segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Abraçar a causa

Tem horas que estou para crescer, é como se fosse mudar de degrau. Nestas horas consigo ter uma percepção nova das coisas, que antes não tinha, mas na hora de uma mudança, começo a ter.

Isso significa que um grande orador pode ajudar muitas pessoas, mas ele vai servir de exemplo a poucos, geralmente aos que estão para mudar. É o tal, quem tem olhos para ouvir que ouça, quem tem olhos para ver que veja.

É isso que percebi observando um colega de centro. Ele se entregou, abraçou sua causa, sua própria cruz. Ele se perguntou; depois de saber de tudo isso, por que não abraçar? E assim ele atravessou uma linha quem ninguém tem muita coragem de transpor, pois a partir dela, é o Cristo que existirá em nós.

Já tive exemplos de pessoas que atravessaram esta linha e eram nítidas suas virtudes, sua elevação, envergadura moral e força realizadora. Mas eu me via muito distante. E por que agora não me sinto mais assim?

Desde há muito que me coloco à disposição dos outros. Mas eu sei que falta algo, algo que me deixe calmo, que diminua esta ansiedade.

Em 2008 eu optei por uma estabilidade que tem me feito muito bem. Eu ainda dou trabalho, mas estou muito mais tranqüilo e previsível que antes. Mas mesmo assim eu estou entrando neste relacionamento de uma maneira que nunca fiz, não há plano B, não estou entrando para ver onde isso vai dar, mas estou indo com uma grande vontade: eu quero que dê certo! parece meio óbvio, mas pode ser que antes, com os meus dois casamentos anteriores, por mais que eu tenha insistentemente lutado, lá no fundo eu não sabia se eu queria que desse certo. Depois de tanto lutar e dar murros em ponta de faca, sobrava mágoa de mim para elas.

Depois de enfrentar uma doce chuva forte e intensa, que lavou todo e qualquer limite de minha parte, que me destravou e me impulsionou, este relacionamento está indo para um rumo de alegria e amor. Com isso, vivo um novo viver. Um viver sem dúvida, um viver livre. Um viver de se planejar e de buscar novos rumos, de batalhar avanços.

Com isso tudo, sobra espaço para pensar em cruzar a linha. Desta vez eu irei sozinho, apesar de ter a minha companheira de vida. Não preciso pedir licença para ninguém, é uma coisa interna, uma vontade de viver uma coisa nova e me entregar.

Estevão nos deu o grande exemplo e seu pensamento subiu ao alto junto do Mestre. Estevão trazia as idéias de Jesus para a enfermaria da casa do caminho. Hoje eu estava lá, na enfermaria, olhando para o Estevão e pensava, se ele cruzou, vou cruzar também.

Hoje pude falar com uma das mais doces amigas que já tive. Sempre que nos encontramos é uma festa, sempre conversamos muito, trocamos confidências. Realmente o quanto vale uma amizade de verdade? E olha que é uma amizade de 23 anos. Naquele tempo ela era já uma pessoa boníssima, que me comovia o meu já distinto coração. Tão boa pessoa que diziam ter problemas... Este realmente é um mundo duro. Mas 23 anos depois e ela hoje é igual antes, não deixou de ter uma pureza interna incomum. Cresceu e se tornou uma excelente mãe, esposa, profissional, amiga, filha, irmã... Sem precisar renunciar às suas virtudes ela venceu.

A vida lhe pregou uma grande peça. Sua filha, que tinha um pouco mais de meses a mais que a minha, faleceu vítima de um súbito aneurisma. Ela vem se levantando, vem se erguendo, e com isso ela está levantando a todos os seus amigos com o seu exemplo. A força da sua fé, as chamas do seu coração sincero e corajoso estão tocando a todos àqueles que a rodeiam. E ela ainda diz novamente, 2 meses após perder a filha: quero ser mãe de novo!

O irmão do centro hoje, que me entrevistou, atravessou a linha. A minha amiga, sem perceber, também atravessou ou já chegou aqui do outro lado.

Ontem eu pedi o pão velho, e olhem, veio hoje a mim o pão quentinho. Hoje não deixo a eles uma rosa branca, mas um lírio branco, para que sua beleza possa durar muito.

Vivenciar isso faz parte de cruzar a linha?

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