quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Chuvas e inundações

Nestes tempos de chuvas vemos a mesma história se repetir: a imprensa relata as chuvas e suas inundações somente como responsabilidade do poder público. Todo mundo metendo o pau nos governantes, cobrando a eles por soluções.

Sinto dizer que estão todos errados. Eu sinto muito, mas se você quiser saber a verdade leia abaixo.


CAPITULO I - A CHUVA
Primeiro gostaria de esclarecer uma coisa: está chovendo mais, ou seja, estou falando da chuva, do momento em que a água sai de uma nuvem até atingir o solo. Com isso temos:
- Uma chuva que só caía de 15 em 15 anos, agora cai todos os anos. Uma chuva que só caía a cada 25 anos, caí a cada 5 anos.
- As chuvas estão com maior intensidade (milímetros de chuva por minuto).
- As chuvas atuais atingem o seu máximo de intensidade muito rapidamente.
- Um volume que caía durante 4 horas, agora cai em uma hora.

O que está acontecendo: a hidrologia diagnosticou no início dos anos 90 que a equação de chuvas da cidade de São Paulo (assim como outras) estava mudando. Estas mudanças seguem e seguirão. Ou seja, vai chover mais forte, mais rápido e com mais recorrência nos próximos anos. Independente do que ocorre depois que a chuva atinge o solo, do alto para baixo a coisa vai complicar.

Adianta colocar culpa no prefeito e no governador? Não.

Se fosse furacão e terremotos nós estaríamos muito satisfeitos em perceber que trata-se de uma catástrofe e logo nos uniríamos em prol do bem comum, nos uniríamos para suportar tal expiação. Mas no nosso caso, que também é catastrófico, também é expiação, nós enxergamos apenas as coisas como uma simples chuva. A chuva é de Deus, a chuva é da minha infância, a chuva é coisa boa, rega as plantinhas. Pois é, isso era o Brasil antigo, deitado em berço esplêndido. Nada atingia o Brasil, não tínhamos terremotos ou furacões. Aqui nenhum desastre natural acontecia. Mas agora acontece. Bem vindos às chuvas torrenciais e alterações no clima.

Merecemos isso? Não cai um fio de cabelo de nossa cabeça sem a permissão de Deus.

O que faremos: ou cobramos os governantes ou encaramos os fatos (que agora temos nossas catástrofes) e busquemos reais soluções. Nossas ruas foram dimensionadas para chuvas de 5 a 15 anos, mas agora estas chuvas ocorrem a cada 1 ou 3 anos. E as chuvas que caiam a cada 50 anos, ocorrem a cada 10 anos.

Qualquer obra de engenharia civil é dimensionada para aguentar uma certa capacidade de chuvas, dependendo do seu valor, quanto mais valiosa, maior a chuva ela deva aguentar. Exemplo: uma rua pode ser chuva de 5 anos. Uma avenida, 15 anos. Uma estrada, 25 anos. Uma rodovia, 50 anos. Um porto, 100 anos. Uma grande hidrelétrica é 10 mil anos (deca milenar).

O problema é que uma chuva de 15 anos dos anos 70 está ocorrendo agora de 2 em 2 anos. O que antes suportava bem, hoje não suporta mais. Lembrar que estamos ainda falando de quando a água sai das nuvens e ainda não chegou ao solo.

Esta é a nossa realidade, querendo ou não. O Brasil hoje tem suas calamidades que se repetirão e temos que tomar atitudes. Não atitudes rasteiras de cobrar os outros, mas subir um pouco mais o nível, compreendendo mais o que vamos enfrentar e buscando soluções mais avançadas do que a nossa simplória ciranda político-eleitoreira. Como verão mais para frente, a solução está em nós, em cada cidadão. E para isso teremos que nos unir e realizar algumas mudanças que vão gerar de todos muita renúncia.

CAPITULO II - DEPOIS QUE A CHUVA CAI NO CHÃO
Se chovesse como nos anos 70, a solução seria mais simples, bastava que tivéssemos as margens dos rios preservadas (com faixas de 30 a 100 metros para cada lado), além do plantio de grama em toda a cidade, construção de piscinões, permeabilidade dos terrenos, plantio de arvores em todos os quarteirões. Além de, claro, limpeza total da cidade, de todos os equipamentos de drenagem. E põe etc nisso.

Isso era a solução fácil, que exigirá de nós muita inteligência, esforço, empenho, constância, disciplina e muita muita UNIÃO. Ou seja, temos que fazer estas pequenas ações acima, pois são nossa lição de casa básica.

Mas com o que vimos no capitulo I acima mostra que devemos ir além do básico. Vai chover cada vez mais forte e com chuva forte não se brinca, ela é muito poderosa, leva embora tudo o que vê pela frente.

Olhe o tipo de intervenção urbana que viveremos nos próximos 50 anos:
- Redução do leito carroçável para aumentarmos as calçadas e estas recebem faixas de grama para termos mais impermeabilização.
- Quase 100% das pessoas se deslocará por transporte público, que será muito mais eficiente.
- As casas terão quintais permeáveis, assim como as caixas de retenção de águas de chuvas (piscininhas, já existe em lei).
- Teremos que plantar árvores em toda a cidade, para que elas retenham parte das chuvas e retarde um pouco o tempo de chegada da água ao rio.
- Bairros ou quarteirões inteiros serão removidos para preservar margens de rios e represas, para criar novos piscinões, ou para criar novas áreas verdes e novos parques.
- Como já dissemos, carro serão raros, teremos muitos calçadões e jardins por toda a cidade. Todos o máximo possível permeáveis.
- Não usaremos mais o plástico como lixo, será abolido o seu descarte e será 100% reciclado.
- Elimninação das avendas marginais aos rios, como Pinheiros, Tietê, Tamanduateí etc. Serão parques verdes lineares.

Isso terá que ser implantado ao longo dos anos, com esforço e empenho, comprometimento de todos.

Estamos prontos para renunciar e viver assim? Ou é mais fácil mesmo cobrar os políticos. Depois de prontas estas intervenções urbanas, vocês não acham que viver na cidade de São Paulo será um prazer, uma cidade limpa, ecológica, verde....?

CAPÍTULO III - CONCLUSÃO

Estamos passando um momento de expiação e nos é colocada a prova de nos unirmos. Devemos nos preparar para enfrentar estas situações todos os anos, cada vez mais graves. Devemos subir o debate político, lutar por leis melhores, pela vida, pelo caminho correto. Parar de dar murros em ponta de faca.

Espero ter esclarecido algo. Mão à obra?

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