitado. A vida encarnada lhe é dada para se depurar de suas imperfeições pelas provas que passa, e são precisamente essas imperfeições que o tornam mais fraco e acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que aproveitam para se empenhar em fazê-lo fracassar na luta. Se sai vencedor, eleva-se; se desperdiça a oportunidade e fracassa, permanece o que era, nem pior, nem melhor: é uma prova que terá de recomeçar, e isso pode durar muito tempo. Quanto mais se depura, mais seus pontos fracos diminuem e menos se expõe àqueles que procuram incitá-lo ao mal; sua força moral cresce em razão de sua elevação e os maus Espíritos se afastam dele.

A raça humana é constituída tanto de Espíritos bons quanto de maus, que estão encarnados neste planeta, e como a Terra é um dos mundos menos avançados, nela se encontram mais Espíritos maus do que bons; por isso há tanta perversidade aqui.

Façamos, portanto, todos os esforços para não voltarmos aqui após essa existência e merecermos ser admitidos num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina absoluto, e lembraremos de nossa passagem pela Terra apenas como um exílio temporário.

A Lei de Igualdade - O Livro dos Espíritos

Igualdade natural

803 Todos os homens são iguais diante de Deus?

– Sim, todos tendem ao mesmo objetivo e Deus fez suas leis para todos. Muitas vezes, dizeis: “O Sol nasce para todos”e dizeis aí uma verdade maior e mais geral do que pensais.

☼ Todos os homens são submissos às mesmas leis da natureza; todos nascem com a mesma fraqueza, sujeitos às mesmas dores, e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não deu a nenhum homem superioridade natural nem pelo nascimento, nem pela morte: todos são iguais diante de Deus.

Desigualdade das aptidões

804 Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os homens?

– Deus criou todos os Espíritos iguais; mas, como cada um viveu mais ou menos, conseqüentemente, adquiriu maior ou menor experiência; a diferença está na experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio. Daí uns se aperfeiçoarem mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. A variedade dessas aptidões é necessária, para que cada um possa concorrer com os desígnios da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais. O que um não pode ou não sabe fazer o outro faz; é assim que cada um tem o seu papel útil. Depois, todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é natural que habitantes de mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso, venham aqui habitar para dar o exemplo. (Veja a questão 361.)

805 Ao passar de um mundo superior a outro inferior, o Espírito conserva a integridade das faculdades adquiridas?

– Sim, já dissemos, o Espírito que progrediu não regride; pode escolher, no estado de Espírito, um corpo mais grosseiro ou uma posição mais precária do que a anterior, mas tudo isso deve sempre lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir. (Veja a questão 180.)

☼ Assim, a diversidade das aptidões entre os homens não tem relação com a natureza íntima de sua criação, mas do grau de aperfeiçoamento que tenha alcançado como Espírito, durante as várias encarnações. Deus, portanto, não criou a desigualdade das faculdades ou aptidões, mas permitiu que Espíritos de diferentes graus de desenvolvimento mantivessem permanente contato, a fim de que os mais avançados pudessem ajudar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, tendo necessidade uns dos outros, praticassem a lei de caridade que deve uni-los.

Desigualdades sociais

806 A desigualdade das condições sociais é uma lei da natureza?

– Não. É obra do homem e não de Deus.

806 a Essa desigualdade desaparecerá um dia?

– Apenas as Leis de Deus são eternas. Vós não vedes essa desigualdade se apagar pouco a pouco todos os dias? Desaparecerá juntamente com o predomínio do orgulho e do egoísmo, apenas restará a diferença do merecimento. Chegará o dia em que os membros da grande família dos filhos de Deus não se olharão como de sangue mais ou menos puro, porque apenas o Espírito é mais ou menos puro, e isso não depende da posição social.

807 O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição social para oprimir o fraco em seu proveito?

– Esses se lamentarão: infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos: renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os outros suportar. (Veja as questões 273 e 684.)

Desigualdade das riquezas

808 A desigualdade das riquezas não tem origem na desigualdade das aptidões, que dá a uns maiores meios de aquisição do que a outros?

– Sim e não; e da astúcia e do roubo, que me dizeis vós?

808 a Mas a riqueza herdada, portanto, não é fruto das más paixões?

– Que sabeis disso? Voltai à origem dela e vereis que nem sempre é pura. Sabeis lá se no princípio não foi fruto de roubo ou de injustiça? Porém, além da origem, que pode não ser boa, acreditais que a cobiça da riqueza, mesmo da bem adquirida, os desejos secretos que se concebem para possuí-la o mais rapidamente possível sejam sentimentos louváveis? É isso que Deus julga e vos asseguro que esse julgamento é mais severo do que o dos homens.

809 Se uma riqueza foi mal adquirida, os que a herdam mais tarde são responsáveis por isso?

– Sem dúvida, eles não são responsáveis pelo mal que outros fizeram, principalmente porque ignoram o fato; mas convém saber que a riqueza, muitas vezes, chega às mãos de um homem apenas para lhe favorecer a ocasião de reparar uma injustiça. Felizes os que compreenderem isso! Ao fazer justiça em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será levada em conta para ambos, porque, muitas vezes, quem cometeu a injustiça é que inspira essa ação aos herdeiros.

810 Sem se afastar da legalidade, qualquer um pode dispor de seus bens de uma maneira mais ou menos justa. É responsável, depois de sua morte, pelas disposições que haja feito?

– Toda ação tem seus frutos; os frutos das boas ações são doces; os outros são sempre amargos. Entendei bem isso, sempre.

811 A igualdade absoluta das riquezas é possível e alguma vez já existiu?

– Não, ela não é possível. A diversidade das faculdades e do caráter entre os homens se opõe a essa igualdade.

811 a Entretanto, há homens que acreditam que aí está o remédio para os males da sociedade; que dizeis disso?

– São posições sistemáticas ou ambições ciumentas; eles não compreendem que a igualdade com que sonham seria logo rompida pela força das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa praga social, e não procureis fantasias.

812 Se a igualdade das riquezas não é possível, ocorre o mesmo com o bem-estar?

– Não, porque o bem-estar é relativo e cada um poderia dele desfrutar, se o entendesse bem, já que o verdadeiro bem-estar é empregar o tempo ao seu gosto e não em trabalhos para os quais não se sente nenhum prazer; e como cada um tem aptidões diferentes, não haveria nenhum trabalho útil por fazer. O equilíbrio existe em tudo, é o homem que quer alterá-lo.

812 a Os homens poderão se entender?

– Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça.

813 Há pessoas que passam privação e miséria por sua culpa; a sociedade pode ser responsável por isso?

– Sim, já o dissemos: ela é muitas vezes a principal causa dessas situações; aliás, não é de sua responsabilidade cuidar da educação moral dos seus membros? É, muitas vezes, a má-educação que os levou a falsear o julgamento em vez de sufocar neles as tendências nocivas. (Veja a questão 685.)

Provas de riqueza e de miséria

814 Por que Deus deu a uns riquezas e poder e a outros a miséria?

– Para experimentar cada um de maneiras diferentes. Aliás, vós já o sabeis, essas provas foram os próprios Espíritos que escolheram e, muitas vezes, nelas fracassam.

815 Qual das duas provas é a mais terrível para o homem, a miséria ou a riqueza?

– Tanto uma como outra; a miséria provoca a lamentação contra a Providência; a riqueza estimula todos os excessos.

816 Se o rico tem mais tentações, não tem também mais meios de fazer o bem?

– É justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Suas necessidades aumentam com a riqueza e ele acredita nunca ter o suficiente.

☼ Neste mundo tanto as posições de destaque quanto a autoridade sobre seus semelhantes são provas tão arriscadas e difíceis para o Espírito quanto a miséria. Quanto mais se é rico e poderoso, mais se tem obrigações a cumprir e maiores são as possibilidades de fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e de seu poder.

A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos ligam à matéria e nos afastam da perfeição espiritual; é por isso que Jesus ensinou: “Em verdade vos digo que é mais fácil um camelo1 passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. (Veja a questão 266.)

Igualdade dos direitos do homem e da mulher

817 O homem e a mulher são iguais diante de Deus e têm os mesmos direitos?

– Sim; Deus deu a ambos a compreensão do bem e do mal e a capacidade de progredir.

818 De onde vem a inferioridade moral da mulher em alguns países?

– Do domínio injusto e cruel que o homem impôs sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Para os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito.

819 Com que objetivo a mulher é mais fraca fisicamente do que o homem?

– Para assinalar suas funções diferenciadas e particulares. Ao homem cabem os trabalhos rudes, por ser mais forte; à mulher, os trabalhos mais leves, e ambos devem se ajudar mutuamente nas provas da vida.

820 A fraqueza física da mulher não a coloca naturalmente sob a dependência do homem?

– Deus deu a uns a força para proteger o fraco, e não para que lhes imponham seu domínio.

☼ Deus apropriou a organização de cada ser às funções que deve realizar. Se deu à mulher menos força física, dotou-a, ao mesmo tempo, de uma maior sensibilidade em relação à delicadeza das funções maternais e a fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados.

821 As funções às quais a mulher é destinada pela natureza têm importância tão grande quanto as do homem?

– Sim, e até maiores; é ela quem dá ao homem as primeiras noções da vida.

822 Ambos, sendo iguais diante da lei de Deus, devem ser também diante da lei dos homens?

– É o primeiro princípio de justiça: não façais aos outros o que não quereis que vos façam.

822 a Assim, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher?

– De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada um esteja no seu devido lugar; que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um de acordo com sua aptidão. A lei humana, para ser justa, deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização, sua subjugação marcha com a barbárie. Os sexos, aliás, existem apenas no corpo físico; uma vez que os Espíritos podem encarnar em um ou outro, não há diferença entre eles nesse aspecto e, conseqüentemente, devem desfrutar dos mesmos direitos.

Igualdade diante do túmulo

823 De onde vem o desejo do homem de perpetuar sua memória com monumentos fúnebres?

– Último ato de orgulho.

823 a Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres, muitas vezes, não é feita pelos parentes que desejam honrar a memória do falecido e não pelo próprio falecido?

– Orgulho dos parentes que desejam glorificar a si mesmos. Nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações: é por amor-próprio, pelo mundo e para ostentar riqueza. Acreditais que a lembrança de um ser querido seja menos durável no coração do pobre, porque só pode colocar uma flor no túmulo do seu parente? Acreditais que o mármore salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra?

824 Reprovais de modo absoluto a pompa dos funerais?

– Não; quando honram a memória de um homem de bem, é justa e um bom exemplo.

☼ O túmulo é o local de encontro de todos os homens; ali terminam definitivamente todas as distinções humanas. É em vão que o rico tenta perpetuar sua memória nos monumentos grandiosos; o tempo os destruirá, como o corpo. Assim quer a natureza. A lembrança de suas boas e más ações será menos duradoura do que seu túmulo; a pompa dos funerais não o limpará de suas torpezas e não o fará subir um só degrau na hierarquia espiritual. (Veja a questão 320 e seguintes)

Camelo: ao tempo de Jesus, as cordas de amarrar navios eram feitas de pêlos de camelo e eram conhecidas como camelo (N. E.).

domingo, 20 de março de 2011

A Conversa

"el que siembra su maiz, que se coma su pilon" (Son)

Quem sou eu para ensinar alguém. Justamente eu, que cometo erros e mais erros em minha vida. Mas vão umas dicas aqui do meu mentor:

1) Tem momentos em que duas pessoas brigam. Isso tem para todo lado. E tem sempre um dos lados que deseja a reconciliação. E pode ter no outro lado quem não deseja ficar de bem.

Aquele que deseja fazer as pazes, uma boa notícia, você está certo e caso a outra pessoa não queira, tenha paciência, mas saiba que ganhou um ponto positivo com o Pai. Quanto mais sincera e evangelizada seja a sua vontade, desinteressadamente, maior seu mérito. Quanto mais você respeitar a decisão do próximo de não se reconciliar, melhor. Falar mal não é respeitar.

Aquele que não deseja a paz, que fecha a porta e ignora o anseio de conciliar, você deve ter suas razões, é possível entendê-lo. Mas esta atitude faz sentido quando o outro lado te ameaça. Se isso ocorrer, ok. Se não, reveja se não há um pouco de vingança em seus sentimentos.

2) Deixar o cônjuge falar é importante. Muitas vezes a falavra vai sendo sufocada durante anos. Uma amiga minha precisa falar, quer falar, mas o marido não a escuta, não quer escutar. Ele prefere "discutir por discutir, só pra ganhar a discussão". Parece minha mãe sofrendo com o meu pai...

Vale sempre a pena ouvir a quem se ama. Se o nosso amor não puder falar conosco, se não pudermos acolhe-lo, se não pudermos ajudá-lo, a quem ele recorrerá?

Muita vez somos aquele que dita as regras do casal. Não ouvimos com o coração nosso par. Imagina ouvir com o coração o que o outro tem a dizer. Temos que estimular o outro a dizer com liberdade, sem repressão. Bloquear, reprimir, limitar só fará com que a pessoa não consiga mais colocar para fora seus sentimentos.

Deixe-a falar, mesmo que fale bobagens. Procure mais do que as palavras que ela disse. Procure os sentimentos que estão por trás delas, a verdadeira reclamação, legítimo apelo. Pode ser que ela esteja querendo dizer algo que vai salvar a relação, não po-la em risco.

3) Quando queremos falar algo a alguém, nós devemos filtrar e realmente dizer aquilo que seja verdadeiro. Devemos sempre pensar bem nas críticas, ver se elas levam a algum lugar. Pode ser que mais de 80% sejam infundadas, mas no fundo do coração, os 20% são justos e são o que resolvem de fato a questão.

Ao invés de irmos nos justificando com oitenta, que trabalhemos os vinte.

Procurar ser claro e breve, carinhoso e acolhedor.

Quem tem filhos, independente de desejarem permanecer casados ou não, os pais têm obrigação de procurarem o diálogo, devem este esforço aos filhos.
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É necessário um casal estabelecer, antes de falar, o ambiente que eles terão para se entenderem. Amor, paz, compreensão, ajuda mútua, ouvir com o coração, ombro...

O outro tem o direito de falar. Vale para ambos. E temos o dever de ouvir e procurar entender bem onde a pessoa quer chegar com aquilo, quais são os seus medos, quais são as suas dúvidas.

Muitas vezes gostamos de exemplificar do que teorizar. E com isso usamos um exemplo prático, achando que isso nos faz entender, mas ao contrário, confunde mais. Dizer "não quero que você saia com suas amigas" é limitado e agressivo, não resolve nada. Dizer "você é linda e tenho medo que suas amigas te estimulem que você me traia, mesmo sabendo que você não faria isso me deixa mal" já é um grande começo. Coloque seus verdadeiros medos para fora, não tenha medo disso.

Partindo destas premissas buscar o diálogo com a finalidade do respeitoso entendimento, dentro da lei do amor.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Escutar e dar a chance do outro falar

Quantas vezes nós nos pegamos acreditando em fantasmas que não existem?

Quantas vezes olhamos o nosso próximo e temos medo dele fazer algo contra nós e depois descobrimos que isso foi um engano?

Quantas vezes vimos nossa opinião mudar ao longo do tempo?

Pois é, o outro tem direitos iguais aos nossos.

E aí?

Bem, um dia o outro resolve conversar com a gente. Conversar é uma coisa positiva, mas infelizmente rara. Provavelmente ele teve que romper barreiras para estar conosco, procurando se abrir. Valorizemos isso, valorizemos este esforço de nosso próximo de nos buscar para conversar, independente do que ele vai falar.

Muitas vezes ele vai falar de seus medos. Medos não são baseados em virtudes, mas nos defeitos. Medos são sentimentos que devemos colocar para fora para que possamos compreendê-lo e ir afastando-os. Medos são normalmente companheiros de nossas vidas, temos que conviver bem com eles, nunca sufocá-los.

Então o nosso próximo vem conversar conosco sobre seus medos. Duplo jubilo, pois ele vai falar e e vai tentar lidar com os seus medos.

Mas tem mais.

Suponha que o nosso próximo venha falar sobre algo que ele teme que nós façamos. Ou seja, nós é que estamos provocando medo nele. "Eu tenho medo de você ser um pai relapso", "acho que você nunca vai tomar jeito", "você já casou duas vezes, acho que vai me largar também", "tenho medo de você não me pagar o que me deve"...

Muitas vezes a pessoa não fala em medo, mas é medo. Normalmente a pessoa que disfarça o medo diz: você é assim e ponto. Afirma como se fosse verdade, mas na verdade é só uma suposição, pois atrás disso tem o medo.

Normalmente, como dissemos acima, os medos não se justificam, são parciais e não refletem a realidade daquele (ou da situação) que temos medo. Portanto, quando alguém fala de nós e do que tem de receios, normalmente chuta a bola na arquibancada.

Mas o que fazer com quem bate à nossa porta para se abrir para falar dos seus medos e o problema somos nós?

Ouvir pacientemente, conversar educadamente, manter a calma, ir esclarecendo as coisas, procurar identificar a dúvida da pessoa, não se ofender, acalmá-la em relação ao medo indevido, reconhecer seus erros quando realmente existirem, procurar ser claro e firme.

Não é fácil tudo isso, porém é o santo remédio. Imagine esta pessoa passar anos sem falar conosco do seus medos, pensando coisas equivocadas sobre nós mesmos.

Aproveitemos este grande momento com alegria. Dá um frio na barriga, mas com respeito e com amor, é hora da cirurgia que aliviará os dois lados.

Quantas vezes isso vai acontecer na vida de um casal? Um milhão de vezes. É bom aprendermos isso não é?

Saibamos que ao final de falar de seus medos, depois de conversarmos, o nosso próximo já não pensará mais do mesmo jeito que pensava antes, já vai dissipando as nuvens. Vale a pena.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Diferença entre o Elogio e o Reconhecimento

A nossa sociedade coloca o reconhecimento e o elogio como sinônimos, mas não são.

Elogio é algo rasteiro, superficial, que dizemos a uma pessoa para deixá-la bem. É a bajulação. Quando elogiamos o nosso tiro é diretamente no orgulho da pessoa. O elogio não ajuda a pessoa elogiada. Se ela acreditar no elogio, ela se enganará também. O elogio nos tira da realidade e nos colocar em zona de risco. Normalmente o elogio não tem lastro e vem acompanhado de "você é o máximo", "o melhor de todos" e outras frases sem conteúdo nenhum que não reconhecem nada.

Já o reconhecimento é mais profundo, pois entramos num estado de entendimento, de compreensão, de lucidez, vivenciando o momento e nos dirigimos a reconhecer de fato e de direito o que uma pessoa fez. Com isso, provocamos nesta pessoa um convite a entrar neste estado de entendimento, o que provoca nela um reconhecimento sobre si mesma, que a auxilia em sua reforma íntima. Se o elogio se endereça ao orgulho, o reconhecimento se endereça à humildade, ou seja ao coração da pessoa. Ser humilde não é se rebaixar ao máximo, mas sim buscar quem realmente somos, nem a mais, nem a menos.

Dá para sentir quando elogiamos e quando reconhecemos, é só começar a exercitar.

Assim como é possível sentir quando reconhecem um trabalho nosso e quando nos elogiam por elogiar.

Uma maneira de reconhecer algo de uma pessoa é dizer o que aquilo que ela fez realmente significou dentro de si e tirar dali uma simples verdade.

O elogio são fogos de artifício que logo somem no ar depois de grandiosa aparição. O reconhecimento é um sol brilhando dentro de uma região sombria.

O elogio não impulsiona a pessoa por muito tempo. O reconhecimento é pedra firme que a pessoa pisará por toda sua existência.

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No dicionário já dá para sentir a enorme diferença:

Significado de Elogio
s.m. Discurso em louvor de alguém: elogio acadêmico.
Louvor: fazer elogios a alguém.

Significado de Reconhecimento
s.m. Ato ou efeito de reconhecer: reconhecimento de um direito.
Lembrança de um benefício, gratidão por ele: testemunhar reconhecimento.
Declaração, confissão: reconhecimento de uma falta.
Exame, verificação: reconhecimento de um terreno.
Dir. Ato pelo qual se admite a existência de uma obrigação: reconhecimento de dívida.
Ato pelo qual se reconhece um governo legalmente constituído.
Militar Operação para obter informações sobre o inimigo em determinada zona.
Psicologia O fato de reconhecer o passado como passado: a memória admite a reprodução, o reconhecimento e a localização daquilo de que se recorda.
Falso reconhecimento, paramnésia de caráter patológico que se distingue por isto mesmo da ilusão do já visto.
Reconhecimento de firma, de assinatura, ato pelo qual se afirma a autenticidade de uma assinatura.
Reconhecimento de filho, ato pelo qual os pais reconhecem um filho natural.
Reconhecimento de utilidade pública, ato administrativo pelo qual se concede estatuto privilegiado a uma associação.

terça-feira, 15 de março de 2011

Falar de mim

Falar de mim é bem diferente de falar dos outros.

Quando falo de mim, falo de coisas que estão dentro de mim. Se eu consigo já falar de meus sentimentos, eles são tão verdadeiros, mesmo que sejam defeitos, que a pessoa que me ouve fica tocada.

Quando falo de meus sentimentos, é muito difícil que a pessoa que me ouve me ataque, me critique. Falar de mim é tão genuíno, tão puro e tão verdadeiro, que quem me ouve parece perceber o que eu sinto - e respeita isso.

Posso falar dos outros, mas isso será muito agressivo, pois o é quando falam do que eu sinto, penso e sou. Nas escolas de aprendizes devo ensinar sempre, como dirigente ou expositor, que devemos falar de nós, dar o nosso testemunho, não falar dos outros, não criticar os outros.

Se alguém me agride eu falo do que eu senti, de como eu me senti. Isso melhor situa a "discussão" de uma maneira melhor do que eu dizer que pessoa que me agrediu é isso ou aquilo.

Falar de mim é respeitar o outro. É respeitar a mim mesmo. Falar de mim é a única coisa que eu posso falar com propriedade, ou muito perto disso, se eu falar principalmente do que realmente senti.

Falo de mim, pois assim não falo do meu próximo.

Com uma postura desta eu posso ajudar ao próximo de que maneira? Se eu não posso dizer para a pessoa que ela é isso e isso e isso?

Quando eu for incentivar, não vou afirmar que a pessoa é assim ou assado. Taxar os outros, mesmo num comentário positivo, é restringir a pessoa a um limite.

Eu não sou nada que possa ser taxado. Meu próximo tão pouco é. Taxar os outros é apequenar o que os outros são.

Sentimentos não são para serem empacotados para presente. Sentimentos são o que são e a vida é o que é.

Estar à disposição

"E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça?" (Saulo de Tarso em Atos dos Apóstolos 9:6).

"Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra." (Jesus no Evangelho segundo João 4:34).


Sem muitas delongas, tenho me colocado à disposição de Deus para realizar o bem às pessoas ao meu redor.

Iniciando por mim, pois para me fazer o bem eu preciso me disciplinar, me respeitar e não me boicotar (por exemplo, claro).

Para os que estão ao meu redor vale o seguinte:

1. Ouvir sem julgar. Procurar entender o que as pessoas estão falando. Buscar sentir o sentimento delas. Olhar nos olhos, estar junto. A pessoa tem direitos iguais aos meus. Eu gostaria de ser acolhido.

2. A boa palavra auxilia sempre. Buscar no alto a boa inspiração para falar o que mais a pessoa precisa. Estar à disposição é se entregar ao bem, deixando que o mentor daquela pessoa se manifeste. O compromisso é com este anjo que fala e que nós somos os carteiros. Muitas vezes os mentores falam com muita firmeza, pois a pessoa precisa. Ou falam com extremo amor. De qualquer maneira, os mentores nunca passam raiva, ódio, violência. Sempre será algo que proporcione o crescimento. Não exagerar no falar.

3. Sempre há tempo de ajudar à alguém.

4. Estar atento ao lado e si mesmo. Buscar com os olhos a oportunidade de auxílio vindo em nossa direção.

5. As ajudas que podemos dar são sempre à conta gotas. Ter paciência e respeitar o limite do próximo.

6. Quando agradecerem, oriente que agradeçam a Deus e ao mentor da pessoa. É a mais pura verdade.

7. Orar pelos necessitados que bateram à nossa porta.

8. Quando alguém se abre, é como entrar na casa da pessoa e sentar no seu sofá. Muito respeito ao nosso anfitrião.

9. Não permitir que a euforia de auxiliar ao próximo tome conta, impedindo de auxiliarmos devidamenete.

10. Esquecer o bem que fizemos, pois muitas outras coisas temos que fazer. Não há tempo para se vangloriar ou sustentar posições.

Que eu estaja verdadeiramente à Sua disposição todos os dias de minha vida.

sábado, 12 de março de 2011

A Felicidade - By Zaki

"O que eu quero eu não tenho
O que eu não tenho eu quero ter
Não posso ter o que eu quero
E acho que isso não tem nada a ver"
(Renato Russo e Felipe Lemos em Conexão Amazônica)

A revolta do punk descrita no verso acima é muito mais freqüente conosco e com o nosso redor do que imaginamos.

É comum ficarmos tristes. Em algumas situações da vida podemos ficar abatidos. Em raros momentos da existência na carne podemos até entrar em depressão.

A tristeza é uma enfermidade em nossas almas que precisamos curar. Em mais de 90% dos casos de tristeza que temos são infundados. Ou seja, ficamos tristes por coisas que não deveríamos ficar.

Na cultura cubana, ao contrário da nossa, as pessoas não se permitem a pensamentos de tristeza tão facilmente. Com isso, o cubano resolve grande parte dos seus problemas assim: não vou ganhar nada ficando triste e choramingas, bola pra frente. Mas lá, com esta "não permissão" de se sentir triste, causa efeitos colaterais, pois quando existe os casos de depressão, nem a pessoa que está passando, nem seus amigos sabem como lidar com ela.

Estamos todos buscando a felicidade, como uma coisa que vem de fora de nós, uma coisa que nunca chega. Normalmente entendemos que a felicidade está nas coisas idealizadas que não temos. Mas a felicidade não é isso.

A felicidade é o nosso caminhar sobre a vida. Ser feliz é aceitar e ter alegria com o que tem. Com o corpo que tem, com a família, trabalho, amigos, atividades espirituais... Felicidade é o como fazemos as coisas, não as coisas que temos. Felicidade é SER e não TER.

Que optemos pela felicidade todos os dias, agradecendo a Deus pela vida, estando encarnados ou não, pelas oportunidades de aprendizados.

Que saibamos sempre valorizar o que temos. Sempre existe uma situação, de outras pessoas, a qual não suportaríamos. Não existe o caso do aluno que desperta quando sua caravana visita os lares de uma favela? E muitas vezes aquele favelado vive com alegria com o pouquíssimo que tem?

Olhe para aqueles que possuem muitas coisa e veja que algumas vezes eles não são felizes. Procure separar uma coisa da outra. Ter as coisas é uma coisa, ser feliz é outra. Observe que sentimentos podem estar junto de nós quando desejamos TER as coisas (casamento, casa, viagens, carros, dinheiro, beleza...): os sentimentos podem ser de inveja, cobiça, posse, ingratidão...

E que possamos entender que, após muito suor para conquistar as coisas materiais, ou posições, que isso realmente pode não nos trazer a verdadeira felicidade (que é pautada nas virtudes, não nos defeitos). E se por orgulho e egoísmo ficamos "felizes" em termos as coisas, com o tempo esta "felicidade" some e nos sentimos vazios. O que pode nos levar à depressão e à busca de termos mais coisas para sentirmos de novo aquela "felicidade".

Olhe para as pessoas que realmente são felizes. Vejam que são simples e desapegadas. Veja como são carinhosas com cada grama que possuem. Vamos seguí-las.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Desprendimento - By Zaki

Na vida estamos condenados a nascer e morrer, diz o ditado. Mas amplio, estamos condenados a perder alguém.

Não nascemos em árvores. Um bebe não se cria, alguém cuida dele. Sempre temos alguém junto de nós.

Num certo momento chega a hora de uma pessoa ir. A morte de parente ou entes queridos é algo que devemos respeitar dentro de nós, respeitar os nossos sentimentos, mesmo que seja o sentimento de alívio (quando após doloroso sofrimento a pessoa se vai).

Aceitar a morte, a separação, aceitar o sofrimento que a pessoa passou, aceitar os nossos sentimentos. Tudo isso faz parte do processo.

Precisamos nos educar a perder, colocar isso em nosso planejamento mental para a vida. Ficar preso à alguém ou a uma situação nos leva a grande obsessões (como agentes ou como quem a sofre).

Lembrar da vontade do Pai na hora do sofrimento é algo que nos fará bem. Nos ligar ao mentor também auxilia.

Se esquecemos logo a quem perdemos, quando é uma pessoa amada, num prazo menor de 2 anos, a cicatriz não estará totalmente curada. Se demoramos mais de 4 anos, é por que criamos uma certa enfermidade psicológica. Ir administrando isso é importante, é um respeito de que fazemos a nós mesmos.

A morte é uma renovação de vida e isso é sempre saudável. A vida nos empurra, mas podemos ajudá-la um pouco. Um esforço nosso de se arriscar no novo nos fará sempre muito bem.

E pedir ajuda aos amigos, se aconchegar nos colos dos outros, abraçar bastante, chorar no ombro, sorrir, ter contato com a natureza, criar novas rotinas, mudar o visual, mudar de hábitos... Isso tudo ajuda.

E quando sentir saudades, senti-la, não alimentá-la, mas não sufocá-la.

Buscar sempre a alegria.

Desprendimento - Emmanuel

Emmanuel

Se alguém dissesse aos nossos antepassados, na Vida Física, que eles não eram donos absolutos das posses que usufruíam, responderiam com a revolta e a zombaria, assinalando-lhes as palavras.
E, se acrescentássemos que eram eles simplesmente usufrutuários das propriedades de que se supunham senhores, não acreditariam, prosseguindo na mesma atitude de negação.
*
Isso, porém, não invalidaria a realidade, porquanto, eles todos, em momento certo, foram compelidos a transferir patrimônios que retinham a outras mãos.
*
A reflexão em torno disso, pode auxiliar extensamente aos nossos companheiros atuais, em estágio no mundo, porquanto estariam razoavelmente acordados para as Leis que regem a vida.
*
Admitamos ou não a força desses fatos, a verdade é que todos nós – os espíritos, em evolução , na Terra – quando no regime da reencarnação, recebemos os bens de que nos servimos, por empréstimos da Providência Divina, que, através deles, não somente nos propicia os benefícios da experiência nos aprendizados do cotidiano, mas também deles se vale para examinar a altura de nossos sentimentos, a nossa criatividade no trabalho, o nosso amor ao desprendimento, em auxílio dos outros, e a nossa capacidade de administração.


((Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier. Do livro “Hora Certa" - Edição GEEM)

Me abrir

Faz tempo que tenho recebido a orientação de me abrir, de falar com alguém sobre o que eu sinto. E ontem eu o fiz e me fez bem, me ajudou muito.

Me fez refletir sobre questões que eu normalmente passaria por cima.

Por exemplo, a aceitação de como as coisas são, de que eu não tenho controle sobre o outro. Mas também não tenho total controle sobre mim mesmo. Ou seja, numa situação de estiramento, melhor que eu fique no estaleiro por um tempo, me recuperando. Não dá para apressar o rio.

Relendo meus post anteriores, percebo que nunca me faltou esperanças das coisas ficarem bem.

Hoje foi um dia em que quis elaborar mais um pouco os meus sentimentos. Me sinto bem melhor. Reconheço que devo me esforçar diariamente para me equilibrar, me reformar, dar o exemplo de verdade.

Meu sentimento hoje é de concordia. Deus sabe o quanto eu desejo a paz e a fraternidade.

Obrigado por hoje, por eu aceitar um pouco mais as minhas limitações e as dos outros.

Obrigado por este calor gostoso no meu peito, obrigado por me dar a luz, me auxiliar. Grato por me orientar e ter feito o dia de hoje muito especial.

Eu amo muito e sinto muita falta de amor.

terça-feira, 8 de março de 2011

Noel Rosa - By Zaki

Para ilustrar este post, vamos colocar a música aqui de Noel Rosa, Último Desejo, como base para entendermos a sua genialidade.

"Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo numa festa de São João.
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar, sem violão.

Perto de você me calo, tudo penso e nada falo.
Tenho medo de chorar.

Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo você não pode negar:

Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga se você me quer ou não.
Diga que você me adora, que você lamenta e chora a nossa separação.

Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto, que meu lar é o botequim.
Que eu arruinei sua vida, que eu não mereço a comida que você pagou pra mim."


Tudo o que está aí é meia mentira, mas é verdade inteira. Em 9 frases simples, com tamanha simplicidade que após 80 anos, o vocabulário é plenamente compreendido. Mais ainda, cada vez que o tempo passa, vamos compreendendo o insight de Noel em compreender uma separação dolorosa.

Noel consegue se colocar no lugar do outro, consegue mostrar harmonia no turbilhão de sentimentos que inundam o coração num momento como este, muitos sentimentos contraditórios, castelo de cartas que caem e se montam rapidamente.

A música vale para as duas situações de término. (1) Noel foi deixado pela mulher que mais amou, aquela que o trocou pelo Coronel. (2) Noel deixa a mulher dedicada com quem se casou (Laurinda), mas que não a amava devidamente (quem vai saber?). Na situação (1), Noel engole em seco quando vê a ex. Ele a deseja por todos os poros, mas foi tão violentamente ferido que se arma na presença da (ex) amada. Na situação (2), ele sente de todo o coração que falhou como marido, que poderia ter dado muito mais a quem tanto lhe deu. Um verso para duas situações. Uma verdade: separação é algo traumático. A perda é algo que temos que passar, assim como o nascimento e a morte.

Até na brincadeira de ter 2 verdades para 2 grupos sociais (pessoas amigas e pessoas que ele "destesta"), Noel acerta: cada um recebe a verdade que merece. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. Ou seja, temos que ser merecedores para ouvir a verdadeira verdade, que sempre é mais branda e justa que um noticiário policial. Realmente as duas verdades coexistiram, ele foi boêmio inveterado e um companheiro amável.

Neste carnaval 2011, a TV Cultura mostrou um especial sobre o Noel, que antecipou este post que estava na gaveta. Sambistas de todo o Brasil buscam bons compositores e encontram em Noel uma infindável obra que mostra o que eles adoram: coisas do povo, verdades antes ocultas que o poeta levanta. Noel observava, sentia, estava junto daquele que dormia ao relento, daquele que tomava um café com leite, daquele que trabalhava em órgão público... Noel se colocava no lugar dos outros e ouvia o coração, traduzindo em versos, esculpidos em poucas frases, poucas palavras.

A alegria sempre foi uma marca dele, encarnado ou em espírito. Apesar da vida dura, da época difícil da crise de 1929, Noel buscava na piada, na brincadeira, dar alegria a si próprio e aos seus amigos. Alegrava a todo um povo e agora alegra às gerações.

Se os jovens músicos desejam fazer música boa, que estudem a história da MPB, que toquem e cantem, eduquem os ouvidos e as canetas. Mesmo que inovem, que transgrida, mas que o façam com cultura, com classe, pois assim fizeram João Gilberto, Caetano Veloso, Renato Russo e tantos outros. Mas fizeram com classe.

O ponto de vista do outro é importante. A democracia não é o estágio máximo de nossa sociedade. Precisamos criar um novo sistema, maior que a democracia (não o seu inverso), que possamos ouvir a todos, ouvir as minorias, ouvir os ocultos corações que não se manifestam. Precisamos trabalhar em conciliação, de maneira mais colegiada. Um condomínio residencial, sabemos, não funciona pela democracia, mas pela conciliação. Noel sabia disso e por isso se colocava no lugar do outro. Por isso respeitava as pessoas e achava agressivo demais falar a ou b de alguém.

Esta canção mostra que amamos aqueles com que convivemos. O teatro da vida nos afastam de pessoas que amamos por nossa falta de compreensão do amor de Deus.

Também mostra que o que ele pede que ela diga é o que ele gostaria de dizer. É a projeção pura e simples. O que ele pede é o que ele sente. Ele sente tudo aquilo que está escrito. E quiçá ela também sinta, também compartilhe. Ambos com o coração partido.

Musica singela, curta, perfeita, que passam diversas informações em poucas palavras, curtas e preciosas frases.

O Poeta da Vila mostra que devemos nos preservar da dor. Se alimentar de fel só ferirá mais o peito. Vale mais a dura cicatrização da fossa que a abertura maior de uma ferida. Que descanse.

Nosso grande poeta, não só samba, mas do foxtrot, morreu cedo, aos 26 anos, em pouco tempo fez mais de 200 canções, sendo que algumas "novas" só apareceram depois de décadas de sua morte (http://pt.wikipedia.org/wiki/Noel_Rosa). Do lado de lá voltou a trabalhar, mas para Jesus, sem perder o brilho poético, o ritmo e o bom humor. Vários grupos de jovens espíritas cantam suas canções mediúnicas. Noel trabalha do lado de lá no tete a tete como povo, ajudando no corpo a corpo, na conversa, na compreensão, no "estar junto", a orientar àqueles que precisam de um bom rumo. Noel é homem do povo, vai ajudar as pessoas onde elas estiverem, em seus desregramentos ou não.

Meu encontro com ele: Noel surgiu em minha vida em 1978, aos 9 anos, quando o escolhi para realizar um trabalho de língua pátria (língua portuguesa). Fiz uma biografia em forma de jornal, transcrevi num estensil e rodei para todos os alunos da turma. Minha mãe me ajudou a ler e compreender aquele jovem que tanto talento tinha e o quanto era reverenciado por Maria Bethania e cia. Só não entendi como ele podia ter sido tão desleixado com a sua saúde? Noel era um amigo para mim, que me acompanharia em toda a minha vida. Me felicitou o fato dele ser o cantor principal da juventude de Chico Xavier, são da mesma geração, do mesmo ano. Me felicitou ver as suas canções como espírito e ver um grande centro em SP com o seu nome. Só abriu mais ainda os meus olhos (e ouvidos) para esta figurinha amiga que me alegrou os dias mais tristes.

http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/04/noel-rosa.html

A esposa de Kardec

Amélie Gabrielle Boudet - (Esposa de Allan Kardec) - 1795-1869

Madame Rivail (Sra. Allan Kardec) nasceu em Thiais, cidade do menor e mais populoso Departamento francês – o Sena, aos 2 do Frimário do ano IV, segundo o Calendário Republicano então vigente na França, e que corresponde a 23 de Novembro de 1795.

Filha de Julien-Louis Boudet, proprietário e antigo tabelião, homem portanto bem colocado na vida, e de Julie-Louise Seigneat de Lacombe, recebeu, na pia batismal o nome de Amélie-Gabrielle Boudet.

A menina Amélie, filha única, aliando desde cedo grande vivacidade e forte interesse pelos estudos, não foi um problema para os pais, que, a par de fina educação moral, lhe proporcionaram apurados dotes intelectuais.

Após cursar o colégio primário, estabeleceu-se em Paris com a família, ingressando numa Escola Normal, de onde saiu diplomada em professora de 1a. classe.

Revela-nos o Dr. Canuto de Abreu que a senhorinha Amélie também foi professora de Letras e Belas Artes, trazendo de encarnações passadas a tendência inata, por assim dizer, para a poesia e o desenho. Culta e inteligente, chegou a dar à luz três obras, assim nomeadas: “Contos Primaveris”, 1825; “Noções de Desenho”, 1826; “O Essencial em Belas Artes”, 1828.

Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, quis o Destino que um dia a Srta. Amélie Boudet deparasse com o Professor Hippolyte Denizard Rivail.

De estatura baixa, mas bem proporcionada, de olhos pardos e serenos, gentil e graciosa, vivaz nos gestos e na palavra, denunciando inteligência admirável, Amélie Boudet, aliando ainda a todos esses predicados um sorriso terno e bondoso, logo se fez notar pelo circunspecto Prof. Rivail, em quem reconheceu, de imediato, um homem verdadeiramente superior, culto, polido e reto.

Em 6 de Fevereiro de 1832, firmava-se o contrato de casamento. Amélie Boudet, tinha nove anos mais que o Prof. Rivail, mas tal era a sua jovialidade física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido. Jamais essa diferença constituiu entrave à felicidade de ambos.

Pouco tempo depois de concluir seus estudos com Pestalozzi, no famoso castelo suíço de Zahringen (Yverdun), o Prof. Rivail fundara em Paris um Instituto Técnico, com orientação baseada nos métodos pestalozzianos. Madame Rivail associou-se ao esposo na afanosa tarefa educacional que ele vinha desempenhando no referido Instituto havia mais de um lustro.

Grandemente louvável era essa iniciativa humana e patriótica do Prof. Rivail, pois, não obstante as leis sucessivas decretadas após a Revolução Francesa em prol do ensino, a instrução pública vivia descurada do Governo, tanto que só em 1833, pela lei Guizot, é que oficial e definitivamente ficaria estabelecido o ensino primário na França.

Em 1835, o casal sofreu doloroso revés. Aquele estabelecimento de ensino foi obrigado a cerrar suas portas e a entrar em liquidação. Possuindo, porém, esposa altamente compreensiva, resignada e corajosa, fácil lhe foi sobrepor-se a esses infaustos acontecimentos. Amparando-se mutuamente, ambos se lançaram a maiores trabalhos. Durante o dia, enquanto Rivail se encarregava da contabilidade de casas comerciais, sua esposa colaborava de alguma forma na preparação dos cursos gratuitos que haviam organizado na própria residência, e que funcionaram de 1835 a 1840.

À noite, novamente juntos, não se davam a descanso justo e merecido, mas improdutivo. O problema da instrução às crianças e aos jovens tornara-se para Prof. Rivail, como o fora para seu mestre Pestalozzi, sempre digno da maior atenção. Por isso, até mesmo as horas da noite ele as dividia para diferentes misteres relacionados com aquele problema, recebendo em todos a cooperação talentosa e espontânea de sua esposa. Além de escrever novas obras de ensino, que, aliás, tiveram grande aceitação, o Prof. Rivail realizava traduções de obras clássicas, preparava para os cursos de Lévi-Alvarès, freqüentados por toda a juventude parisiense do bairro de São Germano, e se dedicava ainda, em dias certos da semana, juntamente com sua esposa, a professorar as matérias estatuídas para os já referidos cursos gratuitos.

“Aquele que encontrar uma mulher boa, encontrará o bem e achará gozo no Senhor” - disse Salomão. Amélie Boudet era dessas mulheres boas, nobres e puras, e que, despojadas das vaidades mundanas, descobrem no matrimônio missões nobilitantes a serem desempenhadas.

Nos cursos públicos de Matemáticas e Astronomia que o Prof. Rivail bi-semanalmente lecionou, de 1843 a 1848, e aos quais assistiram não só alunos, que também professores, no “Liceu Polimático” que fundou e dirigiu até 1850, não faltou em tempo algum o auxilio eficiente e constante de sua dedicada consorte.

Todas essas realizações e outras mais, a bem do povo, se originaram das palestras costumeiras entre os dois cônjuges, mas, como salientou a Condessa de Ségur, deve-se principalmente à mulher, as inspirações que os homens concretizam. No que toca à Madame Rivail, acreditamos que em muitas ocasiões, além de conselheira, foi ela a inspiradora de vários projetos que o marido pôs em execução. Aliás, é o que nos confirma o Sr. P. J. Leymarie ( que com ambos privara ) ao declarar que Kardec tinha em grande consideração as opiniões de sua esposa.

Graças principalmente às obras pedagógicas do professor Rivail, adotadas pela própria Universidade de França, e que tiveram sucessivas edições, ele e senhora alcançaram uma posição financeira satisfatória.

O nome Denizard Rivail tornou-se conhecido nos meios cultos e além do mais bastante respeitado. Estava aberto para ele o caminho da riqueza e da glória, no terreno da Pedagogia. Sobrar-lhe-ia, agora, mais tempo para dedicar-se à esposa, que na sua humildade e elevação de espírito jamais reclamara coisa alguma.

A ambos, porém, estava reservada uma missão, grandiosa pela sua importância universal, mas plena de exaustivos trabalhos e dolorosos espinhos.

O primeiro toque de chamada verificou-se em 1854, quando o Prof. Rivail foi atraído para os curiosos fenômenos das “mesas girantes”, então em voga no Mundo todo. Outros convites do Além se seguiram, e vemos, em meados de 1855, na casa da Família Baudin, o Prof. Rivail iniciar os seus primeiros estudos sérios sobre os citados fenômenos, entrevendo, ali, a chave do problema que durante milênios viveu na obscuridade.

Acompanhando o esposo nessas investigações, era de se ver a alegria emotiva com que ela tomava conhecimento dos fatos que descerravam para a Humanidade novos horizontes de felicidade. Após observações e experiências inúmeras, o professor Rivail pôs mãos à maravilhosa obra da Codificação, e é ainda de sua cara consorte, então com 60 anos, que ele recebe todo o apoio moral nesse cometimento. Tornou-se ela verdadeira secretária do esposo, secundando-o nos novos e bem mais árduos trabalhos que agora lhe tomavam todo o tempo, estimulando-o, incentivando-o no cumprimento de sua missão.

Sem dúvida, os espíritas, muito devemos a Amélie Boudet e estamos de acordo com o que acertadamente escreveu Samuel Smiles: os supremos atos da mulher geralmente permanecem ignorados, não saem à luz da admiração do mundo, porque são feitos na vida privada, longe dos olhos do público, pelo único amor do bem.

O nome de Madame Rivail enfileira-se assim, com muita justiça, entre os de inúmeras mulheres que a História registrou como dedicadas e fiéis colaboradoras dos seus esposos, sem as quais talvez eles não levassem a termo as suas missões. Tais foram, por exemplo, as valorosas esposas de Lavoisier, de Buckland, de Flaxman, de Huber, de Sir William Hamilton, de Stuart Mill, de Faraday, de Tom Hood, de Sir Napier, de Pestalozzi, de Lutero, e de tantos outros homens de gênio. A todas essas Grandes Mulheres, além daquelas muito esquecidas pela História, a Humanidade é devedora eterna!

Lançado O Livro dos Espíritos, da lavra de Allan Kardec, pseudônimo que tomou o Prof. Rivail, este, meses depois, a 1o. de Janeiro de 1858, com o apoio tão somente de sua esposa, deu a lume o primeiro número da “Revue Spirite”, periódico que alcançou mais de um século de existência grandemente benéfica ao Espiritismo.

Havia cerca de seis meses que na residência do casal Rivail, então situada à Rua dos Mártires n. 8, se efetuavam sessões bastante concorridas, exigindo da parte de Madame Rivail uma série de cuidados e atenções, que por vezes a deixavam extenuada. O local chegou a se tornar apertado para o elevado número de pessoas que ali compareciam, de sorte que em Abril de 1858 Allan Kardec fundava, fora do seu lar, a “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”. Mais uma obra de grave responsabilidade!

Tomar tais iniciativas naquela recuada época, em que o despotismo clerical ainda constituía uma força, não era tarefa para muitos. Havia necessidade de larga dose de devotamento, firmeza de vistas e verdadeiro espírito de sacrifício.

Ao casal Rivail é que coube, apesar de todos os escolhos e perigos que se lhe deparariam em a nova estrada, empreender, com a assistência e proteção do Alto, a maior revolução de idéias de que se teve notícia nos meados do século XIX.

Allan Kardec foi alvo do ódio, da injúria, da calúnia, da inveja, do ciúme e do despeito de inimigos gratuitos, que a todo custo queriam conservar a luz sob o alqueire.

Intrigas, traições, insultos, ingratidões, tudo de mal cercou o ilustre reformador, mas em todos os momentos de provas e dificuldades sempre encontrou, no terno afeto de sua nobre esposa, amparo e consolação, confirmando-se essas palavras de Simalen: “A mulher é a estrela de bonança nos temporais da vida.”

Com vasta correspondência epistolar, proveniente da França e de vários outros países, não fosse a ajuda de sua esposa nesse setor, sem dúvida não sobraria tempo para Allan Kardec se dedicar ao preparo dos livros da Codificação e de sua revista.

Uma série de viagens ( em 1860, 1861, 1862, 1864, etc, ) realizou Kardec, percorrendo mais de vinte cidades francesas, além de várias outras da Suíça e da Bélgica, em todas semeando as idéias espíritas. Sua veneranda consorte, sempre que suas forças lhe permitiam, acompanhou-o em muitas dessas viagens, cujas despesas, cumpre informar, corriam por conta do próprio casal. Parafraseando o escritor Carlyle, poder-se-ia dizer que Madame Allan Kardec, pelo espaço de quase quarenta anos, foi a companheira amante e fiel do seu marido, e com seus atos e suas palavras sempre o ajudou em tudo quanto ele empreendeu de digno e de bom.

Aos 31 de Março de 1869, com 65 anos de idade, desencarnava, subitamente, Allan Kardec, quando ultimava os preparativos para a mudança de residência. Foi uma perda irreparável para o mundo espiritista, lançando em consternação a todos quantos o amaram. Madame Allan Kardec, quer partilhara com admirável resignação as desilusões e os infortúnios do esposo, agora, com os cabelos nevados pelos seus 74 anos de existência e a alma sublimada pelos ensinos dos Espíritos do Senhor, suportaria qualquer realidade mais dura. Ante a partida do querido companheiro para a Espiritualidade, portou-se como verdadeira espírita, cheia de fé e estoicismo, conquanto, como é natural, abalada no profundo do ser.

No cemitério de Montmartre, onde, com simplicidade, aos 2 de Abril se realizou o sepultamento dos despojos do mestre, comparecia uma multidão de mais de mil pessoas. Discursaram diversos oradores, discípulos dedicados de Kardec, e por último o Sr. E. Muller, que logo no princípio do seu elogio fúnebre ao querido extinto assim se expressou: “Falo em nome de sua viúva, da qual lhe foi companheira fiel e ditosa durante trinta e sete anos de felicidade sem nuvens nem desgostos, daquela que lhe compartiu as crenças e os trabalhos, as vicissitudes e as alegrias, e que se orgulhava da pureza dos costumes, da honestidade absoluta e do desinteresse sublime do esposo; hoje, sozinha, é ela quem nos dá a todos o exemplo de coragem, de tolerância, do perdão das injúrias e do dever escrupulosamente cumprido.”

Madame Allan Kardec recebeu da França e do estrangeiro, numerosas e efusivas manifestações de simpatia e encorajamento, o que lhe trouxe novas forças para o prosseguimento da obra do seu amado esposo.

Desejando os espiritistas franceses perpetuar num monumento o seu testemunho de profundo reconhecimento à memória do inesquecível mestre, consultaram nesse sentido a viúva, que, sensibilizada com aqueles desejos humanos mas sinceros, anuiu, encarregando desde logo uma comissão para tomar as necessárias providências. Obedecendo a um desenho do Sr. Sebille, foi então levantado no cemitério do Père-Lachaise um dólmen, constituído de três pedras de granito puro, em posição vertical, sobre as quais se colocou uma quarta pedra, tabular, ligeiramente inclinada, e pesando seis toneladas. No interior deste dólmen, sobre uma coluna também de pedra, fixou-se um busto, em bronze, de Kardec.

Esta nova morada dos despojos mortais do Codificador foi inaugurada em 31 de Março de 1870 , e nessa ocasião o Sr. Levent, vice-presidente da “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, discursou, a pedido de Madame Allan Kardec, em nome dela e dos amigos.

Cerca de dois meses após o decesso do excelso missionário de Lyon, sua esposa, no desejo louvável de contribuir para a realização dos plano futuros que ele tivera em mente, e de cujas obras, revista e Livraria passou a ser a única proprietária legal, houve por bem, no interesse da Doutrina, conceder todos os anos certa verba para uma “Caixa Geral do Espiritismo”, cujos fundos seriam aplicados na aquisição de propriedades, a fim de que pudessem ser remediadas quaisquer eventualidades futuras.

Outras sábias decisões foram por ela tomadas no sentido de salvaguardar a propaganda do Espiritismo, sendo, por isso, bastante apreciado pelos espíritas de todo o Mundo o seu nobre desinteresse e devotamento.

Apesar de sua avançada idade, Madame Allan Kardec demonstrava um espírito de trabalho fora do comum, fazendo questão de tudo gerir pessoalmente, cuidando de assuntos diversos, que demandariam várias cabeças. Além de comparecer à reuniões, para as quais era convidada, todos os anos presidia à belíssima sessão em que se comemorava o Dia dos Mortos, e na qual, após vários oradores mostrarem o que em verdade significa a morte à luz do Espiritismo, expressivas comunicações de Espíritos Superiores eram recebidas por diversos médiuns.

Se Madame Allan Kardec – conforme se lê em Revue Spirite de 1869 – se entregasse ao seu interesse pessoal, deixando que as coisas andassem por si mesmas e sem preocupação de sua parte, ela facilmente poderia assegurar tranqüilidade e repouso à sua velhice. Mas, colocando-se num ponto de vista superior, e guiada, além disso, pela certeza de que Allan Kardec com ela contava para prosseguir, no rumo já traçado, a obra moralizadora que lhe foi objeto de toda a solicitude durante os últimos anos de vida, Madame Allan Kardec não hesitou um só instante. Profundamente convencida da verdade dos ensinos espíritas, ela buscou garantir a vitalidade do Espiritismo no futuro, e, conforme ela mesma o disse, melhor não saberia aplicar o tempo que ainda lhe restava na Terra, antes de reunir-se ao esposo.

Esforçando-se por concretizar os planos expostos por Allan Kardec em “Revue Spirite” de 1868, ela conseguiu, depois de cuidadosos estudos feitos conjuntamente com alguns dos velhos discípulos de Kardec, fundar a “Sociedade Anônima do Espiritismo”.

Destinada à vulgarização do Espiritismo por todos os meios permitidos pelas leis, a referida sociedade tinha, contudo, como fito principal, a continuação da “Revue Spirite”, a publicação das obras de Kardec e bem assim de todos os livros que tratassem do Espiritismo.

Graças, pois, à visão, ao empenho, ao devotamento sem limites de Madame Allan Kardec, o Espiritismo cresceu a passos de gigante, não só na França, que também no Mundo todo.

Estafantes eram os afazeres dessa admirável mulher, cuja idade já lhe exigia repouso físico e sossego de espírito. Bem cedo, entretanto, os Céus a socorreram. O Sr. P. G. Leymarie, um dos mais fervorosos discípulos de Kardec desde 1858, médium, homem honesto e trabalhador incansável, assumiu em 1871 a gerência da Revue Spirite e da Livraria, e logo depois, com a renúncia dos companheiros de administração da sociedade anônima, sozinho tomou sob os ombros os pesados encargos da direção. Daí por diante, foi ele o braço direito de Madame Allan Kardec, sempre acatando com respeito as instruções emanadas da venerável anciã, permitindo que ela terminasse seus dias em paz e confiante no progresso contínuo do Espiritismo.

Parecendo muito comercial, aos olhos de alguns espíritas puritanos, o título dado à Sociedade, Madame Allan Kardec, que também nunca simpatizara com esse título, mas que o aceitara por causa de certas conveniências, resolveu, na assembléia geral de 18 de Outubro de 1873, dar-lhe novo nome: “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, satisfazendo com isso a gregos e troianos.

Muito ainda fez essa extraordinária mulher a prol do Espiritismo e de todos quantos lhe pediam um conselho ou uma palavra de consolo, até que em 21 de Janeiro de 1883, às 5 horas da madrugada, docemente, com rara lucidez der espírito, com aquele mesmo gracioso e meigo sorriso que sempre lhe brincava nos lábios, desatou-se dos últimos laços que a prendiam à matéria.

A querida velhinha tinha então 87 anos, e nessa idade, contam os que a conheceram, ainda lia sem precisar de óculos e escrevia ao mesmo tempo corretamente e com letra firme.

Aplicando-lhe as expressões de célebre escritor, pode-se dizer, sem nenhum excesso, que “sua existência inteira foi um poema cheio de coragem, perseverança, caridade e sabedoria”.

Compreensível, pois, era a consternação que atingiu a família espírita em todos os quadrantes do globo. De acordo com o seus próprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi simples e espiriticamente realizado, saindo o féretro de sua residência, na Avenida e Vila Ségur n. 39, para o Père-Lachaise, a 12 quilômetros de distância.

Grande multidão, composta de pessoas humildes e de destaque, compareceu em 23 de Janeiro às exéquias junto ao dólmen de Kardec, onde os despojos da velhinha foram inumados e onde todos os anos, até à sua desencarnação, ela compareceu às solenidades de 31 de março.

Na coluna que suporta o busto do Codificador foram depois gravados, à esquerda, esses dizeres em letras maiúsculas: AMÈLIE GABRIELLE BOUDET – VEUVE ALLAN KARDEC – 21 NOVEMBRE 1795 – 21 JANVIER 1883.

No ato do sepultamento falaram os Srs. P.G. Leymarie, em nome de todos os espíritas e da “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, Charles Fauvety, ilustre escritor e presidente da “Sociedade Científica de Estudos Psicológicos”, e bem assim representantes de outras Instituições e amigos, como Gabriel Delanne, Cot, Carrier, J. Camille Chaigneau, poeta e escritor, Lecoq, Georges Cochet, Louis Vignon, que dedicou delicados versos à querida extinta, o Dr. Josset e a distinta escritora, a Sra. Sofia Rosen-Dufaure, todos fazendo sobressair os reais méritos daquela digna sucessora de Kardec. Por fim, com uma prece feita pelo Sr. Warroquier, os presentes se dispersaram em silêncio.

A nota mais tocante daquelas homenagens póstumas foi dada pelo Sr. Lecoq. Leu ele, para alegria de todos, bela comunicação mediúnica de Antonio de Pádua, recebida em 22 de Janeiro, na qual esse iluminado Espírito descrevia a brilhante recepção com que elevados Amigos do Espaço, juntamente com Allan Kardec, acolheram aquele ser bem aventurado.

No improviso do Sr. P.G. Leymarie, este relembrou, em traços rápidos, algo da vida operosa da veneranda extinta, da sua nobreza d'alma, afirmando, entre outras coisas, que a publicação tanto de O Livro dos Espíritos, quanto da Revue Spirite, se deveu em grande parte à firmeza de ânimo, à insistência, à perseverança de Madame Allan Kardec.

Não deixando herdeiros diretos, pois que não teve filhos, por testamento fez ela sua legatária universal a “Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”. Embora uma parenta sua, já bem idosa, e os filhos desta intentassem anular essas disposições testamentárias, alegando que ela não estava em perfeito juízo, nada, entretanto, conseguiram, pois as provas em contrário foram esmagadoras.

Em 26 de Janeiro de 1883, o conceituado médium parisiense Sr. E. Cordurié recebia espontaneamente uma mensagem assinada pelo Espírito de Madame Allan Kardec, logo seguida de outra, da autoria de seu esposo. Singelas na forma, belas nos conceitos, tinham ainda um sopro de imortalidade e comprovavam que a vida continua...