"Tudo que já fiz foi por vaidade. Jesus foi traído com um beijo, Davi teve um grande amigo. Não sei mais se é só questão de sorte..." (Renato Russo, L'Âge D'Or)
Vendo a valentia e nobreza das equipes de resgate que atuam na tragédia do Rio de Janeiro, penso com meus botões: o que eu já fiz de bom aos outros sempre teve como um joio a vaidade. O trigo cresce e tem o momento em que o colhemos e o joio se separa naturalmente, enfraquecido e débil, deixando o trigo limpo para se transformar em pão.
No momento não vejo que meu trigo esteja com esta bola toda e ainda vejo, todos os dias, o incômodo da vaidade em minhas atitudes, pensamentos e sentimentos.
Não sinto a menor vaidade quando faço algo por minha filha. Faço por amor, bendita partenidade.
Mas no centro, no trabalho, no dia a dia, sempre estou defendendo meu ego, monitorando o que os outros podem estar pensando de mim.
Hoje recebi um presente de Deus. Me senti protagonista de uma história bonita de livros espíritas sérios. Fui ajudado ao cuidar das meninas, fui conduzido num bom roteiro até chegar na casa de uma grande e antiga amiga minha, que tem uma filha com quase a idade das duas. Um momento muito doce, que pudemos compartilhar, um pão que era dividido e multiplicado... Além disso, antes, pela manhã um doce momento com o meu querido sobrinho e minha filha brincando na piscina. Coisa doce da vida.
Hoje foi o dia de comer um pouco de trigo que tenho plantado. Já plantei muita vaidade por aí e tenho colhido os resultados amargos desta má semeadura. Toda minha vaidade vem de uma grande insegurança, um receio de ser descoberto pelo próximo. Além disso, por medo de perder o amor dos outros, coloco o mesmo outro numa posição de algoz - que é desnecessária - e faço isso pois preciso defender o meu ego e preciso identificar logo o inimigo.
O trabalho do orfanato, a mocidade, os trabalhos de obsessão... todos eles tinham este fator. Porém, em alguns momentos eu pude sentir que o plano espiritual me usava mesmo assim. O trabalho diário, conjuntamente com o evangelho no lar, me mostraram sempre que preciso lembrar qual é a minha missão aqui e para onde estou indo.
Este próprio blog é fruto de minha vaidade. A minha vaidade me impulsionou. Mas para se fazer um blog deste, não basta vaidade, teremos que buscar virtudes verdadeiras. Como tudo na vida, vejo que a vaidade vai se desfazendo e se apresenta a humildade.
Outro dia um fato mexeu com minha vaidade e virei um tubarão feroz. Maus pensamentos me atormentaram e por conta de me sentir mal, logo já estava em prece. Mas este logo durou alguns dias. Dias. Se eu morresse, umbral na certa.
Digo que estou despertando. Vou tirar esta ameaça que coloco no outro, uma ameaça contra mim mesmo, que eu mesmo planto. Vou colocar o meu próximo como um pedinte que precisa de água, tanto como eu. Me coloco no lugar do outro. Coloco o outro no meu lugar.
Assumir este sentimento de vaidade me deixa mais fortalecido, menos receoso de tê-lo. Sinto algo limpando em mim, mas ao mesmo tempo, vejo uma lanterna acesa em meu lado negro. Este lado que não posso menosprezar no dia a dia do "ôba, ôba, que as coisas vão dar certo". Mas vendo este meu lado vejo que o problema não está tão longe do meu alcance, não tão intransponível assim.
Dá vontade de arriscar e fugir deste meu vício da vaidade.
Quem teria sido David sem seu grande amigo? O que teria sido do evangelho de Jesus, sem o beijos de Judas?
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